quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

INVERSÃO DOS MASCARADOS...


Ora que diabo!
O mundo está fora dos eixos
A Plateia virou ator
Aplaudindo com vigor
A mentira que por verdade falhou
Antes mostrando o esforço do mentiroso por mentir
Do que a mentira na sinceridade do seu fluir
E assim inventa quem não é
Exatamente como eu deveria proceder depois da cortina subir
E agora, depois de cerrada,
Faço-me espectador da canastrice dos que de lá gritam 'bravo'!
Uma plateia toda entusiasmada?!?!
Enganadores!
Traidores!
Tomam o que a mim por direito pertence
Com um sorriso dos larápios nos dentes!

Ora que diabo!
Bravo! Bravo!

Bravo estou eu que bom enganador não fui capaz de ser
Obrigado agora a ceder
Elogios a quem deveria elogiar-me por dever!
Pois se estão a fazer o que desejaria no princípio que fizessem, mentem!
Deveriam era odiar-me!
Esse maldito canastra que falhei em acontecer...

Que diabo, digo eu!
E agora digo reto:
Que máscara estapafúrdia é essa que pensam vestir
E com ela esconder a verdade para fazer sucesso?
Devolva-a a quem dela cuida com esmero
E não me venham dessa fraude querer cobrar ingresso!

O teatro está fora dos eixos
O palco virou plateia
E a plateia virou palco
Recanto dos traidores-enganadores
E eu, mudo, a prestar-lhes louvores!

Quem eles pensam que são?
Rir da minha cara seria uma boa opção
Verdadeira, não mentirosa
Mas todo esse mar de palmadas em polvorosa?

Tranquem as portas!
Malditos comediantes salafrários!
Travestidos de coadjuvantes
Jogam-me ao fosso dos derrotados!

Vaiem, uivem
Chega de palmas!
Não há derrota mais dolorosa que o sucesso mentiroso
Duma mentira falha por verdade mal inventada

A plateia virou canastra
E isso já me basta

Bravo, digo eu!
Que belo espetáculo!



...

...

AQUI JAZ UM ESTACIONAMENTO...


Há uma idolatria na morte. Entre lágrimas e soluços, invejamos o morto pela sua tremenda sorte. Vá com Deus, bem certo, é um lamento, mas não para esse que vai, senão para aquele que fica. Como ousa partir dessa para uma melhor? E eu aqui, forçado a continuar o baile mascarado dessa tragicomédia existencial? Mas se o defunto é um viajante de bagagem desejada – e também temida, ‘ser ou não ser, eis a questão’, já dizia o menino de mente nebulosa da Dinamarca -, há uma espécie de cadáver que não desperta qualquer admiração, antes produzindo gritos de ‘urra! Vá de reto pros quinto dos inferno!’ naqueles que, presos à vida, jogam serpentinas bendizendo tão desejada partida. Digo a respeito de um estacionamento que acaba de morrer aqui ao lado. Isso mesmo, um estacionamento bateu as botas, escafedeu, puff! Se ainda não inventaram um velório para as coisas falecidas, invento eu um epitáfio para tudo o que não vive e mesmo assim deixa de existir. Lá vai: ‘Aqui jaz todo um cemitério de piche, ontem tapete de latas quentes de alumínio sobre rodas, hoje (graças ao Senhor Amado) deserto de restos de para-lamas e pedaços soltos de molas’. E lá se foi o bendito estacionamento, e junto com ele toda a sorte de funcionários com cara de Chevrolet. Já notaram essa particularidade curiosíssima que transfere a fisionomia das pessoas que trabalham num determinado lugar os contornos inanimados daquilo que manipulam? Não é preciso ir muito longe para identificar um senhor advogado; o sujeito-das-leis-supremas não só tem cara de Ata Jurídica, fazendo levantar alternadamente uma ou outra sobrancelha dependendo do argumento do juiz corregedor, como também exala Datas Máximas Vênias debaixo dos braços, substituindo o famoso bodum dos trabalhadores braçais por uma justa reverência só reservada a quem passou não sei quantos anos tentando passar no exame da OAB. O mesmo ocorre com os médicos que, salvo a ala dos legistas-cara-de-caveira-carcomida-por-vermes-subterrâneos, nos brindam com um semblante de avental branco polvilhado de prognósticos embebidos de éter. Os funcionários do famigerado estacionamento, que hoje choram os anos dourados de pátio recheado, tinham todos caras de Chevrolet usado, fazendo de suas gargantas perfeitos escapamentos tubulares, vistas de faróis e pneus rechonchudos nas ancas laterais. Nunca a visão de uma morte pareceu tão agradável, tornando o vazio do lugar um recanto de paz inimaginável para o mais otimista dos ciclistas e pedestres. A morte de um estacionamento é uma redundância, afinal, o que é aquilo senão um cercado já cadavérico para o repouso de brucutus mecânicos ligados ao mundo pela UTI dos engarrafados? Dia após dia um Chevrolet parava ali para sugar as últimas esperanças de um dia voltar a andar nessas ruas já abarrotadas de mortos-vivos, e circulava faceiro pelas vielas estreitas, caminhos formados pela traseira de companheiros metálicos, enfileirados como num campo de extermínio. Enquanto a equipe de Funcionários-Chevrolets dava um jeito de arrumar um leito pedregoso para o moribundo, outro time, o de Lavadores-de-Quase-Defuntos, era acionado todas às vezes que a família do parente exigia um tratamento digno ao ente veicular. À essa matilha de esguichadores, uma cara de balde-de-sabão fazia imprimir a líquida função no tal asilo de cuidados paliativos. E de repente, de um dia para outro, tudo se foi, puff! Aqui jaz um estacionamento! Bendita a bomba de Hiroshima que tratou de cenografar o lugar com restos de trapos, guichês, vidros, cancelas eletrônicas, cupons e toda qualidade de lixo contaminado pela doença dos hóspedes que por lá passaram. No futuro, quando escavações trouxerem à tona os fósseis inanimados do que um dia foi um quadrado inútil de paradas imprestáveis, nossos herdeiros, pilotos de máquinas de tele-transporte, ficarão absortos com tanta idiotice, perda de tempo e falta de imaginação que a nós, prisioneiros do agora, atribuíamos com retumbante orgulho! Espero que todos os Chevrolets padeçam no inferno, que o diabo e seus diabinhos continuem a montar em suas motocas para atazanar os pecadores ad eternun, que os caminhões afundem em lagos de enxofre sulfuroso, que toda coisa que ande motorizada queime no mármore do Tinhoso e que..... bem..... e que eu, pobre de mim, encontre prontamente um novo local para estacionar meu carro maldito, dessa vez um estacionamento que empregue funcionários com cara de Ford-Fiesta (modelo retrô).

VRUMMMM Amém!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Dos muitos me resguardo....



Nasci com uma missão:
Remar contra a multidão
E não é preciso juntar muito não - 
Multidão de dois já basta
Se com eles concordo, viro um ator canastra
Quando dois firmam uma ideia
Já desconfio de que há um olhar para a plateia
Fazendo da dupla um par de palhaços
Esperando de mim aplausos ou adesão?
Prefiro não
Não me quero em pedaços
E inteiro é que vou logo acenando
Até logo então...
De braços dados comigo sigo carente
Disso que nos faz dementes:
O desejo de virar auditório da vida que temos
Para nessa miséria sem dor brilhar
Anônimos - Que maravilha!
Sem nunca fazer notar, fazendo-se ver
No triste espetáculo ao qual pertencemos...

Há mais corrupção numa multidão do que nas costas do pior cidadão...


...




segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

HÁ DIAS...


Há dias rarefeitos de poesia
Daqueles de sol apino
Sem redutos a esconder. 

Há dias de recesso dos versos
Dias adversos
De um difícil sombrear.

Há dias de calor intenso
Sobrepujando os momentos
Do triste lamentar.

Há dias de infinitas mesuras
Firmando composturas
Contrárias ao solitário vagar.

Há dias de preguiça dos dias
Daqueles de compridas horas
Alongadas no durar.

Há dias de poesias
Ha dias de saudades minhas
De quando delas tinha
Companhia e lugar.

...

POEMA DA MODÉSTIA QUE NUNCA TIVE... (?)


Quisera eu não ser tão genial assim
Para que dos normais que por gênio tomam
Nao visse mentecaptos de orelhas de abano.

Quisera eu despir-me do manto dos abnegados
Para que dos professores que por mestre entendem
Nao visse bufões de sapatos coloridos.

Quisera eu recusar a ceia dos sábios
Para que dos repastos por dedos lambidos
Nao visse salgadinhos de gordura saturada.

Quisera eu abandonar a pena dos profetas
Para que dos compêndios autografados por filosofia
Não visse receitas de auto-ajuda lacrimosa.

Quisera eu dar-te um prêmio
Por aprendiz que de mim se diz
E de reverência lhe rogar clemência:
'Ao meu leitor, com muito esmero,
Asno recalcitrante
Que por mim, doravante, tomaste por Deus
Todo sincero...

PAZ (?)...



Há uma ferocidade latente naquilo que chamamos por paz
Um quê de carnificina voraz
Trincheira de sonhos mornos e compridos
Igual ao dos vencidos -
Não aqueles de armas munidos, um dia suprimidos -,
Mas desses que nunca convencidos
Puseram seu corpo a lutar...

Há um crime hediondo naquilo que por paz entendemos
Porque na impossibilidade de inimigos inventar
Pairamos no ar
A deliberar
Sobre nada a valer
Fora tão somente ser
Esse a que em nada importa saber
E que vive de dizer:

Sou todo um pelotão, meu amigo,
A rondar a fortaleza do meu umbigo!

