terça-feira, 2 de abril de 2013

O EPÍLOGO DE UM CRÁPULA-HONESTO...




Curioso fim teve o procurador geral da minúscula e desconhecida localidade de Tribunas, o Dr. Roberval Quintiliano-das-Vênias, algo que poderíamos chamar de ‘O epílogo de um crápula-honesto’, manchete que de fato circulou pelas esquinas da cidade no dia seguinte ao ocorrido. Crápula, explicamos, porque ele, o Dr. Roberval Quintiliano-das-Vênias, o procurador geral da minúscula e desconhecida localidade de Tribunas, andava rigorosamente nas alamedas da lei – coisa de uma desonestidade atroz -, e honesto, completamos, porque sabia, o mesmo Dr. Roberval, que todos os seus clientes formavam a pior matilha de crápulas já vista não somente na minúscula e desprezível Tribunas, mas também por toda a superfície respirável e irrespirável dessa crosta terrestre. Eram famosos, diziam, os discursos inflamados do procurador geral da ínfima e descartável localidade de Tribunas, não existia um só corpo de jurados que não se convencesse dos argumentos do magistrado, havendo por fim a soltura de qualquer desgraçado assassino que sentasse suas nádegas declaradamente culpadas no banco dos réus. Quem desejasse assaltar um banco, estuprar uma virgem pura, desviar verbas de obras públicas, enfim, quem estivesse a fim de cometer os mais bárbaros crimes, delitos e atos infracionais, deveria, antes, consultar a agenda do Dr. Roberval Quintiliano-das-Vênias, o procurador geral da pacata e destemperada localidade de Tribunas, para ver se o eminente advogado, estando livre, e depois do ato consumado, pudesse libertá-los das agruras da penitenciária, recorrendo, como sempre procedia, às epístolas morais redigidas pela lei de direito maior. Ocorreu, no entanto, certa vez e inesperadamente, diga-se, que um pobre diabo inocente de tudo, o Sr. José Galindo-Lazarento, fosse preso, acusado de roubar uma galinha do vizinho – ela própria, a galinha em questão, uma desgraçada sem penas, já próxima do ocaso de seus dias, e só dizemos isso porque seria no mínimo curioso o Sr. José Galindo-Lazarento optar por surrupiar a Glória – esse era o nome da galinha vítima do suposto sequestro, haja vista que havia outras bem mais polpudas, nada raquíticas e despenadas, que bem serviriam para uma refeição mais digna, caso, claro, tenhamos como hipótese o hipotético roubo para fins estomacais, imaginando ainda que a Glória tivesse sido de fato subtraída, e ainda sob as garras do pobre diabo inocente de tudo, o Sr. José Galindo-Lazarento . O que se sabe é que o caso foi parar, coisa que nunca se soube como, nas mãos habilidosas do Dr. Roberval Quintiliano-das-Vênias, o procurador geral da desértica e insalubre localidade de Tribunas. Indignado com tamanha pureza do seu mais novo cliente, o eminente magistrado, acostumado com a complexidade das escuras psicologias dos seus réus assassinos, não soube como proceder, já que não havia como suspeitar que o pobre diabo tivesse alguma culpa no cartório. No dia do julgamento, com o tribunal lotado de espectadores para acompanhar mais uma ilustre performance do Dr. Das-Vênias, o referido advogado, acometido por depressões profundas, subiu ao púlpito de defesa - ao lado da estátua da senhora cega, portadora da balança da justiça -, e num gesto teatral despejou cicuta num copo d’água e se matou, não sem antes declarar: ‘Não há pecado maior nessa vida do que ser inocente! A culpa é desse homem (apontando para o Sr. José Galindo-Lazarento)’.

Uma estátua foi erguida em homenagem ao Dr. Roberval Quintiliano-das-Vênias, ex-procurador geral da minúscula e desconhecida localidade de Tribunas, visitada frequentemente por todo tipo de romeiros, defensores dos direitos humanos.

Está marcada para a tarde de hoje a execução do Sr. José Galindo-Lazarento , condenado à forca... sem direito a apelação.

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