segunda-feira, 11 de março de 2013

PEQUENA FÁBULA TRÁGICA DE UM ATOR SINCERO...



Ao ator que durante séculos à mentira dedicara,
Espetáculo curioso a vida um dia lhe aprontou...

Ao erguer das cortinas depois de ao palco subir,
Viu na plateia uma gorda rechonchuda espalhando suas fronteiras por toda a primeira fila, 
Toda ela empenhada em rir antes mesmo dele a boca abrir...

No que abandonou máscara, 
De cara limpa dirigiu-se à matrona-de-ópera:

"Por que ris de mim, sua montanha de gente?
Tuas banhas já não são motivo suficiente para rolar ao chão de tanto gargalhar?
O que vês em mim de tão especial?
A tua ínfima existência já não és um teatro inteiro de comédia para exigires desse solitário palhaço que sou o sentido da personagem que tu representas sem saber?"...

A balofa armou um beiço gordo de choro, e calou-se...

Então um tiro foi disparado do escuro da plateia...

O ator cambaleou e caiu, afogando numa poça viscosa de sinceridade...

Por fim, morreu...

O público irrompeu num aplauso estrondoso, nunca antes visto nos espetáculos dramáticos.
Todos voltaram satisfeitos para suas casas...
Menos o ator, que para o cemitério fora conduzido, sem poder receber o prêmio de melhor interpretação que por tantos anos, como canastra, não conseguira sequer ser lembrado como candidato.


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