domingo, 6 de maio de 2012

O que a música e os músicos me ensinam...



É uma parte, apenas uma parte, pensada e executada na plenitude do seu significado, da sua sensação e importância em relação ao resto. Uma fração que sozinha pode não ganhar a dimensão do que representa, mas quando combinada com as outras vozes que a circundam, aí sim, eis a potência que germina. Uma frase, não uma sentença completa, uma sílaba, talvez apenas uma letra, só o suficiente para deixar espaço para que o diálogo se estabeleça, uma escuta do vazio, da pausa e do silêncio. Silenciar para poder falar, se ausentar para poder estar. Um traço, somente um traço, executado como se fosse a manifestação divina do primeiro sinal de vida no universo. Um batismo que ainda irá eclodir. Não há inteireza no particular, não há universos completos, nunca se chega a apoteose alguma na solidão do íntimo, mas é nesse lugar que é preciso investir, não para se contaminar com a poesia do coração - qualquer coração, por mais especial que seja, nunca estará a frente das forças que movem o universo -, mas para o tornar pulsante, único e atento aos órgãos vizinhos. Busca-se o universal, as grandes instâncias geradoras da vida, ousa-se investigar os campos misteriosos da metafísica, de outra maneira, não valeria a pena investir nos canais da percepção. A vida que conhecemos é por demais sem graça para virar protagonista de qualquer coisa. O particular, entendido como fração, ganha preenchimento e força, é ao mesmo tempo único e global, faz parte e é ao mesmo tempo o organismo que representa. Tudo em um, o um no todo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário