quinta-feira, 31 de maio de 2012

$$$ is good! very, very good!



Tenho uma teoria! O que estraga o mundo é a propaganda. Sem essa maldita coisa chamada propaganda o mundo seria melhor. Ah seria! Nada mais emburrecedor do que um slogan publicitário. Depois das dez pragas do Egito, Deus nos castigou com uma enxurrada de anúncios comerciais. A propaganda é a décima primeira e a mais potente das pragas. A praga moderna. E o publicitário? O próprio demônio vestido de assistente social. Sim, porque o publicitário se acha sempre um marqueteiro do bem, sempre a serviço das causas urgentes e mais nobres da sociedade e do indivíduo! Imagine você, pobre consumidor endinheirado, permanecer ignorante frente ao último lançamento do mercado? Justamente esse lançamento que irá tornar a sua vida muito mais fácil, confortável e divertida! Ahãn, conta outra! O publicitário faz de tudo para etiquetar a própria mãe, podem reparar. Tudo por um troquinho e por um cantinho de fama na nossa tão disputada rotina diária. Odeio propaganda e odeio os publicitários. Tem até gente que chama esse talento para criar bobagens de arte... a arte de inventar mil e uma desculpas para justificar a extorsão de $$$ da sua carteira. Propaganda é a maior das pragas, sem dúvidas. Antes enfrentar um exército de gafanhotos armados até os dentes que ser bombardeado por essa parafernália dos impulsos nervosos. Lembram-se da polêmica dos outdoors? Queriam limpar a cidade dessa sujeirada inútil e lá saíram os publicitários em defesa da importância do anúncio como canal de informação ao consumidor. Foi só colocar tudo abaixo pra ter certeza de que não há lixo mais fedorento e poluidor que a propaganda. O que dizer, então, dos cursos superiores de propaganda? Juro que nunca testemunhei maior concentração de patricinhas e mauricinhos, todos ávidos por discutir com o professor, normalmente um mestre do faz-de-conta, a última tendência da moda outono-inverno... mas nunca deixam de estudar os filósofos da Escola de Frankfurt, afinal, um produto nunca é um produto, há sempre um conceito por trás, e quanto mais conceitual, mais chique e inteligente! Ah... vá lamber sabão! Ou melhor, vá lamber sabonete Dove (90% de creme hidratante!). A propaganda estraga o mundo. O publicitário é o personagem do nosso tempo: um ambulante da 25 de Março que se faz de erudito. Prefiro um camelô do Brás, é mais sincero e humilde. Tô há tempos tentando bolar um jingle divertido para terminar esse meu texto, mas não consigo! Publicitários de plantão! Ajudem-me!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O que um rabo faz...



O que destaca o cachorro do resto da humanidade é o rabo. O rabo não mente, é transparente como o cristal. Se o bicho está feliz, lá vem o rabo denunciar o estado de espírito, se está triste, não é o focinho o arauto da melancolia, mas o rabo. Com o rabo não tem trapaças, as coisas são o que são. Por isso que o cachorro nunca é pego na máquina detectora de mentiras. Quem tem rabo não mente. O cachorro nunca mente. Não confio em cachorro sem rabo, muito menos em dono de cachorro que corta o rabo do bicho, é uma violência atroz a dignidade animal, praticamente uma tentativa indiscriminada de humanizar o pobre coitado. Cão sem rabo fica mais próximo do homem, que tem por princípio carregar dentro de si um homo-hipócritas. O homem mente. Se tivesse rabo não mentiria, ou melhor, seria pego pelo próprio mecanismo denunciante da falcatrua: o rabo entre as pernas. Imagine o Cachoeira de rabo... não haveria nenhuma necessidade de CPI, o cidadão iria direto para a cadeia e com o rabo entre as pernas. Seria o fim da justiça, dos juízes, dos advogados, daqueles senhores que vivem com capa preta nas costas desferindo palavras de português na sua norma culta. Com o rabo não tem mulher nenhuma com os olhos vendados, segurando uma balança. Tudo se desvenda na presença de um rabo. O rabo não é instruído, não precisa de instrução. O rabo é a maior vantagem evolutiva do cão em relação a nós. O homem só é amigo do cachorro por um profundo sentimento de inveja, isso porque sabe que nunca poderá ter um rabo acoplado no meio do fiofó. Só um rabo já seria suficiente para tirar o homem da sua miséria, mas quis a providência divina que o cão tivesse rabo, não o homem. Ai ai... que saudades dos meus cães.

terça-feira, 29 de maio de 2012

As excursões da vida...


