sábado, 22 de setembro de 2007

Prólogo de "A Valsa dos Porcos", peça radiofônica de minha autoria.

Caro colega ouvinte. Peço a sua licença para lhe contar como me tornei um imbecil. Se prestar um pouco de atenção verá que a minha história não difere muito da sua, o que me leva a concluir que tanto eu como você formamos, juntos, dois dos legítimos representantes da raça dos imbecis. Não sou seu colega e muito menos imbecil, você responderá. É bem verdade que se trata de uma história sombria, mas também edificante, um verdadeiro conto moral, garanto. Eu era, assim como você, um daqueles que levantava a voz contra o poder. Refutar uma voz de comando não era difícil, confortável até certo ponto, e fazia render saborosos tapinhas nas costas. A proporção era simples: a medida em que a coragem crescia o fã-clube aumentava. Não, definitivamente não foi essa atitude que nos privou de adentrar para o rol dos imbecis. Assumir a figura do explorado, do pobre funcionário resignado pelo berro da injustiça, é o extremo oposto e o passo decisivo para alcançar o estado da imbecilidade plena. Não é preciso dizer que ambos, eu e você, demos as mãos também nesse quesito. É verdade que há aqueles que mal percebem tudo isso e que fazem questão, seja por qual razão for, de postarem-se bem debaixo dos impropérios dos arrogantes. Estes também são imbecis mas pelo menos não sabem que o são – sei que você há de concordar que a ignorância a respeito da própria imbecilidade é uma benção. Não é o nosso caso. Se você continua comigo até esse instante é porque ambos, eu e você, compartilhamos do grupo que carrega a consciência como um fardo. Sempre fui correto, exemplar até. Aluno de excelentes notas, desde cedo aprendi a cumprir da melhor forma possível o que me era solicitado. Os bons empregos no tão sonhado mercado de trabalho foram conseqüência, encher os bolsos de dinheiro uma questão de tempo. É verdade também que aquela centelha de bravura, típica dos espíritos juvenis e inconseqüentes, as vezes insistia em arder silenciosa no meu peito como uma advertência surda de que “aquilo não estava certo”. Rapidamente notei que bater de frente com os burocratas imbecis era o mesmo que assinar o meu diploma de perdedor. Como, nessa altura do campeonato, já não podia me dar ao luxo de encarar a vida como um artista que depois do fechar das cortinas não sabe se no dia seguinte haverá espetáculo, resolvi fazer uso da minha formação imbecil para tornar-me o quanto antes um verdadeiro imbecil de carteirinha. E eis que aqui estou, respirando o mesmo ar que você, enxergando as mesmas coisas que você, ouvindo as mesmas coisas que você. Como é gratificante repousar a cabeça no travesseiro com a consciência tranqüila de que os cadarços percorreram corretamente os furinhos do sapato. Que sapato é esse? Não me pergunte, eu apenas passo os cadarços pelos furinhos, essa é a minha função. Depois de um tempo com o carimbo oficial de imbecil estampado na testa notei que não havia vergonha ou mal algum em ser imbecil. Afinal, em alguma medida todos o são. Talvez você me compreenda melhor porque a sua imbecilidade é semelhante a minha mas, acredite, há tanta imbecilidade no mundo que ser imbecil já não é privilégio para poucos. Tornou-se comum, nada surpreendente. E aí é que está o perigo. Eu e você não somos desequilibrados. Desequilibrados sempre existiram e estão por toda a parte. Nossos subúrbios tranqüilos pululam de pastores, reitores e catedráticos dispostos a disseminar suas sandices para cinqüenta, duzentas, mil pessoas – depois esse mesmo Estado que se serviria deles sem pestanejar como forma de se auto suster os esmaga como mosquitos empapados de sangue. Esses homens doentes não são nada, e se deixam seus nomes marcados na história não é por mérito próprio. Nós somos os responsáveis, os amarradores de cadarços, pessoas comuns, pessoas ingênuas de caráter e imbecis por falta de opção. Homens imbecis como eu e como você, eis o verdadeiro perigo, funcionários silenciosos da indústria da mediocridade. Sem o nosso exército dos imbecis, esses loucos dissonantes não seriam mais do que fantoches desarticulados. O verdadeiro perigo para o homem sou eu, é você. E, se não está convencido, inútil prosseguir. Você não entenderia nada e se aborreceria, sem lucro nem para você nem para mim. Como a maioria, eu nunca pedi para me tornar um imbecil. Se pudesse, teria optado por algo sublime, algo que engrandecesse meu espírito, talvez a música. Sim! A música!*

Prólogo de "A Valsa dos Porcos", peça radiofônica escrita por mim e inspirada na obra "A Revolução dos Bichos", de G. Orwell. Há no texto algumas pequenas transcrições de trechos da obra "As Benevolentes", de J. Littell.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Quando o "Isso" não vem depois do "Aquilo".

Transcrevo abaixo um trecho maravilhoso de um dramaturgo contemporâneo francês, Michel Vinaver, que acaba de ter duas de suas peças editadas no Brasil pela EDUSP. Penso que o conteúdo é bem apropriado para nós, humanóides modernos que ansiamos desesperadamente por buscar as razões (começos / meios / fins) de qualquer coisa que passe pelo campo esclarecedor (será?) do intelecto. Aí vai:

"Não se preocupe nada por baixo das superfícies; são elas o segredo. Não há não-dito: tudo é dito. Sobretudo nos intervalos, no espaço entre objetos da fala - palavras, frases, réplicas -, que não são vazios, mas o branco nas telas de Cézanne. E nada de ponto de vista globalizador, redução do texto a uma moral ou mensagem. Todos os pontos de vista são válidos, sem hierarquização, sem julgamento. Não há denúncia do sistema, há desmonte. Há ironia; como decalagem entre aquilo que se espera e aquilo que realmente vem, num encadeamento inesperado das réplicas, ou das situações, no plano molecular da conversação banal do dia-a-dia. Não se cave uma profundidade, nem mesmo psicológica. Pois não há um antes e um depois. Vale o presente imediato e urgente. São peças-paisagem, sem o encadeamento causa-efeito das peças-máquina, sem progressão cronológica visando ao desenlace. Sem desenlace no sentido convencional, a peça tem que parar, eis tudo; o último instante não vai se suceder de um outro. Trata-se de uma estrutura musical de temas e suas variações, num ir e vir rítmicos. Para a captação do instante em sua fulgurância desnorteante numa realidade mutante. Uma sucessão de instantes em conexão, mas não subordinados, que desautoriza os termos "cena" ou "ato"; temos peças em pedaços, em fragmentos. É a realidade fragmentada da vida em estado bruto, como se dá no cotidiano".*


*Prefácio de "Dissidente / O Programa de Televisão" - duas peças de M. Vinaver. EDUSP, 2007. Tradução de Catarina Sant'Anna.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

DOIS TEXTOS INDISPENSÁVEIS SOBRE O PAPEL DA ARTE.

Inutensílio


Paulo Leminski



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A ditadura da utilidade
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para quê, desde que os mercadores, com a Revolução Mercantil, Francesa e Industrial, substituíram no poder aquela nobreza cultivadora de inúteis heráldicas, pompas não rentábeis e ostentosas cerimônias intransitivas. Parecia coisa de índio. Ou de negro. O pragmatismo de empresários, vendedores e compradores, mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente até que a Bomba de Nêutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos certeza.



Além da utilidade
O amor. A amizade. O convívio. O júbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia. A rebeldia. Os estados de graça. A possessão diabólica. A plenitude da carne. O orgasmo. Estas coisas não precisam de justificação nem de justificativas.

Todos sabemos que elas são a própria finalidade da vida. As únicas coisas grandes e boas, que pode nos dar esta passagem pela crosta deste terceiro planeta depois do Sol (alguém conhece coisa além- Cartas à redação). Fazemos as coisas úteis para ter acesso a estes dons absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condições de vida é, no fundo, luta pelo acesso a estes bens, brilhando além dos horizontes estreitos do útil, do prático e do lucro.

Coisas inúteis (ou "in-úteis") são a própria finalidade da vida.

Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. Que é feita de júbilo, liberdade e fulgor animal.

Cem mil anos-luz além da utilidade, que a mística imigrante do trabalho cultiva em nós, flores perversas no jardim do diabo, nome que damos a todas as forças que nos afastam da nossa felicidade, enquanto eu ou enquanto tribo.

A poesia é u principio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo não suportam o prazer. A sociedade industrial, centrada no trabalho servo-mecânico, dos USA à URSS, compra, por salário, o potencial erótico das pessoas em troca de performances produtivas, numericamente calculáveis.

A função da poesia é a função do prazer na vida humana.

Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama a poesia. Ama outra coisa. Afinal, a arte só tem alcance prático em suas manifestações inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdos querem que a poesia produza um lucro ideológico.

O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade.

Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita, uma luz política ultra-violeta ou infra-vermelha. Uma política profunda, que é crítica da própria política, enquanto modo limitado de ver a vida.



O indispensável in-útil
As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa. Servir. Prestar. O serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a arte (a poesia é arte) é a única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade. As utopias, afinal de contas, são, sobretudo, obras de arte. E obras de arte são rebeldias.

A rebeldia é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem chamamos poesia, inestimável inutensílio.

As várias prosas do cotidiano e do(s) sistema(s) tentam domar a megera.

Mas ela sempre volta a incomodar.

Com o radical incômodo de urna coisa in-útil num mundo onde tudo tem que dar um lucro e ter um por quê.

Pra que por quê?


In ANSEIOS CRIPTICOS, Ed. Criar, Curitiba, PR, 1986, p. 58-60.

Arte in-útil, arte livre?


Paulo Leminski



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A curiosa idéia de que a arte não está a serviço de nada a não ser de si mesma é relativamente recente. Data do romantismo europeu do século XIX, apogeu da 1ª Revolução Industrial e da hegemonia burguesa, momento em que o artista se toma um desempregado crônico.

Arte e artesanato. A indústria veio para substituí-lo.

Sem função social mas ainda cheia de sua própria importância, a arte entre horrorizada e fascinada, volta?se contra o mundo utilitário que a cerca, negando-o, criticando-o, como um não-objeto feito de antimatéria.

O mundo burguês é anti-artístico. A arte não precisa mais dele. Já pode nascer a "arte pela arte".



Delícia e lição
Uma arte, uma literatura in-útil: nenhuma idéia poderia ser mais estranha à Idade Média católica, herdeira das concepções greco-latinas sobre o duplo papel da arte: "delectare", "agradar", e "docere", "instruir".

Para um europeu, letrado da Idade Média (quase sempre um clérigo), parecia a coisa mais lógica do mundo que a atividade artística e literária estivesse, como as demais atividades, subordinada a um fim educativo, edificante, a serviço da salvação da alma dos fiéis.

A obra literária tem deveres morais. Não há lugar para uma obra blasfema, sacrílega, iconoclasta, dissolvente, corruptora.

A obra de arte é a expressão de uma norma. Não um gesto criminoso.

Como os homens que a fazem, deve lutar contra o pecado.

A desmesurada liberdade da literatura ocidental moderna pareceria aos medievais o triunfo de Satanás na terra. O pecado da literatura moderna, aliás, é o mesmo de Lúcifer, a soberba, o orgulho de se declarar autônoma, além do bem e do mal.

O Renascimento italiano, cético, crítico, mundano, faz nascer uma nova concepção de arte e literatura, não mais subordinada a deveres morais ou pedagógicos. Uma arte voltada apenas para o "delectare": nasce o conceito de "Beleza", o específico artístico, independente de metas didáticas ou balizas éticas.

A reação católica da Contra-Reforma, em luta contra o protestantismo, restaurou a antiga doutrina da arte a serviço de objetivos ideológicos ou doutrinários. A "beleza" só tem razão de existir porque deve fazer a Verdade se gravar mais fundo no coração dos homens. E essa Verdade vem de fora: préexiste à obra de arte. A literatura volta a ser apenas o veículo de uma visão dada da vida e do mundo.

Não que o protestantismo fosse mais liberal em matéria de arte e literatura. Ao contrário. Lutero e Calvino eram duas mentes medievais típicas. Certas correntes protestantes chegaram mesmo a desvalorizar por completo qualquer atividade artística como sendo coisa de Satanás.

A visão utilitária da arte e da literatura prevalecerá até o século XVIII, incluindo os Enciclopedistas. A vasta obra literária de Voltaire está a serviço das "Luzes", do trabalho de esclarecer as mentes, ridicularizar o preconceito, desmistificar a superstição. Voltaire não é um poeta, tal como entendemos a palavra hoje, uma consciência problemática expressando em palavras seus conflitos. É um educador, um pedagogo, que usa os recursos da literatura para ilustrar certos princípios "morais".

Com a Revolução Francesa e o fim do Antigo Regime, dissolve-se o difícil equilíbrio entre o autor e seu público, entre o autor e seus mecenas ou protetores.

De agora em diante, entregue aos acasos do mercado, o escritor está no mato sem cachorro.



A via francesa
A doutrina da "arte pela arte" foi formulada, pela primeira vez, com todas as letras, na França do século XIX, pelos poetas parnasianos e simbolistas (Gautier, Leconte de Lisle, Baudelaire, Mallarmé). Era também o credo que inspirava o desesperado artesanato estilístico de Flaubert.

Sua formulação foi sentida pelos artistas como uma verdadeira inovação, a libertação da arte de quaisquer compromissos com o não-artístico, a moral, a política, a exaltação patriótica, a tradição nacional, o Bem, a Verdade.

Na literatura romântica, ainda havia uma tensão moral interna que, na França, teve sua grande expressão na caudalosa produção poética de Victor Hugo, hoje pouco prezada (mal conseguimos compreender o verdadeiro endeusamento de que Victor Hugo foi objeto em vida).

Significativamente, a evolução da poesia moderna, em fins do século XIX e inícios do XX, deriva diretamente desses cultores da "arte pela arte": a poesia moderna não existiria sem Baudelaire ou Mallarmé.

Isso se deve principalmente ao fato de que esses poetas, libertados dos lastros morais ou patrióticos, puderam fazer a poesia avançar tecnicamente, em termos de linguagem, até os extremos limites, de que o "Lance de Dados" de Mallarmé é o paradigma último.

Descendendo deles, a poesia mais significativa do século XX nasce da "arte pela arte". Da arte como inutensílio. Não como veículo de princípios "superiores" ou "maiores".

Por essa razão, boa parte da melhor poesia deste século é poesia sobre poesia, poesia crítica, poesia tendo o próprio poetar como objeto de inspiração. Metalinguagem, como se diz no jargão técnico. Mesmo quando tem uma "motivação moral" por trás (o que é inevitável, já que o homem é um ser político, logo moral).

A doutrina da arte pela arte é uma decorrência natural da sobrevivência da arte numa sociedade regida pelo mercado.

No mundo burguês, a obra de arte só pode ser duas coisas: ornamento e mercadoria. Um afresco renascentista na parede de uma Igreja é um complexo composto ideológico, pulsando de tensões morais e intenções de envolvimento coletivo. Um quadro de Manabu Mabe na sala de um banqueiro é apenas um complemento do tapete e do padrão dos sofás. A burguesia saudou a liberdade formal da arte moderna, comprando-a. Transformando-a em mero artesanato: Qualquer artista bem informado de hoje sabe que a arte já acabou. O que continua existindo é artesanato (ou industrianato).

Certas artes, pintura, escultura, se prestaram melhor a essa transformação em mercadoria eticamente neutra, buscadora apenas de qualidades plásticas e cromáticas, técnicas e sintáticas.

Ornamento e mercadoria, a linguagem da pintura moderna perdeu todo o impacto subversor das vanguardas do início do século (expressionismo, fauvismo, futurismo, cubismo, surrealismo, abstracionismo geométrico, tachismo). Ao ouvir falarem arte moderna, o burguês puxa o talão de cheques.

Mas uma arte resistiu com particular vigor a essa comercialização.

E essa foi a literatura, a arte que tem a palavra como matéria-prima. Em especial, a poesia, lugar onde a palavra atinge vigência plena, máxima, substantiva.

Nem era de admirar. Signicamente, as artes são feitas com ícones (cores, sons, melodias, ritmos, movimentos corporais). A literatura, a poesia, é a única arte feita com símbolos (palavras que o poeta, alquimista, tenta transformar em ícones).

Ora, um ícone, uma cor pode ser a-moral e "a-política".

Uma palavra não pode.

Pra começo de conversa, uma cor é um valor universal, independente de raça, época ou lugar. Uma palavra, toda palavra pertence a um idioma particular, historicamente determinado no espaço e no tempo, o mais pesado lastro coletivo que o homem pode carregar. Falar basco na Espanha ou gaélico na Irlanda é um gesto, em si, político (as nações deveriam coincidir com o espaço de uma língua ou dialeto).

Cada palavra tem sua história, sua biografia, sua etimologia.

Seu uso deflagra uma constelação de sub-significados e sentidos que, em cada idioma particular, tem certo desenho próprio e intransferível.

A palavra é, essencialmente, política. Portanto, ética.

Daí, talvez, a dificuldade de transformar a literatura, a poesia, em mercadoria.

Na ficção, o ramo comercialmente mais próspero da literatura, não é a palavra a verdadeira mercadoria. E o enredo, a trama, o entrecho, vale dizer, desenhos, isto é, ícones. Aquelas coisas que Brecht queria, em vão, vender, entrando na fila dos roteiristas de Hollywood...

O puro valor da palavra está na poesia. Por isso, é sempre considerada mercadoria difícil. "Poesia não vende" é um dos mandamentos do Decálogo mínimo de qualquer editor sensato. Pois não vende mesmo. O destino da poesia é ser outra coisa, além ou aquém da mercadoria e do mercado.

Mal obram e mal pensam aqueles que reclamam da renitência das casas editoras em publicar poesia. Deveriam mais é ficar alegres. A poesia, afinal, é a última trincheira onde a arte se defende das tentações de virar ornamento e mercadoria, tentações a que tantas artes sucumbiram prazeirosamente.

E não deixa de intrigar o fato de a doutrina da "arte pela arte" ter sido formulada, exatamente, por poetas. Não por pintores, nem por romancistas.

Transformada em mercadoria, a obra de arte é transformada em nada.

Os teóricos da "arte pela arte" apenas recolheram essa maldição. E lhe deram sinal positivo.

Desde então, a arte está em conflito direto com o mundo. A melhor arte do século XX é um gesto contra o mundo que a rodeia. Uma negatividade.



A via russa
"Acontece comumente que os autores de romances, mesmo tratando, aparentemente, de combater os vícios, apresentam-nos com tais cores que por esse mesmo fato fazem com que os jovens se sintam atraídos por vícios dos quais conviria não falar. Qualquer que seja o mérito literário dessas obras, elas só podem ser publicadas se tiverem em vista um fim verdadeiramente moral".

"Mutatis mutandis", a frase poderia ser assinada por qualquer autoridade cultural soviética (ou socialista) de hoje. Basta substituir "moral" por "coletivo", "socialista" ou "revolucionário".

Mas a frase é do conde Razumovski, ministro da Instrução Pública da Rússia, em 1814, justificando a proibição de um romance que satirizava a sociedade aristocrática da época.

Tanto da parte do governo quanto da parte dos escritores, a extraordinária literatura russa do século XIX (Gogol, Tolstói, Dostoiévsky, Turguiênev, Tchékov) é uma literatura, sobretudo, moral. E a consciência social do povo russo, uma literatura de acusação e denúncia, de resistência e responsabilidade coletiva.

Caráter moral: nisso, os poderes e a oposição estavam de acordo. Só os sinais estavam trocados. Ao forçoso e forçado moralismo da censura czarista, os escritores russos reagiram com um moralismo oposto.

O grande momento reflexivo dessa afirmação russa do caráter moral da literatura é "O que é Arte", de Tolstói (de 1898).

Nesse ensaio implacável, o autor de "Guerra e Paz" denuncia a "degenerescência" da arte moderna, em particular, a doutrina da "arte pela arte", à luz de critérios éticos e "humanos". Para Tolstói, toda a arte e a literatura de sua época lhe parecem manifestações patológicas de sensibilidades decadentes e "desumanas". Repugna-lhe seu "ocultismo", sua tendência à criança de seitas e "panelinhas" fechadas. No rigor das suas exigências, expressa cabal repúdio a Balzac, Flaubert, Zola e os Goncourt, enquanto exalta a ficção de Dickens, Victor Hugo e Dumas pai... Sobre os poetas, Baudelaire, Mallarmé, seus juízos são mais severos ainda.

Esse caráter ético da literatura russa vem do século XIX e continua, quase intacto, na literatura soviética: a Revolução apenas herda do czarismo o utilitarismo artístico e literário. Nesse aspecto, a literatura do povo russo apresenta uma rara unidade de sentido.

De Razumovski a Tolstói, chegamos a Plekhânov, o introdutor do marxismo na Rússia: a mesma postura "utilitarista", moral, anti-arte pela arte. Seu "A Arte e a Vida Social", conferências de 1912, repete, em nota marxista e proletarizante, a argumentação de Tolstói.

Nessas conferências, cujo brilho não pode ser negado, Plekhânov conduz o julgamento da "arte pela arte", à luz dos seus condicionantes de classe. O que em Tolstói era moral, em Plekhânov é político.

Descontados os detalhes, essa visão da arte e da literatura prosseguiria por toda a era soviética, stalinismo adentro.

Importa muito observar ainda como essa visão russa da arte impregnou a estética e a poética do socialismo em geral. Uma postura ideológica marxista do mundo parece ser indissociável de uma visão utilitária e utilitarista da arte, nas antípodas da "arte pela arte".



Adorno: "Arte pela arte" de esquerda
Felizmente, a visão marxista da arte não parou nos maniqueísmos moralistas de Plekhânov, produzindo com Adorno (Theodor W. Adorno) uma espécie de síntese dialética entre o inutensílio da "arte pela arte" e o compromisso ético e político de viver revolucionariamente uma dada circunstância histórica.

Expoente da chamada Escola de Frankfurt, Adorno já é um contemporâneo de Walter Benjamin e Brecht. Sua reflexão teórica se volta para um capitalismo numa fase muito mais adiantada que a de Plekhânov. Comparado com Plekhânov, Adorno reflete a) num meio intelectualmente muito mais sofisticado e b) numa circunstância não-revolucionária.

Para Adorno, a grandeza da arte está em sua capacidade de resistir ao estatuto de mercadoria, em situar-se no mundo como um "objeto não identificado". Em sua recusa de assumir a forma universal da mercadoria, a arte, a obra de arte é a manifestação, em seus momentos mais puros e radicais, de uma "negatividade". Ela é "a antítese da sociedade". A antítese social da sociedade.

Para Adorno, crítico eleitor agudíssimo das contradições do capitalismo, a arte só tem uma razão de ser enquanto negação do mundo reificado da mercadoria. Vale dizer, enquanto inutensílio.

A tensão ética da obra está nesta recusa em virar mercadoria.

Misteriosamente, os defensores da "arte pela arte" tinham razão.


In ANSEIOS CRIPTICOS, Ed. Criar, Curitiba, PR, 1986, p. 29-34.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

SOBRE SAPOS.

Depois de hoje, me ocorreu a seguinte reflexão:

O que é “aceitável”? O que é “permissível”? Quais botões devo apertar para me assegurar de que aquela determinada luz irá acender? E quais aqueles que devo prioritariamente evitar a título de receber em troca um sinal de “PERIGO”? Como mapear o terreno a ponto de que eu tenha a tranqüilidade suficiente para receber uma resposta minimamente programada? Como respirar aliviado ao saber que o meu estímulo encaixou-se em um retorno “degustável”, ao invés de parar atravessado na garganta de alguém? Esses questionamentos me fazem lembrar daquela máxima tão conhecida por alguns de nós, alunos, que ao longo desses quatro longos anos tentamos com nossas forças remar no contra fluxo: “O que é vendável”?; “O que é passível de audiência”? “Qual público quero atingir”?; “Será que a massa irá apreciar isso”?; “O mercado compra”?

Uma lógica cartesiana. 1 + 1 = 2. Isso mais Aquilo é igual a Aquilo outro e se Isso não for adicionado a Aquilo é bem provável que o Isso desmorone sobre o Aquilo. Estímulo resposta, causa e efeito. Não se pode mais pensar em produzir algo, em se colocar em uma atitude criativa sem antes mapear centímetro por centímetro as possíveis causas e conseqüências “Daquilo sobre o Isso”. E assim vai, medo atrás de medo, seja em razão da manutenção de um status profissional seja pelo motivo simples da busca por uma massagem alheia do ego. Ou pior, a equação da mesmice é tão corriqueira que a consciência da “indústria do que pode ser consumido” passa batida. E a lei permanece: vendeu? Passou pelo crivo da maioria? Não causou desconfortos? Sinal verde! Siga em frente! Enquanto isso, a individualidade é solapada pelo modelo.

Reportar esse contexto para a esfera do corporal é um engano. O corpo sabe, antes mesmo que você deseje querer saber, que sua mão ao fogo significa queimadura (reação de causa e efeito). O sensível é anterior ao racional e por isso o argumento não se sustenta. E é justamente no sensível que se encontra a minha busca, na tentativa de se resgatar o frescor descompromissado de um instante sem querer me preocupar com as elucubrações racionais do momento seguinte. Quero fugir da tão famosa frase: “O que você quer com isso”? Ou então: “Qual é o seu objetivo com isso”? Ainda pior: “Para que isso serve”? Todas remanescentes da tradição cartesiana, da tentativa racional de se buscar um sentido ou um fim, mesmo naquilo em que, por princípio, não se coloca na posição de utilidade. O que eu proponho é a inutilidade do instante, apenas uma história sobre sapos e, a partir dela, desfrutar do lirismo poético e do absurdo de um discurso saído da boca de sapos. Não busquem sentidos para os sapos porque os sapos não tem culpa de serem sapos e, se por alguma coincidência, os sapos se parecerem com humanos não é porque chamo os humanos de sapos (dedo em riste: “o que você quer com essa insinuação”?), mas, é simplesmente porque eu não conheço a língua dos sapos para poder traduzi-la, só restando o vocabulário dos humanos para contar a história. Humanizar os sapos é uma saída inevitável quando se quer contar uma história sobre sapos, assim como teria de humanizar o cano do meu chuveiro se quisesse contar a história de como ele sofre todos os dias com os vazamentos de água.

Não quero o racional, não quero o discurso do consenso porque não acredito na maioria (nem nas instituições!). Por isso uso a arte como a linguagem do sensível. Quero dizer exatamente aquilo que é dito e se você entendeu outra coisa é precisamente isso o que eu quis dizer. Não é preciso ir muito longe para afirmar que a linguagem da razão foi e é a responsável por inúmeros equívocos, mesmo aquela que aos olhos da maioria parecia ser a definitiva salvação para a raça humana (que já nasceu, desafortunadamente sem qualquer esperança de salvação). Não quero protestos, não quero levantar bandeiras e se você, através do meu texto, enxergou uma multidão empunhando estandartes de reivindicações é porque eu, de fato, pintei esse cenário, mas não em forma de manifesto, e sim em forma de fábula, em forma de ilusão, em forma de jogo. O texto é político porque não posso me furtar de atuar como um agente político, já dizia o nosso ancestral grego que o homem é por natureza um “zoom politicom”. Mas não ofereço um ato e sim uma sugestão, que será degustada por você da maneira como lhe convier, estou fora desse banquete.

Por fim, peço que façam um esforço para rir, para retornar ao prazer infantil do jogo e se divertirem com os sapos falantes. Não é a toa que a criança é o melhor exemplar de ator que qualquer adulto possa vir a conhecer. A criança ri do seu choro e chora do seu riso porque ao mesmo tempo em que se leva a sério ela sabe, em igual medida, que tudo não passa de uma grande brincadeira. E isso é uma atitude crítica que é perdida na maioridade. Todos se levam a sério e buscam justificativas naquilo que não precisa ser justificado. Aí começam os equívocos porque é nesse exato momento em que as individualidades esfarelam-se no rio dos modelos (DO MERCADO BROADCAST). Perde o homem que não consegue se enxergar na sua precariedade, imaginando-se único e poderoso, perdem os sapos que, dessa maneira, permanecem no anonimato.




Francisco Egydio de Carvalho.



4/09/2007.

PEQUENA FÁBULA

O Pequeno Príncipe vai à Universidade.

Prólogo.

Narrador:
“Quando o vento ao folhear gentilmente o manual de gramática espalhou pelo ar um conjunto de pontuações, mal sabia ele que o que o sapo engolira, depois de esticar a sua enorme língua, era uma vírgula e não um içá...”

“Não que o sapo tivesse desaprovado a refeição, muito pelo contrário, tratou logo de pedir ao vento que espalhasse letras que, depois de saboreadas, formaram sílabas dentro do estômago do anfíbio...”

“Não demorou muito para que Lobato, esse era o nome do sapo letrado, saísse por aí construindo frases para o assombro daqueles que ainda insistiam em engolir os bichinhos de asas. Mas as coisas pareciam mudar rapidamente e depois de uma palestra, em que todas as regras gramaticais foram exemplarmente empregadas pelo orador, Lobato convenceu seus colegas a trocar de dieta...”

“Com a retórica na ponta das línguas, os sapos viraram professores e juntos inauguraram a universidade. Mestre Lobato desfilava sua sintaxe invejável em meio aos girinos pupilos quando, em um momento de descuido, espirrou a palavra “foguete” depois que um içá, que agora não temia mais virar repasto, lhe fez cócegas ao voar bem embaixo das suas narinas...”

“A situação não mereceria maiores comentários não fosse um girino galhofeiro que resolvera aprontar para com o mestre ao combinar o seu ainda precário vocabulário de forma a produzir a palavra “fósforo”...”

“Mestre Lobato, o sapo letrado, entrou em ignição e decolou pelo universo afora deixando para trás um rastro de fumaça combinado com um grito coletivo de “viva” por parte dos girinos pupilos. Foi aterrizar em um pequeno planeta de pequenas proporções composto apenas por três pequenos vulcões, uma pequena flor, um pequeno bode e habitado por um Pequeno Príncipe...”



*** O PEQUENO PRÍNCIPE VAI À UNIVERSIDADE ***


Cena I – Quando Mestre Lobato aterriza no planeta do Pequeno Príncipe.

Sapo Lobato:
O Mestre Lobato vem para demonstrar que é assim que deve ser: “Que o primeiro é assim, o segundo assim e, por isso, o terceiro e o quarto são assado. E não fossem o primeiro e o segundo, o terceiro e o quarto não seriam jamais”.

Pequeno Príncipe:
Bom dia Mestre Lobato. Sou o Pequeno Príncipe. Seja bem vindo ao meu pequeno planeta. Esses são os meus três pequenos vulcões, o meu pequeno bode e a minha pequena flor.

Sapo Lobato:
O que fazes com tantas pequenas coisas?

Pequeno Príncipe:
O bode eu alimento para que ele me ajude com as raízes de baobás, depois lhe afago o cocuruto como recompensa. A flor me serve de paisagem e com os vulcões eu cuido para que não entrem em erupção.

Sapo Lobato:
Bem se vê que o Pequeno Príncipe pensa deveras pequeno. Vivesse eu nesse pequeno planeta faria do bode um cantor lírico. Gravaria CDs com o seu balido para vender em praça pública. Usaria o calor dos vulcões para construir uma fábrica de marmitas. Um disque quentinhas renderia um ótimo lucro. E com a flor produziria fragrâncias para quem quisesse perfumar o cangote, a um custo a combinar, claro.

Pequeno Príncipe:
Que sapo mais criativo. Nunca me passou pela cabeça fazer tudo isso. Mas eu moro sozinho nesse pequeno planeta e embora ele seja pequeno já tenho trabalho suficiente para me ocupar durante todo o dia. Tenho que alimentar o bode, podar a flor e revolver os vulcões. É cansativo mas quando chega de noite fico muito feliz por saber que tudo está organizado.

Sapo Lobato:
Inutilidades! Já pensou em ganhar dinheiro, caro Pequenino Príncipe?

Pequeno Príncipe:
Dinheiro? O que é isso?

Sapo Lobato:
Dinheiro é o prêmio-mor em recompensa ao suor dos merecedores, o que os faz ricos.

Pequeno Príncipe:
Ah sim! Sou um Príncipe muito rico. Toda tardinha, depois de muito trabalho, sento ao chão e observo o pôr-do-sol. É o maior prêmio que alguém pode receber, só não sabia que recebia o nome de dinheiro.



Sapo Lobato:
Somente os tolos para acreditar que sentados encherão os bolsos. Você não tem sonhos rapazinho?

Pequeno Príncipe:
Deixe me ver, acho que tenho um.

Sapo Lobato:
Uma banheira de hidro-massagem acoplada com dvd high definition super ultra xdv de tela plana slim power double deck, é esse seu sonho, não?

Pequeno Príncipe:
Não...

Sapo Lobato:
Um cargo de gerente chefe das produtoras Vila Maluca Incorporation Plaza com salários condizentes com um terço da receita bruta da venda dos sacos de risadas subtraídos da alíquota do Igcf 932 1b? É esse seu sonho, não?

Pequeno Príncipe:
Não...

Sapo Lobato:
Uma câmera hdtv seca sem lentes mas temperada com um switcher mega blaster hiper 3d? Acertei?

Pequeno Príncipe:
Na verdade, senhor Mestre Lobato...

Sapo Lobato:
Você tem sorte de me receber em seu pequeno planeta, pequenino Príncipe. Sou o representante magnânimo de uma instituição pseudo-filantrópica do 5º regimento dodecafônico intitulada Universidade. Lá você será instruído a como entrar no mercado de trabalho e a ganhar muito dinheiro. Basta seguir com régia disciplina os ditames dos professores e terá uma carreira de enorme sucesso. Poderá comprar o que quiser, banheiras, câmeras, cargos...

Pequeno Príncipe:
Muito obrigado Senhor Mestre Lobato, mas estou feliz com as coisas que tenho aqui, acho que não preciso de mais nada, quer dizer...

Sapo Lobato:
Quer dizer... hã? Hã? Hã? O que você deseja? Desembucha para o Mestre Lobato.

Pequeno Príncipe:
Uma corda e uma estaca para amarrar o bode.


Sapo Lobato:
Uma mísera cordinha e uma estaca para amarrar o bode???

Pequeno Príncipe:
As vezes ele teima em querer comer as pétalas da minha flor e isso eu não posso...

Sapo Lobato:
Ah! Está bem! Como pensa pequeno esse Pequeno! Poderá ter sua cordinha e sua estaca.

Pequeno Príncipe:
É mesmo?

Sapo Lobato:
Basta assinar aqui. Não precisa se preocupar, o vestibular é apenas um acidente geográfico fácil de ultrapassar, o que conta mesmo é quanto você pode desembolsar. Você tem dinheiro para gastar, não tem?

Pequeno Príncipe:
Dinheiro? Eu...

Sapo Lobato:
Ah, está bem, esqueça isso por enquanto. O senhor é bem aparamentado, essas roupas devem lhe render a primeira mensalidade, mais esse pequeno colar que imagino ser de ouro maciço, servirá de entrada para o segundo mês. Enquanto isso o senhor já estará apto para correr atrás dos nossos serviços de apoio ao estudante que oferece vagas de estágio em empresas de motoboys, muito conceituadas no mercado. Se for bonzinho poderá filar um emprego vitalício como atendente de buchas telefônicas. Não é preciso lembrá-lo de que toda féria conquistada deverá ser revertida para a sua formação como futuro profissional qualificado e isso, diz respeito a nós, fique sossegado.

Pequeno Príncipe:
Eu estou tonto, tudo isso me parece muito complicado.

Sapo Lobato:
Você vai se acostumar, não se preocupe. A complicação faz parte do negócio, quem pensa simples vende mais barato e não é isso que queremos como exemplo para os nossos girinos pupilos.

Pequeno Príncipe:
Girinos pupilos?

Sapo Lobato:
O senhor será um deles, todos que entram na universidade devem virar girinos pupilos, é a forma mais rápida e eficiente de se tornarem sapos como eu e, portanto, alcançar o estrelato. Não se preocupe, é questão de tempo para se acostumar a esticar sua língua para alimentar-se. Temos um pão de queijo borrachudo na lanchonete do terceiro andar que é de fácil alcance para os principiantes.

Pequeno Príncipe:
Nunca comi pão de queijo.

Sapo Lobato:
Agora vai comer. Sua primeira aula será com a professora-sapa Magaqui, depois será a vez de encontrar o professor-sapo De Poula e, por fim, terminará o período com a professora-sapa Salmento. Três dos mais respeitáveis mestres que a universidade já pôde oferecer aos seus pupilos. Você é um pequeno de sorte, ganhou uma vaga na universidade, imagine quantos outros não gostariam de estar no seu lugar mas, infelizmente, não possuem um planeta como o seu para dar em troca da admissão.

Pequeno Príncipe:
Troca?

Sapo Lobato:
Eu mesmo tomarei conta do seu planeta enquanto estiver fora se dedicando ao academicismo. Não se preocupe, cuidarei para que este pequeno solo cinza se transforme em um verdadeiro jardim de prosperidade.

Pequeno Príncipe:
O bode come duas vezes ao dia e não se esqueça de podar a flor ao menos uma vez por mês. Aqui estão as pás para revolver os vulcões. Promete que vai cuidar bem do meu planeta?

Sapo Lobato:
Não se apresse em voltar, aproveite bem a oportunidade que tem nas mãos. É o seu futuro como empreendedor que está em jogo. Absorva tudo o que há de bom e deixará de ser Pequeno para tornar-se Grande. Quero o receber de volta não mais como um Pequeno Príncipe mas sim como um Rei Gigante. Lembre-se de que a universidade é o canal para a realização dos seus sonhos. Dedique-se com afinco aos estudos e terá a recompensa merecida. Obedeça seus mestres e não crie confusões. Seja um bom girino pupilo, não rabisque nas carteiras, não faça caricaturas na lousa... e não se esqueça que 2 + 2 sempre resultará em 4! O que é, é o que é! E ai de quem diga que não é!

Narrador:
“Repetindo a galhofada do girino zombeteiro, a palavra “fósforo” foi expelida da boca do Mestre Lobato mas, dessa vez, acendeu o foguete para servir de carona ao Pequeno Príncipe que lá de cima já podia sentir o quanto o seu pequeno planeta faria enorme falta...”

“O aperto no coração foi seguido por uma sensação de aventura e descoberta. Mas o Pequeno Príncipe até então nunca havia saído de seu pequeno planeta com um destino marcado. Gostava de viajar sem ter um paradeiro certo para aproveitar melhor o sabor da novidade. As coisas mais gostosas de serem conhecidas são aquelas que nem ao menos sabemos que existem, pensava ele ao passar por um cometa apressado...”

“Olhou atentamente para o céu ao seu redor e percebeu ao longe uma pequena constelação composta por quatro estrelas bem luminosas. Duas duplas, quatro estrelas. 2 + 2 sempre resultará em 4. Engraçado observar as coisas a partir de fórmulas, nunca havia parado para pensar dessa forma. Mas funcionava e talvez fosse uma maneira mais prática de entender o movimento do universo. Lembrou-se da sua pequena flor. 6 pétalas, 3 de cada lado. 3 + 3 sempre resultará em 6, concluiu sorrindo mas sem deixar de reprimir uma lágrima de saudade que escorria tímida pelo seu rosto...”

“Enquanto isso, em algum lugar lá embaixo, a Sapa Magaqui lixava as unhas ao mesmo tempo em que ajeitava os fios rebeldes do cabelo para dentro de sua boina roxa. Levou um tremendo susto que a fez descabelar toda quando o foguete do Pequeno Príncipe aterrizou bem a sua frente. Ainda sob o impacto da visita inesperada, tirou um batom da sua bolsa de camurça, junto com um espelhinho, e tratou de se recompor...”


Cena II – Quando Pequeno o Príncipe encontra a Sapa Magaqui.

Pequeno Príncipe:
Bom dia professora Magaqui. Sou o Pequeno Príncipe e estou aqui para a aula da senhora.

Sapa Magaqui:
Como eu estou, meu pequeno?

Pequeno Príncipe:
É... bonita, eu acho.

Sapa Magaqui:
Linda? Ora que elogio mais lisonjeiro. Muito obrigada, o senhor também não é de se jogar fora. Na bem da verdade o senhor tem potencial, muito potencial. Uma hidratação nesse cabelo ressecado, aliado a algumas outras coisinhas mais o transformariam num verdadeiro príncipe.

Pequeno Príncipe:
Mas príncipe eu já sou.




Sapa Magaqui:
Ora que arrogantezinho impertinente, tão pequeno e já querendo ser o que não é. Mas eu gosto de ambição e isso o senhor exala pelos quatro cantos, dá para sentir.

Pequeno Príncipe:
Eu vim aqui para ter aulas com a senhora. Foi me dito que a universidade é o lugar onde nossos sonhos são conquistados.

Sapa Magaqui:
Dinheiro? Claro... vocês girinos pupilos só pensam nisso. Parece uma espécie de idéia fixa tal qual um imã que não larga do seu irmão ferro! O que resta a nós, pobres sapos professores, a não ser satisfazê-los? Gosta da minha boina, rapazinho?

Pequeno Príncipe:
É roxa.

Sapa Magaqui:
E é assim que o senhor vai ficar: roxo de rico.

Pequeno Príncipe:
Só quero uma cordinha e uma estaca para amarrar o meu bode.

Sapa Magaqui:
E fala por metáforas. Engraçadinho esse Pequeno. Sim! Vou te ensinar a laçar o seu chefe e quando menos esperar o cabrito vai estar atado à sua estaca. A lição de como evitar ser laçado depois que você tomar o lugar do carneiro, isso o senhor só poderá ter acesso na pós graduação.

Pequeno Príncipe:
Estou ficando sem ar.

Sapa Magaqui:
O senhor é bem apanhado, não lhe faltará também a ousadia para o mercado. E quando a gente confia em si mesmo os outros também confiarão. Aprenda principalmente a conduzir o patrão. Seus eternos “droga” e “ora pois”, tão multifacetados, são facilmente curáveis com um jantar a dois. É só mostrar-se um pouco honrado para tê-lo inteiramente ao seu lado. No início, um título é necessário para que ele acredite que a sua arte supera muitas outras artes. Logo de chegada lance paparicos aos ventos que outro durante anos só conseguiu ensaiar. Saiba bajular o ego com jeito e, com o olhar esperto e ardente, cumprimente-o com a direita ao mesmo tempo em que uma piscadela é executada com a pálpebra esquerda. Agora, se ele for ela, aí a técnica muda um pouco.

Pequeno Príncipe:
Não entendo muito do que a senhora fala.


Sapa Magaqui:
Assim que eu gosto, modéstia. Já avançamos muito por hoje. Para quem se auto intitulava o Príncipe do universo, o senhor já teve ganhos consideráveis para uma primeira aula. Trate de zelar pela ordem com afinco. São cinco horas diárias, esteja dentro ao tocar o sino. É claro que em casa o senhor se preparou, estudou os parágrafos, para depois ver melhor que o professor não diz nada além do que está no livro. Mas é assim que funciona, não somos pais nem mães de ninguém para ultrapassar aquilo que a burocracia exige; e se o senhor quer mesmo virar um sapo bem sucedido basta repetir junto comigo o seguinte refrão: pãn pã rã rãm pãm: pãm pãm. Sua vez.

Pequeno Príncipe:
pãn pã rã rãm pãm: pãm pãm.

Sapa Magaqui:
Ainda um pouco hesitante, mas melhorará com o tempo. Agora se me permite tenho um encontro surpresa no elevador para tratar da minha eleição como coordenadora do curso. Trata-se da técnica intitulada “elevator speech” em que durante o curto período de 1 minuto você deve realizar um streap-tease intelectual para seduzir seu superior. Mais tarde o senhor também aprenderá a perder a vergonha, não se preocupe. São 20 reais, por favor.

Pequeno Príncipe:
O que são 20 reais?

Sapa Magaqui:
O preço da aula. 20 reais.

Pequeno Príncipe:
E quando ela começa?

Sapa Magaqui:
Veja se não é um Pequeno Piadista. Já desconfiava que era um pobretão. Esse seu casaquinho vai servir de pagamento. Acha que ele combina com minha bolsa?

Pequeno Príncipe:
Acho que sim.

Narrador:
“Meio desorientado, meio desanimado, seguiu para a sua segunda aula. No meio do caminho começou a fazer um frio de gelar os ossos e o Pequeno Príncipe desejou ao menos ter com ele o casaquinho que havia empregado como pagamento. Pensou no seu pequeno planeta, em como ele era quente e aconchegante. Talvez nunca devesse ter saído de lá...”

“Todo esforço tem a sua recompensa, pensou consigo mesmo. E se tudo isso resultar na estaca e na cordinha para amarrar o meu bode, terá valido a pena. Olhou para cima e viu o céu todo estrelado. Lá estava a pequena constelação de quatro estrelas luminosas. 2 + 2 sempre resultará em 4. De repente percebeu que tudo poderia ser reduzido através dos números e das fórmulas. Tudo era exato, inquestionável e, por isso mesmo, descobriu que tinha perdido tempo demais observando todas as tardes o pôr-do-sol no seu planeta. Afinal de contas, pôr-do-sol tinha toda tarde e era sempre igual, sempre mais um número. Até o seu planeta era igual aos outros. Ficou triste sem saber o porquê...”

“Em algum lugar perto dali o Sapo De Poula dormia. Quando o Pequeno Príncipe chegou, o Sapo De Poula deu um pulo mas, de alguma forma, parecia que ainda continuava dormindo...”


Cena III – Quando o Pequeno Príncipe encontra o Sapo De Poula.

Pequeno Príncipe:
Bom dia professor De Poula. Sou o Pequeno Príncipe e estou aqui para a aula do senhor.

Sapo De Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
Eu vim aqui para ter aulas com o senhor. Foi me dito que a universidade é o lugar onde nossos sonhos são conquistados.

Sapo De Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
O senhor fala outra língua que não seja a língua dos sapos?

Sapo De Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
Só quero uma cordinha e uma estaca para amarrar o meu bode.

Sapo De Poula:
(um balido) méééééééé.

Pequeno Príncipe:
Não entendo muito do que o senhor fala.

Sapo de Poula:
Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
Estou ficando sem ar.

Sapo de Poula:
(levanta uma plaqueta onde está escrito: “R$ 20,00”) Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
20 reais?

Sapo de Poula:
(vira a mesma plaqueta onde está nova inscrição: “R$ 20,00, preço da aula”) Ruãbãr.

Pequeno Príncipe:
E quando a aula começa?

(o Sapo De Poula dança um tango e em seguida alcança o cachecol do Pequeno Príncipe. O veste em si mesmo).

Sapo de Poula:
Ruãbãr.

Narrador:
“O pequeno Príncipe caminhou para a sua terceira aula do dia com uma dúvida na cabeça. Se é dinheiro que querem me oferecer como prêmio pelo meu esforço, por que é que até agora fui eu quem tive de pagar por alguma coisa que não sei nem ao menos para que serve? Sentia-se cansado como nunca estivera antes. Mesmo sem arregaçar as mangas para pegar na enxada, sentia suas forças exaurirem tão rapidamente que precisava parar para tomar fôlego de tempos em tempos...”

“A saudade do pequeno planeta apertava o coração do Pequeno Príncipe. Lá tudo era mais simples e não precisava pensar em recompensas futuras porque o pouco que ele tinha já o deixava feliz. Quando levantava os olhos para o céu em busca de lembranças agradáveis encontrava a constelação das quatro estrelas e a fórmula 2 + 2 = 4 o animava um pouco. Se as coisas são como tem que ser então eu estou no caminho certo. Fácil como uma fórmula matemática...”

“Perto dali, a Sapa Salmento pulava amarelinha despreocupada...”


Cena IV – Quando o Pequeno Príncipe encontra a Sapa Salmento.

Pequeno Príncipe:
Bom dia professora Salmento. Sou o Pequeno Príncipe e estou aqui para a aula da senhora.

Sapa Salmento:
Quer ser meu amigo, pequeno pequenino?

Pequeno Príncipe:
Quero sim. O que a senhora está fazendo?

Sapa Salmento:
Estou pulando amarelinha. Gosto muito de pular amarelinha. Sabe, amarelo é a minha cor preferida, é a cor da riqueza. Dizem que verde é a cor do dinheiro e eu até concordo que seja verdade, mas amarelo é a cor da riqueza e quando eu soube que existia uma brincadeira com o nome de amarelinha eu tratei logo de descobrir que brincadeira era essa. E aqui estou eu, brincando de amarelinha. Quer brincar comigo?

Pequeno Príncipe:
Faz tempo que eu não brinco de nada, desde que eu deixei o meu planeta.

Sapa Salmento:
Que triste! Mas ainda bem que você veio para a universidade, aqui é o lugar onde tuuuuudo pode acontecer. Não precisa se preocupar com nada, nós sapos somos treinados para distrair sua cabecinha e fazer com que você esqueça tooooodas as coisas chatas que existem por esse universo feio e cinza. Cinza, caro pequenino, é toda a teoria! E verde a árvore dourada da vida!

Pequeno Príncipe:
E azul é cor que deixa o céu azul mais azul?

Sapa Salmento:
Iiiiiisso! Isso mesmo. Essa era a lição do segundo semestre mas pelo visto você andou estudando antecipadamente, né seu cdf’zinho? Mas não tem problema porque aqui na faculdade nós temos um arco-íris enorme de possibilidades para deixar você mais feliz!

(A Sapa Salmento canta e dança uma música infantil)

Trala, trala, trala la la la,
Tralala, tralala tra la la Rei!

Trele trele trele le le le,
Trelele, trelele, tre le le Rei!

Trili trili trili li li li,
Trilili, trilili, tri li li Rei

Trolo trolo trolo lo lo lo,
Trololo, trololo, tro lo lo Rei!

Trulu trulu trulu lu lu lu,
Trululu, trululu, tru lu lu Rei!

Pequeno Príncipe:
Isso tudo está me deixando tonto.


Sapa Salmento:
Claro que sim! É normal! Quando a gente brinca de rodar a gente fica tonto. E depois de parar, se você fechar os olhos vai ver que tuuuudo fica preto. Sabia que preto é a cor do gato preto?

Pequeno Príncipe:
Eu vim aqui para ter aulas com a senhora. Foi me dito que a universidade é o lugar onde nossos sonhos são conquistados.

Sapa Salmento:
Sonhos? Passa anel, passa anel! O que é que você quer do mundo? Conquistar o jardim de cogumelos dos Smurfs ou expulsar o Esqueleto do castelo de Greiscol?

Pequeno Príncipe:
Só quero uma cordinha e uma estaca para amarrar o meu bode.

Sapa Salmento:
Yuuuuuuuuuuuuuuuuuuupiiii! Barra manteiga na fuça da nega. Senhor capitão caiu no chão! Moça bonita do meu coração. Frai si, tcham tcham tcham, si o lá, tcham tcham tcham, pra sorrir, tcham tcham tcham, frai si. Adoletá lepetite letolá le café com chocolá A-DO-LE-TÁ! Ganhei! Ganhei! Ganhei! 20 Reais, por favor!

Pequeno Príncipe:
20 reais?

Sapa Salmento:
É o preço da brincadeira.

Pequeno Príncipe:
Até para brincar é preciso pagar?

Sapa Salmento:
Não sabe, não sabe, vai ter que aprender! Orelhas de burro hão aparecer. Difícil? Parece fácil? Um belo dia, um belo dia aprenderá! YYYYhhhhhóóóóó.

(A Sapa Salmento arranca o colarzinho de ouro do Pequeno Príncipe)

Narrador:
“Quatro anos foram-se embora tão velozmente quanto o farfalhar do vento que não cessava de alimentar a erudição dos professores sapo. O Pequeno Príncipe tomou o caminho de volta para seu pequeno planeta com um diploma na mão. Estava tão ansioso por rever sua terra que mal pensou em o que fazer com aquele pedaço de papel. Nem na parede poderia emoldurá-lo simplesmente porque parede não havia naquele pequeno planeta...”

“Ao chegar, trocou o sorriso pelo espanto. Encontrou o pequeno bode sobre um pequeno palquinho de madeira ilhado por diversos CDs com a inscrição: “bode’s hits parade”. O animal estava velho, rouco e a alegria parecia ter lhe escapado do rosto. A flor estava com um aspecto não menos doentio, com suas pétalas murchas de tanto serem espremidas para a retirada do perfume. Os três vulcões estavam cobertos por chapas de ferro que acabaram por tapar as pequenas crateras, evitando a saída da fumaça. Como resultado, o planeta todo vertia um negrume malcheiroso vindo do solo. Bem ao sopé de um dos vulcões, Mestre Lobado fincava uma placa de “vende-se”...”

Cena V – Quando o Pequeno Príncipe retorna ao seu planeta.

Sapo Lobato:
O filho pródigo ao lar retorna. Seja bem vindo ao meu pequeno planeta, Pequeno Príncipe.

Pequeno Príncipe:
O planeta não é seu.

Sapo Lobato:
A sua frase faria sentido não fosse o emprego do tempo verbal. Pretendo partir em breve para o ramo audiovisual e esse é o motivo pelo qual coloco à venda este modesto pedaço de terra. Há de concordar comigo de que neste pedaço de fim de mundo não há um mercado consumidor em potencial para o sistema broadcast. Não teria interesse em adquiri-lo?

Pequeno Príncipe:
O dinheiro que o senhor procura não sou eu quem vai lhe dar. Não tenho nada nos bolsos.

Sapo Lobato:
Um verdadeiro homem das pechinchas. Parabéns pela formatura rapaz, vejo que a universidade o ensinou a sobreviver no mundo dos negócios. Não é preciso me agradecer quanto ao progresso que empreendi na sua ex morada, tudo o que fiz foi em prol do desenvolvimento sustentável. Agora, se me permite uma contra proposta, aceito que permaneça nesse local sob a condição de tornar-se meu empregado. Veja que as vantagens são muito maiores para o senhor. Quantos recém formados não dariam a vida para trabalhar comigo, o futuro detentor do império broadcast high definition UVA UVB?

Narrador:
“Sorte do Pequeno Príncipe ter aprendido um pouco da malandragem estudantil com os seus colegas girinos pupilos. Não fosse isso, teria apagado o foguete com que aterrizou em seu planeta e mal teria passado pela sua cabeça despachar Mestre Lobato para bem longe no mesmo transporte...”

“Não demorou muito para que tudo voltasse a ser como antes. O bode voltou a sua felicidade dos velhos tempos, ajudando o Pequeno Príncipe com as raízes de baobás. A flor fora tão bem cuidada que agora ostentava uma cor e um perfume nunca imaginados. Os três vulcões puderam voltar a respirar e o negrume mal cheiroso sumiu como que em um passe de mágica...”

“O bode ficou sem a sua cordinha e a estaca, mas que importância isso tinha agora? A flor estava tão exuberante e perfumada que a ânsia por mastigar suas pétalas foi transformada por momentos de conversas ao pôr-do-sol. Os dois tornaram-se grandes amigos...”

“E por falar em pôr-do-sol, lá está o nosso Pequeno Príncipe sentado a aproveitar esse momento tão bonito do final do dia. E quando a noitinha já vinha, ainda conseguiu vislumbrar a constelação das quatro estrelas luminosas. Esfregou os olhos uma vez mais antes de cair no sono para descobrir que havia mais um pontinho luminoso que nas outras vezes não notara. Uma quinta estrela intrometida. 2 + 2 sempre resultará em 4? Melhor deixar as fórmulas para os matemáticos. Ele dormiu profundamente e foram tantos os sonhos que teve que no dia seguinte não conseguiu se lembrar de nenhum.

Fim!


Roteiro escrito por Francisco Egydio de Carvalho.



“Só Agora Reconheço O Que O Sábio Diz:
“O Mundo Dos Espíritos Não Está Trancado,
Teu Senso Está Fechado, Teu Coração Morto.
Anda! Banha, Discípulo, Animado O Peito Terrestre Na Luz Da Aurora”*

*Goethe.