quarta-feira, 3 de abril de 2013

ERA UMA VEZ UM ASSOVIADOR...



Assoviava tão bem, mas tão bem, que logo chegou aos ouvidos do rei – não o assovio, mas a informação de que tratamos conhecer -, que ele, o assoviador de canções belíssimas, podia canalizar qualquer sopro de vento para alturas melódicas nunca antes alcançadas por beiço algum. Foi de imediato levado à presença do monarca, ocasião em que ele, o assoviador de canções belíssimas, pintou o ar com toda a sorte de escalas musicais, deixando toda a corte de boca aberta. Foi contratado, e para cada desfile real, levava-se ele, o assoviador de canções belíssimas, para abrir o cortejo pelo qual o rei imprimia os seus magnânimos passos. Até que, um dia, curioso por saber o seu nome, não o meu – esse que vos descreve tão curioso relato, e tampouco o seu, que me lê na descrição de tão curioso relato -, mas o nome dele, o do assoviador de canções belíssimas, o emissário da alta cúpula mandou-o chamar. Ele, o assoviador de canções belíssimas, foi ao encontro do rei, e, inquirido por abrir a boca dessa vez não para assoviar canções belíssimas, mas para pronunciar o seu nome, ele, o assoviador, revelou-se fanho. Foi decapitado na mesma tarde, sem honras nem pompas. Soube-se, muito tempo depois, quando o assombro da sentença já havia sido digerida, que o antigo adversário da monarquia vigente era um general fanho, descendência que de imediato foi atribuída ao assoviador de canções belíssimas, que, se tivesse tempo de dizer as suas últimas palavras talvez não dissesse palavra alguma, e sim assoviasse uma marcha fúnebre qualquer...


obs: Nunca se soube o seu nome, não o meu – esse que vos finaliza tão tenebroso relato, e tampouco o seu, que me lê na descrição de tão tenebroso relato -, mas o nome dele, o do ex-assoviador de canções belíssimas...


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