Não acredito em excursões. A maneira mais eficiente para não se conhecer nada é pagando para seguir um guia com uma bandeirinha flamejante. E o pior de tudo: o guia é sempre simpático. Odeio simpatia comprada. Sempre é falsa e hipócrita. Por isso que gosto dos emburrados - cara feia é sempre genuína. Mesmo que não venda souvenirs, prefiro cara emburrada. A propósito, odeio souvenirs. Se eu fosse gerente da CVC, exigiria curso superior de mal-humor dos meus funcionários. O tédio mortal da vida é que todos querem entrar num ônibus de excursão para jogar batata-quente com o guia simpático e depois abrir o pacotinho de lanche mirabel. É mais fácil roncar na cadeira estofada do coletivo enquanto a paisagem passa pela janela, assim como dói menos estampar um sorriso de pacote-turístico diante das ruínas históricas. Pior são aqueles que querem se formar na profissão de guias-simpáticos. A grande maioria quer ganhar a vida na profissão da simpatia. A maioria é burra, já dizia o mestre. Burra e feliz. Odeio simpatia e odeio guias. Os inteligentes e interessantes são sempre obtusos, podem reparar - só são simpáticos quando querem tirar sarro dos outros e da vida, e são nessas ocasiões que se tornam altamente atraentes. Os guias-simpáticos não, são simpáticos por burrice. Todos os burros são simpáticos, notem. As antas tem uma cara de quem acabou de rir de uma piada, por isso que são antas. Se a anta fosse séria não teria cara de anta. Anta que é anta não deixa mentir: é uma verdadeira anta. Excursão sempre é barulhenta, toda felicidade comprada é barulhenta e repleta de gargantas tagarelas. Prefiro o silêncio, o humor inteligente não precisa de alto falante, morre calado. Odeio alto falante e odeio microfone. Reparem, toda gente sem graça precisa se fazer ouvir, senão morre na própria mediocridade falida. E como o mundo é quase sempre solidário com a chatice, nunca faltam orelhas atentas. Ai ai... que preguiça. Se nevasse tudo seria diferente. Esse Cassino do Chacrinha jamais existiria na neve. Acho que vou viajar para a neve na próxima oportunidade... em silêncio e sem guias-simpáticos! 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

London Fog



Olha, não sou patriota. Brasil? Só na copa e nas olimpíadas, ou quando estou no estrangeiro - aí sim vale a pena estufar o peito canarinho. Fora isso, neca de pitibiriba! Não faço a menor ideia de como cantar o hino, só sei que tem alguma coisa de 'mãe gentil' no meio. Aliás, sou anti-patriota, um xenófobo ao contrário, praticamente um talibã argentino infiltrado em terras tropicais. Ainda visto uma burca e subo o corcovado enrolado numa cinta de dinamites e peço pra aquele senhor de pedra-sabão fechar os braços, porque benção nenhuma tá adiantando (Roberto Carlos que não me ouça). Se não quiser me obedecer: booom. Se nevasse seria outra coisa, com neve tudo se conserta - veja uma foca, é um bicho instruído, educado e sensível... o que dizer então do pinguim imperador? Veste fraque e tudo. Com neve tudo se congela, inclusive o rebolado do Michel Teló, o bate-cabelo da Joelma do Calypso... até cachoeira congela. Eu sou da neve, tomo chá às 17hs todo dia. Aliás, sou inglês, tenho certeza disso - a cegonha me derrubou depois de um espirro imprevisto no meio do caminho, estava indo pra Londres. Jogaria fácil uma partida de xadrez com a rainha... depois sairia atrás de uma raposa peluda com minha matilha de beagles. E aqui estou eu, no fog de carburador, cheirando o Tâmisa do Cebolão. Mas uma coisa salva, uma coisa me torna patriota até a raiz dos cabelos que ainda me restam: Machado de Assis. Machadão é genial, tão genial que deveria ser proibido, proibido para poder ser lido, não obrigatório para ser decorado, como acontece nas academias e escolas por esse rincão afora. Acho que Machado era inglês como eu ('Assis Axe', tradução do bruxo para o inglês) - veio de mulato carioca só pra fazer um exercício antropológico, depois voltou para Windsor, onde até hoje toma chá com Oscar Wilde e Shakespeare. Enfim, ai ai, que preguiça... que calor!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O mimimi da Xuxinha...



