sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Palavras, palavras, palavras...


Se eu pudesse convergir o que penso em música, e das palavras escritas fazer matéria de pautas dançantes, premiando o pensamento com o disputado troféu do calar-se, e sorrindo pelas cadências das formas melódicas convencer o leitor de que nada tenho a dizer a não ser o que ele quiser ouvir, satisfeito ficaria com tão preciosa contribuição.

Um parágrafo viraria movimento, e como os naipes de uma orquestra, cada coisa soaria no seu tempo, sem pressa de ser entendida.

E que valor haveria ganho o silêncio, tão raro nisso que chamamos de entendeu o que eu disse? Sem nada para dizer já seria um início, e ainda que fim, todos os sons precedentes elevaria o vazio da pausa ao prestigiado recanto do descanso.

De todos os esforços inúteis a que minha cabeça emprega firme labuta, o mais desgraçado deles é a vocação dos miolos em insistir nas palavras como formadoras de ideias. Antes mesmo de ver o mundo, e no silêncio deixar que ele siga em frente na sua preguiça anti-literal, lá estou eu na ingrata tarefa de produzir legendas do que não me foi autorizado traduzir. E quanto mais força para extrair de mim uma impressão do que quer que seja, são ideias que aparecem a servir-me à cena, e a essas eu não devo reverência alguma.

Eu queria o divórcio das ideias pensadas, não tenho talento algum para cimentar o muro dos significados, esse sim o das lamentações!

Quisera eu que a minha cuca funcionasse como regente de uma bela orquestra!

Recuso o ofício de escrever, ou mesmo pensar e existir, se através dele não vier junto o floreio fundamental que necessariamente nos faz sorrir, fugindo disso do qual sabemo-nos reféns: a vida, essa mesma vida com que se pode tocar, e pelo toque comprovar tudo o que está aí para ser comprovado.

O que seria de mim sem as coisas que não existem, perdendo-me nas certezas dos profetas da ciência objetiva...

Que preguiça das ideias pensadas...

Cansei delas por hoje...

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