segunda-feira, 1 de abril de 2013

A HISTÓRIA DE UM HOMEM HONESTO...




A fascinante trajetória do saneador da municipalidade de Fedorópolis, o limpador de fossas Sr. Silvano Soares-Sanado, comprova-nos, ainda que com a pulga atrás da orelha, que o homem - a despeito da sua incomensurável inclinação à canalhice -, pode, com hercúlea força de vontade, terminar a vida na ala da honestidade.

Depois de anos dedicando-se aos subterrâneos lamacentos e mal cheirosos da municipalidade de Fedorópolis, o Sr. Silvano Soares-Sanado, o saneador e limpador de fossas de Fedorópolis, sujeito completamente desconhecido para todo o restante dos narizes que viviam a fungar os odores dos campos elísios, enfim, esse mesmo coadjuvante da existência que do seu ofício liberava seus irmãos do trabalho sujo de ver escoar as suas imundícies, esse, cujo nome já dissemos ser Sr. Silvano Soares-Sanado, conseguiu, então, depois de décadas de entrega anônima ao esgoto público, aposentar-se e galgar a superfície dos justos e merecedores.

Logo no seu primeiro dia de vento fresco na cara, o Sr. Silvano Soares-Sanado, agora recém ex-saneador e limpador de fossas da municipalidade de Fedorópolis, deparou-se com um cego num entroncamento de ruas, ele, o cego, pobrezinho, inerte na difícil circunstância de decidir qual caminho tomar. Não só ajudou o pobre diabo sem vistas como também o levou até a sua casa, tudo na maior ingenuidade, sem desconfiar que sua boa ação estava sendo seguida pelos cliques fotográficos do Sr. Alberto das Alamedas-Codaque, repórter oficial do diário de notícias de Fedorópolis, o falacioso Folhetim-das-Tantas.

No dia seguinte, o já confirmado ex saneador e limpador de fossas da municipalidade de Fedorópolis, o Sr. Silvano Soares-Sanado, aparecia estampado na primeira página do falacioso Folhetim-das-Tantas - diário de notícias altamente falacioso da municipalidade se Fedorópolis -, ele mesmo, o Sr. Silvano, eleito pela foto do Sr. Alberto das Alamedas-Codaque, o fotógrafo, como o novo exemplo de dignidade que jamais houve Fedorópolis conhecer desde a sua remota e mal cheirosa fundação.

Tornou-se famoso, e, a partir de então, requisitado para servir de exemplo para tudo quanto fosse assunto em debate - desde os procedimentos ecológicos a serem respeitados no plantio de mandiocas silvestres, até as mais filosóficas contendas que exigiam apuro intelectual na escolha do ardil retórico capaz de convencer o mais idiota dos interlocutores...

Um dia acordou, o nosso Sr. Silvano Soares-Sanado, ex saneador das fossas de Fedorópolis e agora emérito cidadão de Fedorópolis, e, num arroubo nostálgico, sentiu uma saudade imensa das ratazanas do andar de baixo. As baratas também o seduziam, na sua silenciosa marcha rumo aos becos escuros. Largou todas as comendas de honra ao mérito que havia ganhado na superfície e voltou de imediato para os subterrâneos lodosos, lá onde, parece, morreu há muito tempo, sem que houvesse uma notícia sequer do seu fim... "Há sempre uma forma honesta de terminar a vida." Foi o que o Sr. Silvano Soares-Sanado teria dito, se tivesse oportunidade de o fazer, para o repórter do Folhetim-das-Tantas, o Sr. Alberto das Alamedas-Codaque.

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