quarta-feira, 3 de abril de 2013

#13




Afaguei o meu cão
Torno confesso o gesto
Com a mão que vos escrevo
Essa que tudo inventa e nada sustenta
Foi com ela
Com a mesma mão que meus irmãos assinaram tratados, rolaram inventos, moldaram as nuvens da poesia...
Foi com ela
Com minha mão
Que desisti de tudo
E afaguei o meu cão...

Que outra nobre função há
Senão dela desconfiar
Dessa garra de inapreensíveis intentos
E aos dedos pedir paciência
E no exercício da ausência
Então afagar 
A cabeça de um cão...?

Venderia as minhas filosofias não escritas
O desejo de empunhar armas benditas
Abandonaria meus gestos de amor abstrato
Em favor de um simples contrato
Deixando-me correr através dos pelos de um cão...

Há uma salvação possível em cada gesto não previsto
Desses que desafiam o desejo de poder
De algo a se ter ou compreender
Há uma especial pausa na ação
Dessas que não encontram padrão
Senão na alegria de se afagar a cabeça de um cão



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