Há um equilíbrio funesto sustentado pela paz que tanto almejamos...
Há uma piada sangrenta nisso que por paz chamamos
Porque uma vez liberto dos perigos da bomba
Dinamitamos o espírito
E ao invés de padecermos até morrer
Morremos na vigência do ser
E de mortos-vivos nos fazemos
De sorriso no rosto porque queremos
Essa paz que já temos...

Ha uma ditadura esquisita na qualidade da paz
Uma que a todos inclui
Nessa mistura que dilui
Inimigos e amigos
Para que dos feridos - por todos chamados de 'nós',
Seja dada a promoção
Um marasmo cunhado em medalha
Um marasmo sem batalha
Um que nada inventa
Só sustenta
O soldado valente de único pelotão...

Há uma chacina em cada uma dessas três inocentes letras ...

Paz!

ANDARILHO ÀS AVESSAS...



Que diabo de coisa é essa que sou!
Quando aqui estou, vontade tenho de partir,
Ontem, quando longe estava, para cá queria vir...
Sou um desses que tem saudades até do que não vivi...

Tudo porque o aqui me condena,
Ainda que belo e sereno, pertenço ao canto que me aguarda,
Mas diacho...
Basta chegar para que eu entenda:
Essa não é a minha morada!

E lá me vou de novo, avante em nova jornada ...

E basta por o pé na estrada...
Que preguiça!
Até o caminhar já não me serve pra nada!

Que diabo de coisa é essa que sou!

É isso!
Sou um andarilho às avessas!
Um que tem preguiça de andar,
Um que desiste de encontrar,
Ficando onde está...

E se já me canso do que vejo
Melhor assim, que da tortura do não pertencer faço minhas palavras,
Essas que viajam sem o suor dos viajantes,
De mim fazendo um caminhante
Do imenso território chamado Eu...

...

APLAUSOS...


Passo os aplausos adiante
Eu por eles não confio
Alguém já viu uma plateia de colibris no exercício do aplaudir?
Ou uma matilha de lobos que ao regresso de um semelhante bem sucedido houvesse batido palmas num frenético zunir? 
A natureza não é muda aos seus méritos por acaso
O que resiste ao espetáculo da vida é tudo o que de si não faz alarde
Só a nós, humanos, é que nos foi dado o hábito do barulho
E desse, em específico - o aplauso
Não tenho orgulho!
Deus que me permita manter-me indiferente
Vivo nessa decadência a mim inerente
Tudo para não subir ao pódio enfeitado das orações
Altar supremo das adulações
Esse ao qual diminuo
Num sorrateiro partir
Sem me fazer sentir
Até sumir
...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Se tiveres dúvida...


Se tiveres dúvida sobre teu ofício, imaginando inútil o suor de teus dias, sorte tua, que percebes claramente aquilo que mais falta faz aos seus pares: as frivolidades - tempero de modéstia num mundo embotado pelos jantares inteligentes...

Se tiveres dúvida sobre tua conduta, longe do nó de gravata engomado pelas camisas alvas de linho fino, sorte tua, que sabes daquilo que falta ao mundo vestir: regatas com chinelos de dedo - refrigério para os dias quentes, abafados por tanta intelectualidade...

Se tiveres dúvida sobre aquilo que lês, desprezando os jornais, livros de auto-ajuda e toda sorte de manuais técnicos..., sorte tua, que entendes fazer falta à imaginação as fábulas infantis - histórias que na tua juventude embalavam o sono dos que hoje vivem acordados, sem nunca pregar os olhos...

Se tiveres dúvida sobre tudo isso que escrevo a ti, sorte a tua, que ainda manténs a coceira da desconfiança a atiçar o espírito - apartado que estás dos pacotes ideológicos oferecidos nas prateleiras da moralidade...

Se tiveres dúvida...
Estás vivo...
Sorte abençoada a tua!


...


domingo, 17 de fevereiro de 2013

DESPEDIDA...



Na iminência do adeus que tão logo se anuncia,
Vejo-te calma, sem saber o que planejo.
E nessa ausência de desejo,
Pouco sei o que dói mais:
A certeza que do partir comigo tenho
Ou a ignorância que sinto em ti,
Longe das suspeitas de tal engenho.
Que imagem triste a alegria dos teus olhos projeta em mim!
Rastro de pólvora que amanhã há de ter fim...
E eu de longe hei de presumir
O crime sem perdão que, covarde, não fui capaz de admitir.
Mas como partilhar dos meus lamentos, se como um cão que és, passas longe dos meus tormentos?
- Deixe estar! O destino que hoje nos condena, em breve virá com tarde mais amena...
E eu, sem pesar, levar-te-ei pelos gramados a passear.
Ah! Que desgraça é amar, quanto um dos amantes é um aspirante
Que divorciado do instante só vê no adiante um sentido do viver...
E nem é preciso dizer que esse a quem digo não é o meu amigo, mas tão somente: Eu.


...



sábado, 16 de fevereiro de 2013

PALAVRAS ENCRUZILHADAS...



Se acusam-me de fazer da página carretel de palavras frívolas
Costura de enfeites de precária utilidade
E nesse verbo enovelado
Fugir da realidade,
Que culpa tenho eu se tudo o mais morre lento num abismo sem floreios
Face cru da vida que não admite rodeios?

Desse crime me liberto
Entortando o que de reto há
Por caminhos indiscretos
Tornando a curva um inventar

E para isso me alimento 
Duma poesia de abastâncias
Essa que tapa dentro
Um não-sei-quê de extravagâncias

Abrir e 
Explodir
Expulsando o aroma acre
Das coisas que são e continuam sendo
Um prato sem sal
Servido na mesa do real

...

ONDE UM OÁSIS?



De todos os desertos que atravessei
Os piores são os feitos de gente
Multidões de faces diferentes
Que na enxurrada dos vagares
Perdem o que são
Ficando ausentes

Da solidão que comigo levo
Pouco desperdiço
Tomando o rumo que quero
Longe do buliço

Sem o outro a me ver de frente
Vejo fundo no que sou ausente
Isso que de todos faz carente
Dizendo dos muitos um seu parente

De todos os desertos que atravessei
Um oásis em mim foi o que encontrei.

...

JÁ FUI O QUE SOU...



Sou um que não devia ter nascido
Não agora e nem aqui
Um que queria ter vivido
Num tempo fora do momento

Sou um que daqui não pertenço
Vagando pelos instrumentos
Duma orquestra sem tocar

E na pausa do lamento
Encontrar um jeito de viver
Pensando no que seria
Se houvesse o retroceder...

Sou um que aqui fiquei
Sem dizer que ficaria
Se pudesse voltaria
Pra onde não posso mais

...


SER E NÃO SER...



Tal qual um cão amigo,
Levo-te junto a passear no que digo,
E na tua cega confiança não sinto perigo
De fugires das palavras que preparo para ti –
Guia de paisagens pensadas no cuidado de não perder-te de mim.
E na ingenuidade do fiel escudeiro,
Torno-me teu melhor companheiro,
Sentindo tu o que aqui dentro eu também sinto,
Enovelando-te e enovelado que somos
Pelo mesmo labirinto.
- Mas não vês que minto, ingênuo leitor?
Inventando tudo o que há só para ao outro do lado oposto da página enganar?
Ora, não te preocupes, deixe estar!
Qual outra beleza da poesia senão dar curso a um mundo que nunca houve?
E se junto a mim estás também nessa brincadeira, sorte a minha!
Que fujo da vida para fazer de ti minha cara companhia!

...



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

QUEM?



Tenho-me claro quando disse
Adeus a esse que querem a mim
Um que envereda todo assim
Na certeza do onde vai
- Quando foi que já foram indo
Sem que dele fizessem juízo?

Nos galopes da vida
As rédeas ao tédio
E ele da janela
Tudo vendo
Exceto quem era
Só partindo...

Ora, calma lá!

Se desse que dizem sou eu
Esse dele agora sou eu quem digo!
É um outro que pede abrigo
Dos muitos que são demais

Um que dos atalhos faz piada
Entortando a setas da justeza
Tropicando pelas beiradas
Sabendo pouco
Mas um pouco com clareza 

E munido da capa dos exibidos
Esse ele viro Eu
Pé ante pé vou distante
Pela alameda dos perigos
Invenção dum solitário  
Na solidão dum caminhante.

Firulas da imaginação
Dizem os peritos em verdades
Embevecidos pelo que são
Estátuas de vaidades

Pois se é assim
Condenado sei que sou
Apartado do mal
Ao que chamam de real

Um que não sei
Muito prazer
Um que vai indo
Exigindo
Até onde
Vai saber
Todo em fuga
Desse fardo
Que é viver


...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

QUISERA EU...



Quisera eu ser amanhã o que ainda sou hoje!
Que bom seria dormir quem fui para amanhecer sendo,
Esse mesmo cujos passos entende a razão do palco onde agora represento...
Ah! E sábio das deixas que outrora houvera perdido,
Agir na certeza de responder e ser compreendido...
Feliz por livrar-me das dores que já conheço,
Soprar para os distraídos um jeito de safarem-se daquilo que eu tivera sofrido.
E então, paralizar-me no sempre, bem debaixo do foco a mim reservado.
Mas como existir assim, confortado, se quem me é estranho não é o mundo, mas eu, que não importa a cena, vivo comigo endividado?
- Essa crise em nada me amofina, se contigo divido as tábuas daquilo que me anima.
E juntos nessa jornada, encontrar um jeito de morrermos ambos, sem que me sejas ausente!
Para que amanhã através do teu olhar possa não me sentir tão perdido, por um que já sei diferente.

LINHAS QUE SE ESCREVEM...



Das coisas que resolvo dizer, o que sobra são desejos
De ter dito dizendo
Aquilo que penso escrevendo.

E na ânsia de ser por inteiro,
Um rastro longo de linhas molhadas –
Fruto de coisas não ditas, só rabiscadas.

Das palavras que logo secam,
Uma bagagem lotada de ideias vazias
Soluções magníficas para um monumento já desmoronado
Todo ele perdido no desperdício do não consumado.

Assim é a escrita, uma tragédia sabida
Pelos náufragos que dela padecem.
Senhora Filosofia de pernas onduladas
Que num difícil conhecer,
Só aos sentidos se dá a saber.

Mas se ao final é impossível fazer que diga,
Orgulhoso fico do que vejo:
Uma paisagem de traços imprecisos,
Que no todo dão à página um sentido.

E não será essa a razão que importa,
Uma obra de imagem muda
Sem tradução
Conferindo a quem a vê
A tarefa da intenção?

Que delícia é escrever para não dizer...
Inventar – depois de pouco ou nada pensar – para nada contar
Só divagar!

E nessas caraminholas sem sentido
Achar um que seja bonito
Seja para dar ao dito um colorido
Ou aos ouvidos um ruído!

Mais uma vez me satisfaço se o que faço dança na rima,
Sinal de que a caneta que compõe
Da beleza se aproxima!

Essa é a graça da vida:
Jogar o que há para o ar
E na aterrissagem das palavras formadas
Encontrar o que combinar...

Escrever para não dizer...
Só nisso já mora um universo de prazer!

ALVORADAS...


Se pudesse habitaria só as manhãs,
Deixando-me morrer pelas tardes...
E voltaria à vida lá na madrugada,
Só para ver de novo a alvorada.
E no que visse o sol subir,
Novamente sucumbir.
Para sempre assim: renascendo e morrendo,
Sem fim.
E quando as cortinas da brincadeira viessem abaixo,
Inventar outra história,
Dessa vez a minha!
Uma que amanhece a toda hora,
Sem nunca precisar das tardes
Para que eu precisasse
Deixar de ser...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A AGONIA DE UM GUARDA-CHUVA...



Ao voltar para casa, na mesmice daquele caminho que por tantas vezes soube sem graça – culpa do hábito que tudo tinge com a cor cinza do já-sei-como-faz – enfim, assim como já convencido pelo tédio, atravessei com o olhar a janela do carro numa expectativa de ter nada com que me surpreender, e foi aí quando vi aquilo que nas mãos de um artista daria um quadro, e se pudesse eu fazer uso das tintas para emudecer as palavras, faria já e sem pressa, porque a imagem viva daquele fragmento de vida dificilmente com frases posso eu dar conta de pintar; mas, por triste que seja, outro instrumento que não o verbo calaria essas mãos inábeis, então tento aqui mostrar o que vi, convidando quem me lê a ver a cena que certamente já foi apagada pelo tempo, e que nem sonha mais em se repetir outra vez. A poucos metros de onde eu estava, bem no meio da calçada, um guarda-chuva agonizava. Não havia sinal do seu dono por perto, apenas o guarda-chuva, que retorcido nos seus arames já maltratados pelo uso, ali pendia torto, estatelado, sendo aos poucos dominado pelo vento que soprava. Mas a cena não estava completa, porque um pedestre que passava naquele exato instante – um desses abençoados sem qualquer ímpeto heróico, mas que registra seu feito na história somente porque estava no lugar certo e na hora certa -, esse transeunte sem nome, na humildade da sua conduta, entendeu que o objeto merecia ajuda, e não mais do que um segundo decorreu para que eu testemunhasse aquele gesto que até então só havia visto quando o vitimado era humano, e não um treco inanimado. O senhor dos seus mais de cinquenta anos, já bastante conhecedor das tragédias dos guarda-chuvas abandonados a esmo, parou ao lado daquele que pedia ajuda, e numa atitude simples de quem entende que o tempo é o principal vilão de tudo e de todos, agarrou uma das pontas da lona que sambava já totalmente desgarrada da haste metálica. Foi só isso, somente isso – tão rápido quanto um clique fotográfico, talvez um fotograma dum rolo de filme ou o tempo morto de uma sincopa no meio do barulho da sinfonia. O diálogo entre os dois sumiu, ou teve de sumir para mim, porque o sinal de trânsito abriu e eu fui obrigado a arrancar com o carro antes que o sujeito que vinha atrás rendesse alguma homenagem lisonjeira à minha conduta de condutor distraído que se deixa levar por cenas destituídas de valor quando o assunto é melhorar a tão combalida alma humana. Mas eu protesto! Aquele homem, ainda que quisesse avaliar o guarda-chuva para ver se poderia surrupiá-lo para si, num simples dobrar de costas em direção ao dito cujo, naquele curvar-se seguido do tocar as pontas da lona colorida com seus dedos tremelicantes, somente aquilo já foi suficiente para ver o que eu queria ver: a solidariedade de alguém por algo que dificilmente terá recomposta a sua história de dignidade; o encontro de despedida que a todos os instantes a vida nos dá um jeito de obrigar a participar, e que quase sempre damos um jeito de seguir em frente pela calçada, como se não fôssemos nós uma das partes protagonistas da trama em curso. Muita filosofia para um simples guarda-chuva maltrapilho, é verdade... mas são essas as melhores filosofias que guardo comigo, justamente as que nada querem dizer, dizendo tudo.    

