segunda-feira, 8 de abril de 2013

NA FILA...




Este homem que na minha frente aguarda a sua vez na fila, não o conheço.
Não sei o seu nome... sua profissão, se tem filhos ou não...
Nada disso sei!
Provavelmente nunca o voltarei a ver, e isso não me causará sofrimento algum
E tampouco a ele, garanto!
Faremos ambos em breve uma bela de uma despedida sem que nenhum dos dois se despeça...
Exatamente como ocorreu em nosso encontro:
Um encontro dos mais prazerosos sem que houvesse encontro algum,
Um ‘Bom dia, como o senhor vai?’ sem o tal do ‘Bom dia, como o senhor vai?’...
Foi esta fila, que pouco serve para colóquios íntimos, que íntimos nos deixou
Se eu quisesse eu poderia tocá-lo, estender a mão e num gesto enfático sacudi-lo para fora da sua indiferença:
“Ei, Fulano de Tal, eu estou aqui, olhe!”
Mas isso não fiz!
Fui indiferente também
E, assim, um para o outro
Estrangeiros morremos.

Que diabos de seres replicados são esses que somos!
Um pacote de carne e ossos sem originalidade alguma – todos formatados nesse mesmo molde, coisa já patenteada pela divina providência...
E este homem, este bendito homem anônimo que na minha frente aguarda a sua vez na fila,
Este homem que eu já disse não conhecer,
Este homem que mal se deu ao trabalho de me cumprimentar... eu o conheço!
Somos ridicularmente próximos, eu a ele, e nós dois aos outros todos dessa mesma fatídica fila!
Que sensação abjeta essa a de se expor publicamente ao vizinho, sujeito cujo focinho não difere em nada do meu!
Todos tão semelhantes, um sendo vitrine da mesma oferta barata do outro!
Saiam daqui!
Xô!
Livrem-me desse pesadelo de ser perseguido por quem não conheço, há muito conhecendo sem que seja preciso conhecer!
Que dor gigantesca é viver ao redor dos muitos,
Que solidão!
Recolho-me
Fujo
Um cão é do que preciso...
Um amigo que não vista esse tenebroso disfarce ao qual eu mesmo fui condenado a vestir...

O mundo é uma fila
Uma gigantesca e indiferente fila formada pelos vários de nós
Essa é a maior das tragédias...

...

...

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