segunda-feira, 11 de março de 2013

SE SOU, JÁ NÃO SOU...




Quero-me longe do pertencer
Já me basta viver
Maldita mania é essa a dos contrários
Ou se é uma coisa, ou outra
Nunca havendo um jeito de dizer:
Nem essa, nem aquela

Se digo não
Sou adversário
Se consinto
Já minto
Afirmando ou negando 
Incorro em grave desmando...

Ora essa!
Vão todos ocupar vossas casas no tabuleiro
Meu jogo não é certeiro 
Não sou juiz de nada
Não visto capa nem espada
Não defendo 
Não ataco 
Sou antes uma peça sem lados
Uma única de princípios nublados

Se a mim oferecessem o camarote da existência
(Ah, que alívio seria!)
Nele subiria 
E sem qualquer resistência
Lá de cima morreria
Não de verdade (piedade!) mas de rir
Dessa farsa que aqui debaixo forçam-me a aderir...

Condenado a flutuar,
Flutuo na descrença do consenso
(A mim não há maior bom senso!)
E se peco
É antes por falta de adesão 
Do que por sisudez de opinião... 

Às vezes até a vida causa-me fastio
Quando do dia a noite opõe:
De um canto o sol do outro a lua
E eu o que faço? 
Ao qual dos astros devo contrato?

Renuncio!
Sou das alvoradas
Dos poentes
Dos limpos firmamentos
Um descrente...

Se a história é uma passagem
E dela como fugir não tenho
Para que mentir
Crendo-me alguém de emblemas plenos?

Sento-me na janela
E da paisagem não vejo miragem
Só imagem, que nada retém
Nem o mundo
Tampouco a mim
Que indo 
Vou também...
  
Que desgraça são os aliados!
Será que não percebem esse jeito torpe de existir?
Um que invoca todos a votar
Seja pra lá, seja pra cá
Inventando um canto de fuga impossível 
Longe do que por certo há de concreto:
O perecível...


...



...

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