O AQUI DAQUI A POUCO...



No conjunto das obras dessa vida, houve quem soubesse recusar o curso dos capítulos.
E no vento das páginas viradas, manter-se longe do amarelo do tempo.

A esses personagens o instante basta,
Pois fazem do que vem depois um futuro sem causa, não valendo o preocupar-se.

Já eu, que nunca me soube ver no agora, sábio do epílogo que reserva-me o adiante,
Rendo louvores a esses que vivem vivendo
E não adiando.

Como gostaria de ser assim, entregue ao que me é justo, cabendo no possível.

Mas como, então?
Se num simples poema como esse já antevejo o verso que vem depois?
Um que não foi escrito, mas avançando no que é dito, precisará ser!
Assim como o autor dessas linhas, atento ao ponto em que tudo termina,
O poeta, e também a rima.

Ai de mim,
Escrevo já pensando no fim.

Mas disso também gosto, porque misturar-se ao ocaso das coisas é mais do que fadiga assumida,
É melancolia de absoluto,
Sentido de um pleno que ralenta a vinda.

E se não vem,
Que mal tem?

Um desejar já é viver...
E mesmo que nunca no agora,
Tomo a mim essa demora,
Condenando o que sou num eterno [e delicioso!] reescrever.

...



...

ORAÇÃO DA RENÚNCIA...


Ao tamanho inapelável do papado do Papa,
O santo pontífice, sem papas na língua, disse: 
Me poupe,
E sem papo demais, ou com, vai saber...
Foi poupado!
Amém!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

SONETO DE MIM MESMO...


Sabendo-me eu, já sou movimento,
Embarcado que fui, sem que me soubesse atento.
E nessa onda da vida, haver visto sem ver,
Tudo o que me deram, na velocidade do ser.
No teatro dos outros, convidado sou a representar,
Aquilo que outrora, talvez meu coração ignorasse a amar.
E no palco das coisas armadas, esse que não sou já sendo,
Dobrar-me aos aplausos de quem?... de um que vive morrendo.
- Então desço, finalmente, para de longe ver o que poderia ter sido,
Porque uma vez poeta, nunca de tal mal haveria eu sofrido.
Que maravilha é tornar-me outro, e ainda assim imaginar,
Aquele que não existe, deixando-o acabar.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Do fundo da gaveta....

Do fundo da gaveta, uma peça de roupa.
Esquecida no fundo do bolor de memórias,
Resiste.
Um pedaço de pano que dura,
Do fundo de um tempo que não serve mais.

Servia ontem ao que eu era,
Hoje não cabe no que sou.
Lembrando sem lembrar,
Ficando me vendo passar.

De volta ao fundo da gaveta,
Esqueço de quando era minha.
Um pedaço de roupa que tinha,
Parte do que já não sou mais.

...

Silêncio...


O silêncio da noite faz inveja ao mexerico das manhãs.

Lá fora as ruas dormem, gratas pelo vazio de suas cobertas.

Quão mais belo seria o mundo se o compasso preguiçoso das madrugadas convidasse os dias a ralentar...

Mais paisagens seriam vistas.

Menos pressa em cumprir o viver.

O tempo da vida é o tempo do sono.

O silêncio é tudo, e o resto é ruído...
...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

SUMIR!



Nesse palco de tábuas impositivas
Cuja cortina já nos veio levantada
Deixo o centro para os exibidos
E lá das bordas, longe dos aplausos
Visto-me no canto dos escondidos.

Já que do teatro é impossível fugir
Por que tanta força para existir?
Esses que querem ser vistos
Podem tudo
Menos o que de melhor há para se fazer:
Fingir.

São o que são
Sempre aquilo
E com a máscara do eu mesmo
Entram e saem com a mesma expressão
Reféns do barulho duma audiência
Toda moldada e sem qualquer imaginação. 

Haja paciência!