O diagnóstico do nosso tempo é o da crise gigantesca da carência afetiva levada ao palanque da praça pública. Tornamo-nos idiotas-sentimentais, crendo que o espaço comunitário deveria ter por obrigação sanar nossos complexos-psicóticos. Incapazes de lidar com a solidão, com o silêncio e com as angústias inerentes a própria aventura da vida, recorremos ao outro na esperança de que ele nos livre de qualquer tormento aflitivo. Babacas-emotivos que acreditam na revelação das entranhas como um atestado de maturidade. Maturidade do ego inflamado, deva-se dizer. O ator se esquece do mundo para abrir seu livrinho de recordações e exige do outro que testemunhe sua sessão de cura, uma verdadeira sessão de masturbação auto-referente. Existe uma ideia bastante equivocada, típica do nosso ocidente-ilustrado, de que os mecanismos para se chegar a essência dos fatos são como ferramentas que iluminam cada canto escuro, deixando transparecer tudo e qualquer coisa aos olhos sensíveis do observador. O esforço é tão inútil quanto o seu resultado - fala-se mais do cientista que observa do que de alguma resposta que o mundo possa ter revelado. Essa precisão cirúrgica só pode levar ao enaltecimento do ego. O movimento urgente é o inverso disso: esconder, ao invés de iluminar; antes de tornar claro, sujar. Somente através da reconquista do mistério enquanto terreno de diálogo é que poderemos recupar um sentido ético e humano do que um dia foi o espaço público.

sábado, 19 de maio de 2012

A substância da poesia...


A falcatrua, os excessos, a pilantragem, a corrupção, os absurdos, enfim, o homem naquilo que tem de essencial, tudo isso deve ser motivo de admiração, não de indignação. Essa é a fórmula do artista - se equilibrar na beirada do precipício, respirar profundamente e render reverências à queda iminente. Deixemos a indignação para os demagogos, retóricos, políticos, padres, filósofos, cientistas, enfim, a todos aqueles que ainda acham possível tapar o vazio com alguma substância.

domingo, 13 de maio de 2012

O que acontece com a arte e com o teatro? Meu humilde diagnóstico...


O único esforço verdadeiro é aquele que é medido pela escala do impossível, que nos exige sacrifícios e caminhadas na beira do abismo, tudo sob o risco de escorregar, despencar e cair. Para encarar tal travessia há, necessariamente, uma seleção dos aventureiros. A solidão é fundamental para o viajante que põe os pés nessa estrada. Antes de alcançá-la, é seu dever provar que reúne qualidades suficientes para enfrentar o desafio. Nem todos estão aptos a acomodar o risco do fracasso dentro da mochila, nem todos sabem que para se colocar em movimento é fundamental desenvolver previamente músculos fortificados, a grande maioria já se apresenta atrofiada na preguiça e sem a ferramenta fundamental para qualquer explorador manter-se vivo: a imaginação. A solidão qualifica o aventureiro, ainda que o mundo tente o convencer a não partir. A dureza dos tempos atuais está na democratização de tudo quanto é passaporte, a onda de excursionistas que invade os territórios antes misteriosos e inatingíveis mata a possibilidade do impossível, esgotando as forças dos poucos aventureiros que ainda restam. As grandes travessias agora perdem para o GPS. A solidão criativa não sobrevive frente ao fuzuê dos grupos de turistas. Ao invés de silêncio, barulho. Antes concentração, agora risos tresloucados. Democratizar o impossível é o passo decisivo para a morte das grandes empreitadas criativas.

domingo, 6 de maio de 2012

O que a música e os músicos me ensinam...



