quarta-feira, 17 de abril de 2013

ABUTRES...




Nasci atrasado, 
Ou errado
Filho bastardo desse século de carniceiros de intimidades
Querem meus segredos revelados 
Sem que os conheça, os autores do inquérito...
Sorriem a mim chamando-me de querido
Querido, eu?
Eu que deles não faço ideia
Nunca os vi, nem aqui nem ali 
Fazem de mim irmão, sem que parente seja
O meu sangue estrangeiro entendem por semelhante
Mas semelhança onde? Justo eu que por saúde não elejo padrinhos! 
Quem pensam que são?
E tudo na mais alta simpatia 
Exigindo sem força evidente um sorriso entre os dentes
São perigosos, esses!
Ainda se formassem um exército de armas às vistas
Mas não, guardam atrás do charme a seta venenosa dos seus pudores degenerados
Querem de mim saber, a toda hora, a todo instante!
E então, triste reconhecer, também refém me torno
Porque de mim vivo inquerindo quem é esse alguém
Tentando próximo do que sou me tornar 
Mas se isso faço, agora vejo, descubro não um que aparece
Mas milhares de outros que desconheço
Os da sombra que por lá habitam
Outros de mim de continentes diversos
De línguas estranhas
De potências imprecisas...
Assim me despeço
Desistindo de conhecer
Nasci errado
De fraque e cartola num mundo de despudorados
Esses que arrastam chinelos 
Das minhas pegadas espezinhando razões de ser
Não vim ao mundo para algo dizer
Vivo nos becos
Sem aparecer
Sobrevivo, é isso!
A me esconder...
Um pouco de paz
Somente um pouco
De
Paz!

...

...

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