Há uma despedida definitiva em cada despedida de um cão.
Do que faço para evitar o drama do adeus, ensaiando passos silenciosos toda vez que ponho-me a sair, nada livra-me daquelas orelhas criteriosas, especialmente treinadas para saber onde estou.
Assim, no meio da minha pantomima muda, ouço seu andar - um tic-tac de unhas invisíveis, ressoando ritmadas através do corredor... e cada vez mais perto.
Então, apresso o passo na esperança de que pelo menos a cena não ganhe contornos melodramáticos, unindo mocinho e mocinha num enlace de exagero típico dos fabricadores de novelas.
Tarde demais... Se houvessem violinos, lá estariam eles para ferir as cordas num lento-majestoso.
Ele primeiro me vê, murchando no rosto as rugas da última dúvida que restava sobre a certeza do meu criminoso e iminente ato de abandono provisório, esse mesmo ato que aos olhos de quem me vê parece eterno.
Num cambaleio de quem diz por que já vai? Enrosca-se por entre as grades e ali fica, de olhos murchos a fitar o caminho por onde imagina que irei sumir.
Não resiste. Só lamenta.
Tento dizer que voltarei em breve, mas o que é um breve para quem o instante é tudo o que há? Nem antes nem depois, um presente de presença imediata onde minha falta representa uma morte dolorosa.
Coço o seu focinho e recebo uma lambida.
Há uma despedida definitiva em cada despedida de um cão, diferente de mim, que saio de cena à prestação, acreditando nos entreatos de ausência como meros respiros de um espetáculo cujas cortinas estão à serviço do meu protagonismo.
Vou embora, e percebo que o melodrama sou eu, o único a precisar desse registro de memórias para tratar dos meus remorsos existenciais, todos eles sempre à espera de lamúrias lacrimosas...
E dessa vez avivadas por uma simples despedida...
Não de alguém, mas de um cão.
Em sua despedida o cão é trágico, inteiro na sua queda, silencioso em sua perda.
E eu aqui, remoendo os barulhos do que sou, fazendo cena para que me vejam existir.
Do que faço para evitar o drama do adeus, ensaiando passos silenciosos toda vez que ponho-me a sair, nada livra-me daquelas orelhas criteriosas, especialmente treinadas para saber onde estou.
Assim, no meio da minha pantomima muda, ouço seu andar - um tic-tac de unhas invisíveis, ressoando ritmadas através do corredor... e cada vez mais perto.
Então, apresso o passo na esperança de que pelo menos a cena não ganhe contornos melodramáticos, unindo mocinho e mocinha num enlace de exagero típico dos fabricadores de novelas.
Tarde demais... Se houvessem violinos, lá estariam eles para ferir as cordas num lento-majestoso.
Ele primeiro me vê, murchando no rosto as rugas da última dúvida que restava sobre a certeza do meu criminoso e iminente ato de abandono provisório, esse mesmo ato que aos olhos de quem me vê parece eterno.
Num cambaleio de quem diz por que já vai? Enrosca-se por entre as grades e ali fica, de olhos murchos a fitar o caminho por onde imagina que irei sumir.
Não resiste. Só lamenta.
Tento dizer que voltarei em breve, mas o que é um breve para quem o instante é tudo o que há? Nem antes nem depois, um presente de presença imediata onde minha falta representa uma morte dolorosa.
Coço o seu focinho e recebo uma lambida.
Há uma despedida definitiva em cada despedida de um cão, diferente de mim, que saio de cena à prestação, acreditando nos entreatos de ausência como meros respiros de um espetáculo cujas cortinas estão à serviço do meu protagonismo.
Vou embora, e percebo que o melodrama sou eu, o único a precisar desse registro de memórias para tratar dos meus remorsos existenciais, todos eles sempre à espera de lamúrias lacrimosas...
E dessa vez avivadas por uma simples despedida...
Não de alguém, mas de um cão.
Em sua despedida o cão é trágico, inteiro na sua queda, silencioso em sua perda.
E eu aqui, remoendo os barulhos do que sou, fazendo cena para que me vejam existir.
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