segunda-feira, 1 de abril de 2013

A TRAGÉDIA DO CONTRA-REGRA...



Um tal de Sr. Fulano de Tal da Silva e Qualquer Coisa que o Valha - seu nome real nunca de fato ocorreu a alguém perguntar, de modo que passou para a história como mais um Sem Nome, membro emérito dessa mesma família que faz lotar o mundo de hoje -, enfim, esse Tal Aí cujo nome é ou foi um mistério, era o contra-regra oficial do Teatro Municipal da cidade de Monta-Cenas.

Depois de anos de fiel labuta escondido no escuro dos urdimentos dos bastidores, fazendo com seu suor subir e descer os mil e um artifícios que a arte dramática inventa para agradar o mais desiludido dos diabos da terra, enfim, depois de anos de árdua dedicação, finalmente, o Sr. Sicrano do Não Sei Que Lá, contra-regra oficial do Teatro Municipal da Cidade de
Monta-Cenas, convenceu-se peremptoriamente de que a vida é de fato uma gigantesca e escabrosa farsa.

Convencido que estava dessa sua tardia e mais que embolorada descoberta, adentrou numa crise profunda, dessas de derrubar cavalo na cocheira, coisa que só seria sanada, diziam os especialistas das baias psicológicas, caso o Sr. Quem Eu Não Sei mergulhasse a fundo nessa tal imaginária farsa que imaginava ser a vida.

E foi exatamente o que ele fez. Após um período longo de insistências - e também de estudos e aulas práticas que compreendiam as matérias de expressão, elocução e movimentação cênica -, o Sr. Sabe-se Quem, antes contra-regra do Teatro Municipal de Monta-Cenas, agora conseguia um pequeno papel, como legítimo ator, diga-se, na nova peça a ser levada em cartaz pela tradicional e altamente bem avaliada Cia Dramática de Monta-Cenas.

E eis que se deu a tragédia que no título desse colóquio literativo anunciamos! Na noite da estreia, antes de soar o terceiro e último sinal, na iminência do abrir das cortinas de veludo vermelho, o diretor do espetáculo, o conceituadíssimo Sr. Mestre Constantino Celso Filho, chama o Sr. Quem Mesmo(?) a um canto escuro e diz-lhe claramente para que ele evitasse os gestos exagerados, que pensasse em ser o mais verdadeiro possível, fugindo das caricaturas e posições armadas. Sem qualquer explicação aparente, o Sr. Beltrano do Nascimento, antes o contra-regra do Teatro Municipal, e, agora, quase ator, avança na goela do Sr. Mestre Constantino Celso Filho, sufocando-o até a morte. Quando as cortinas sobem, o que se vê é um cadáver verdadeiro, num quadro em que, mal estreado nos palcos dramáticos, confere ao Sr. Misterioso o primeiro aplauso em cena aberta.

Hoje preso na penitenciária municipal de Monta-Cenas, o Sr Presidiário número 354 virou um qualificado diretor de teatro, dirigindo um coletivo de presos em espetáculos absolutamente farsescos e inusitados...

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