segunda-feira, 8 de abril de 2013

CAMAROTE...



De camarote vejo a rua passar
E por ela todo um desfile de alas fantasiadas para a vida - 
O homem de terno, que pela cadência do caminhar deve repetir o mesmo itinerário há séculos, na
mesmíssima constância dos elegantes passos - será que ele desconfia minimamente da imponência forçada das passadas que tem?...
Os estudantes com a sua inconfundível cara de tédio, pesarosos pelas inúteis matérias que o quadro negro em breve lhes enfiarão goela abaixo - será que suspeitam disso, ou a justa reação às bobagens da academia é tão somente um reflexo natural da proximidade com a sabedoria da infância?...
A mulher balofa que mastiga algo, distribuindo suas enormes fronteiras à medida que avança, na certeza inviolável de que prazer maior não há senão o de abocanhar um belo quitute amanteigado - quem será aquele a convencê-la de que banquete maior ainda está por vir, a sete palmos andar abaixo?...
O senhor de bigodes compridos, sentado num banquinho a folhear o jornal do dia, cujas notícias são as conhecidas ladainhas de sempre...
O mendigo pestilento que sem reserva alguma trava longas contendas consigo próprio, já bastante próximo da senilidade poética dos malucos enjeitados...

Enfim,
Todos a sambar, juntos na passarela da vida...
Mas poucos desconfiam que a ela falsificam
Certos de que viver é matéria sem razão de ser, bastando para tal, ao mundo acontecer...
Negligentes, é o que são!
Existem impunemente!
Bom, talvez seja bem isso, e eu é que esteja equivocado nesse meu parecer
O camarote onde vivo não me faz crer, só ver os que vivem, sem saber...

O que seríamos de nós se compreendêssemos o que de fato somos: - bobos-da-côrte à espera do aplauso alheio, moldando o rosto na expectativa de ao outro melhor servir?
Talvez vida não houvesse
Porque o segredo para a ela suportar está na inconsciência das suas exigências...
E burros agimos,
Se conscientes, morreríamos...

Tarde demais para mim
Que daqui de longe entendo a brincadeira
Ou sorte, talvez
Se não vivo ausente da farsa
Fraseio consciente
Porque dela, ainda que distante, sirvo-me plenamente...

O que dói é a certeza de me conhecer - fraco e dividido ao meio, um inteiro que jamais haverei de ser...

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