Saulo Sabóia, o saltador de saltos ornamentais de declives e
penhascos altíssimos para o fundo das águas oceânicas, tivera uma vida
esplendorosa. E dizemos exatamente assim: ‘tivera’, no ‘mais-que-perfeito’,
porque ele, Saulo Sabóia, o saltador de saltos ornamentais de declives e
penhascos altíssimos para o fundo das águas oceânicas, morreu, e morreu depois
de ganhar todos os prêmios possíveis ao saltar de declives e penhascos
altíssimos para mergulhar fundo nas diversas águas oceânicas que compreendem os
nossos quatro oceanos – o Índico, o Pacífico, o Atlântico e o do Norte. Lá
estava ele, Saulo Sabóia, a executar a sua partitura de aquecimentos e
contorções musculares no topo altíssimo dos declives e penhascos altíssimos,
pronto para despencar esguio, executando toda a espécie de piruetas e
cambalhotas no ar, antes de furar como um prego a superfície escura das águas
profundas que compõem o circuito de saltos ornamentais, escolhido a dedo pela
junta de jurados dessa que era, ou ainda é, a mais conceituada, [e por que não
dizer única?], competição de saltos ornamentais de declives e penhascos
altíssimos. Pois ele, Saulo Sabóia, morreu, e morreu num salto, ou melhor, num
assalto, depois de esticar ambos os braços na mesmíssima posição que antes
fazia, mas não em terra, e sim no topo dos diversos declives e penhascos
altíssimos, e não na frente de alguém, mas sozinho, a receber o vento gelado no
rosto, antes de despencar esguio, executando toda a espécie de piruetas e
cambalhotas no ar, antes de furar como um prego a superfície escura das águas
profundas que compõem o circuito de saltos ornamentais. Mãos ao alto e ele,
Saulo Sabóia, morreu, mas morreu sem ter se chocado com corais lá no fundo das
águas oceânicas, depois de furar como um prego a superfície escura das águas
profundas, morreu no raso mesmo, afogado que foi numa poça de sangue, na sua
própria poça de sangue, que de profunda não tinha nada, só se assemelhando com
as outras águas por essa, também, ser escura, mas de um escuro viscoso, e sem
direito a prêmios ou troféus. Foi aplaudido de pé e em terra quando seu caixão
baixou, não para o fundo das águas oceânicas que compreendem os nossos quatro
oceanos – o Índico, o Pacífico, o Atlântico e o do Norte, mas para o fundo
escuro e sem volta do subsolo do mundo. Saulo Sabóia, o saltador de saltos
ornamentais de declives e penhascos altíssimos para o fundo das águas
oceânicas, tivera uma vida esplendorosa...
...
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário