domingo, 20 de setembro de 2009

POR QUE?


A distância estreita que separa a vida da morte, o som inaudito de um silêncio que respira por um suspiro terminal, quantos são aqueles capazes de viver de braços dados com a terrível imagem da sua própria derrocada? Um passo em falso e o abismo se abre, corajosos equilibristas que das alturas olham para baixo, anjos tropicantes que gozam da desproporcionalidade de um mundo sem sentido.

Medalhas expostas no peito frondoso dos que preferem o chão às alturas. Basta tocar as nuvens para fazer retinir o ruído oco de meia dúzia de metais fundidos.

Corajosos equilibristas que buscam as nuvens, etéreas formações de compostos inapreensíveis.

Monumentos da arrogância triunfal transformam-se em palco do espetáculo que não cobra ingressos. Olhem para cima! A pequenez daquele que desafia a vida está alojada no mais íntimo recanto dos caminhadores terrestres.

Bendita sois vós, nuvens, que do silêncio celeste abençoa e nos preenche com a nossa mais profunda insignificância de cada dia.

E por que? Para que?

Não há "porquês", somente ação: um pé depois do outro, e lá embaixo o abismo. Caminho sem volta.

Escrito por Francisco Carvalho, à 1 da madrugada do dia 21 de setembro de 2009.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MANIFESTO


Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que produz consensos, mas aquela que trabalha na contramão do aceitável.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que conforta, mas aquela que se impõe pela arrogância consciente, grito de protesto contra a voz uníssona dos elegantes mastigadores de uma vida temperada por teoremas e fórmulas degustáveis.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que fala esperando por uma resposta, mas aquela que pela força da sua articulação emudece qualquer possibilidade de entendimento.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que constrói caminhos, mas aquela que sem pedir permissão abala as estruturas apreendidas pela tradição da falsa moral, produzindo becos sem saídas.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que alimenta, mas aquela que pela carência de nutrientes esgota a saúde de quem a absorve, transformando a força de um organismo em uma massa precária de órgãos desarticulados.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que ilumina, mas aquela que acende chamas para produzir sombras e reivindicar o retorno a um saber inapreensível, terreno ainda distante das soluções ególatras dos doutores da academia.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que é ouvida em alturas melódicas que apaziguam as tormentas do espírito, mas aquela que fere os tímpanos dos afinados, transformando os timbres celestiais em berros agonizantes de um homem desamparado em um universo de forças aterradoras.

Meu instrumento de resistência é a palavra, não a que termina com um ponto final, mas aquela que tem a coragem de permanecer incompleta, companheira de reticências desconhecidas

...

Escrito por Francisco Carvalho, terça feira – 15 de setembro de 2009, às 2:00hs da manhã.