Eu não
Eu quero falsear
Ser eu não sei como fazer
E na corda bamba da vida
Inventar quem nunca fui
Para ser

Deixar de ser para ser qualquer um
E para isso: desaparecer
Rejeitar os que querem a todo custo me ver
E com isso descobrir quem sou
Um quem nunca fui até acontecer
Para então de novo sumir.
Até mais
Prazer!

Até que enfim!
Fim!
Onde?
Cadê?
Já não mais.
Cabô.

Era uma vez
Um que não era eu
Mais uma vez.

O epílogo de uma borboleta qualquer.




Uma borboleta qualquer, do tipo de borboleta que não causaria comoção alguma, dessas borboletas que deixando de existir não exigiria do mundo outra coisa que continuar a ser exatamente o que é: um mundo indiferente às borboletas sem talento... Pois então, uma borboleta desse tipo, resolveu bater asas para dentro do vagão lotado do trem.

O doutor em direito espanava suas Datas Máximas Vênias em direção ao bicho que insistia em revoar juridicamente por sobre sua nobre cabeça, já elucubrando sobre qual seria o código referente ao crime de invasão de propriedade.

O médico interpelava o exíguo animal na base de uma conduta ética invejável aos olhos dos que sofrem a certeza de uma derrocada iminente, tentando minimizar a dor da pobrezinha com uma pancada firme do jornal que trazia enrolado debaixo do braço.

O padre fazia o sinal da cruz ao mesmo tempo em que maldizia a Deus-Todo-Poderoso em nome das criaturas esvoaçantes que vieram ao mundo sem propósito algum, desconhecendo o evangelho das lagartas, ou de qualquer ser voador que o valha, que tenha compartilhado no seu conteúdo o caridoso exemplo de algo com asas que se ofereceu em sacrifício na defesa dos companheiros de espécie.

Como é possível que uma coisa tão desimportante possa atrapalhar a concentração de elementos tão cientes da sua importância para com o destino das coisas desse mundo?

A criancinha no colo da mãe admirava-se com as batidas frenéticas das asas do bicho contra o teto do vagão, mal adivinhando que para cada sequência de ações daquela, uma energia fulgurante se esvaía da pequena borboleta, restando sabe-se lá quanto mais de força para que tudo terminasse sem a tão aguardada apoteose seguida de aplausos.

Saí do trem antes de acompanhar o epílogo da borboleta, mas consciente de que aquele pobre animal teria percorrido uma distância inimaginável para sua compleição física.

Teria a borboleta sabido disso e escolhido sua própria aventura? Ou foi o destino que lhe enfiou onde estava sem direito de apelação?

De qualquer maneira, um prêmio de distâncias percorridas seria lhe dado, caso o céu das borboletas fosse um céu justo, reconhecendo tamanho feito.

No dia seguinte embarquei no mesmo trem da borboleta da véspera...

Procurei a borboleta.

E nada de borboleta alguma.

Talvez tenha me equivocado. Talvez ela não tenha morrido. Talvez as portas tivessem se aberto numa estação distante daquela em que eu sempre salto – e que nunca visitei -, e com o que restasse das suas forças, voado para destinos desconhecidos.

Filosofia demais para mim, que dentro do vagão mais parecia uma sardinha encerrada numa lata móvel de alumínio ligeiro, mais um exemplar qualquer de muitos outros semelhantes a mim, tipos que se deixassem de existir não exigiria do mundo outra coisa senão caminhar em frente com destino à próxima estação.

Lá me fui, de novo e mais uma vez, vestido com minha elegância...

Caminhando para o mesmo lugar de sempre, enquanto durar minhas energias...      

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Por que os bueiros explodem? Parte II, acusação!



Parte II – O depoimento de defesa de Olegário-Alô, o empresário do ramo das telecomunicações subterrâneas, acusado do crime.