É uma parte, apenas uma parte, pensada e executada na plenitude do seu significado, da sua sensação e importância em relação ao resto. Uma fração que sozinha pode não ganhar a dimensão do que representa, mas quando combinada com as outras vozes que a circundam, aí sim, eis a potência que germina. Uma frase, não uma sentença completa, uma sílaba, talvez apenas uma letra, só o suficiente para deixar espaço para que o diálogo se estabeleça, uma escuta do vazio, da pausa e do silêncio. Silenciar para poder falar, se ausentar para poder estar. Um traço, somente um traço, executado como se fosse a manifestação divina do primeiro sinal de vida no universo. Um batismo que ainda irá eclodir. Não há inteireza no particular, não há universos completos, nunca se chega a apoteose alguma na solidão do íntimo, mas é nesse lugar que é preciso investir, não para se contaminar com a poesia do coração - qualquer coração, por mais especial que seja, nunca estará a frente das forças que movem o universo -, mas para o tornar pulsante, único e atento aos órgãos vizinhos. Busca-se o universal, as grandes instâncias geradoras da vida, ousa-se investigar os campos misteriosos da metafísica, de outra maneira, não valeria a pena investir nos canais da percepção. A vida que conhecemos é por demais sem graça para virar protagonista de qualquer coisa. O particular, entendido como fração, ganha preenchimento e força, é ao mesmo tempo único e global, faz parte e é ao mesmo tempo o organismo que representa. Tudo em um, o um no todo.

sábado, 5 de maio de 2012



Acabo de ver um adestrador de cães em ação. A praça da esquina virou uma sala de aula. Seus alunos eram compostos por três dobermans - desses de focinho sério com cara de executivo-de-firma - dois borders-collie e um pitbull velho, que pelo semblante e posição na grama parecia ter acabado de levar uma bronca e sido sentenciado a não levantar o nariz do chão até segunda ordem. Fiquei admirado. O professor pedia algo e os alunos respondiam, um de cada vez e sob comandos individuais, todos sem coleira ou guia, na maior cartilha britânica... fiquei com a impressão de que se alguém perguntasse qual é a fórmula de báscara, um dos executivos de focinho sério - os mais cdf's da turma - levantaria a pata para responder, piscando o olho zombeteiro pro aluno de castigo: 'tsc, tsc... moleza!'. Eu via tudo isso com a Naomi Campbell, minha labradora-anciã-de-barba-branca que fora educada sob os preceitos libertários da escola construtivista. A cena nos captava a atenção, era realmente um espetáculo da ordem e da disciplina... só fui interrompido do meu transe pela própria Naomi que, esfregando disfarçadamente o focinho na minha perna, soprou a meia voz: 'vâmo embora antes que a carrocinha me confunda com uma delinquente-fugitiva da Febem'.


Popularização da cultura, popularização da educação, popularização dos bons costumes... cota pra isso, cota para aquilo e viva a liberdade, igualdade e fraternidade (parece campanha do Vaticano). Antes que me chamem de nazista, já que quem desconfia do povo só pode ser um carrasco-assassino (a multidão sempre é boa, malvados são os que se acham no direito de se destacar dela - o velho e rentável melodrama de sempre!), e mesmo sabendo que todos os absurdos que a história já registrou tiveram participação direta ou indireta dessa mesma massa humilde e sem rosto, gostaria de dizer que sou totalmente contrário a essa experiência de nivelação generalizada, onde tudo é acessível e ao alcance das mãos - e a ideia de que a prática desse procedimento nos garantiria uma sociedade mais justa e humana. Ao contrário, nos tornaríamos mais mentecaptos e manipuláveis. Deveríamos ter desde sempre o direito à consciência das diferenças e se somos todos iguais em direitos também somos diversos em potencialidades - e não estou advogando à favor dos inteligentes, bonitos e espertalhões em demérito dos fracos e incapazes, estou somente afirmando que somos diversos e há coisas que uns podem fazer e outras coisas que deveríamos saber que não estão disponíveis à nossa competência. Todos tem o direito de buscar a excelência dos seus objetivos, todos tem o direito de emancipar suas inteligências (pra reivindicar a burrice melhor seria ter nascido pombo da Praça da Sé, não?) mas não me venham com a sugestão de implodir com as fronteiras do mundo como se o passaporte livre fosse garantir algum tipo de crescimento intelectual e humano. O teto da Capela Sistina só é o teto da Capela Sistina porque está dentro da Capela Sistina... colocar a obra do Michelangelo exposta num toldo da 25 de Março não trará benefício algum de cultura para os ambulantes, além de desmoronar tudo o que de belo há nessa pintura, projetada para ser experienciada por aqueles que se dispuserem a entrar dentro da tal Capela Sistina. Ufa! Pronto, agora podem me chamar de soldado da SS...