OLEGÁRIO-ALÔ:
Nobres colegas de infortúnio dessa metrópole alvejada cruelmente pelo misterioso fenômeno das tampas-voadoras-de-bueiro... venho aqui em resposta a desmerecida e ultrajante acusação que recai sobre estes meus velhos e cansados ombros que durante gerações e mais gerações se esgueiraram pelos subterrâneos desse solo que agora recebe vossos serelepes pés com o único objetivo de trançar a mais incrível moderna e ágil malha de fios telefônicos e com isso inaugurar a última palavra em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira proveito com seus infinitos blás-blás-blás fazendo do pobre e inocente aparelho de telefone seu alvo direto [...] Ora vejam qual proveito tiraria eu e a minha equipe de toupeiras - assim chamada porque tal como a minha pessoal mais viveu debaixo da terra do que em cima dela como agora estamos - qual proveito tiraríamos nós caso tomássemos como verdadeira essa absurda acusação de que coube a nós plantar bombas dinamitatórias no subsolo dessa cidade e com isso fazer explodir e voar as tampas de bueiro escrevendo nos anais dos desastres improváveis o curioso e misterioso fenômeno ao qual ficou conhecido desde então como o caso das tampas-voadoras-de-bueiro? Ainda se eu fosse um assassino contumaz ou um gângster foragido quiçá um assaltante de banco que encontrou nos túneis debaixo do asfalto a sua morada invisível mas não [!!!] convoco cada um de vocês para um tour no escuro das nossas galerias enfeixadas pelos fios encapados que trançados juntos formam a mais incrível moderna e ágil malha de fios telefônicos a verdadeira e última palavra em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira proveito com seus infinitos blás-blás-blás inúteis e capciosos tornando o pobre e inocente telefone uma vítima indefesa dessa balbúrdia verborrágica [ENFIM] convido-os todos e garanto que depois de algumas esquinas dobradas qualquer denúncia cairá por terra haja vista o meu enorme cuidado em preservar esse ainda intocável recanto de paz e sombra que repousa escondido no andar-dos-inferiores  [...] Ora vejam eu acusado de plantar bombas dinamitatórias e explosivas justo eu que desde criancinha apaixonei-me pelo subsolo e os seus encantos ah senhoras e senhores parece que foi ontem o dia em que distraído ao empinar uma pipa tropecei e fui escorregar para dentro de um poço profundo e fiquei ali na companhia solidária de alguns ratos mas não esses ratos feiosos que aparecem de vez em quando na superfície de vossas casas para surrupiar pedaços abandonados de comida não não os ratos lá de baixo portam-se como verdadeiros gentlemans e não raras vezes superam em galanteios as firulas ensaiadas pela corte real da Inglaterra [!] e como o resgate demorava a chegar qual não foi a minha surpresa quando um dos ratos de nome Adamastor veio até mim e convidou-me a um passeio pelo reino dos caminhos escondidos e eu fui é claro afinal de contas quem é que poderia recusar uma aventura por lugares nunca antes desbravados e ainda com a promessa de enfrentar desafios incríveis como o da travessia do lodo-fedorento-do-esgoto em cima de uma canoa de bambu [???] Quem iria desconfiar que a minha pessoa demoraria a sair dos subterrâneos [...] alguns já me davam por morto e que tristeza foi descobrir que uma lápide com o meu nome foi colocada no cemitério municipal com direito ao aqui jaz fulano de tal reza em latim e tudo o mais [!] porque uma coisa eu digo senhoras e senhores a vida lá em baixo é infinitamente melhor do que essa fanfarronada enlouquecida que todos vocês aguentam por aqui no teto do mundo e se eu digo isso é por conhecimento de causa afinal de contas eu vivi lá por uma infinidade de anos dessa minha vida e se hoje eu estou vivendo novamente na superfície é em razão unicamente da violenta exploração metroviária que os digníssimos ministros dos transporte insistem em empreender arrasando com toda e qualquer tranqüilidade que há séculos reinava onde antes buraco nenhum ousava ser escavado {...} agora caber a mim e a minha equipe de toupeiras - assim chamada porque tal como a minha pessoal mais chafurdou debaixo da terra do que em cima dela como agora estamos – esse ignominioso ato de violência descabida que consiste em explodir o subterrâneo com artefatos bélicos e dinamitatórios e com isso fazer explodir e voar as tampas de bueiro escrevendo nos anais dos desastres improváveis o curioso e misterioso fenômeno ao qual ficou conhecido desde então como o caso das tampas-voadoras-de-bueiro? Ainda se eu fosse um pobre diabo, um zé ninguém, um bêbado de esquina que não encontrasse outro jeito mais inteligente de empreender uma vingança da qual os senhores são bastante merecedores primeiro por furar como um queijo suíço o recanto de milhares de ratos elegantes e inofensivos para fazer passar vossos trens de alta velocidade segundo porque nunca durante minha vida recebi uma única homenagem um diploma medalha de honra ao mérito quiçá a chave da cidade pelas mãos do prefeito por contribuir de maneira tão decisiva na implementação de tão criteriosa rede de fios encapados e enfeixados banhados a ouro e que trançados juntos formam a mais tecnológica moderna e ágil malha de fios telefônicos a verdadeira e última quintessência em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira proveito ao zombar com seus infinitos blás-blás-blás inúteis capciosos grotescos e indigestos tornando o pobre e inocente telefone uma vítima cruel e indefesa dessa balbúrdia verborrágica que é expelida de vossas gargantas tagarelentas e cujo fim não é outro senão somente passar o tempo em companhia de fofocas gelatinosas [ENFIM] senhoras e senhores bem que eu poderia encampar uma dinamitagem-bueiral na esperança de cortar vossas cabeças pensantes com um desses disco metálicos ejetados do chão mas acreditem eu não tenho nada a ver com o pato e se quiserem maiores informações pistas ou indícios melhor seria conversar com o Adamastor em pessoa ou melhor com o rato...

No próximo episódio: o Depoimento de Adamastor, o rato...