quarta-feira, 12 de junho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES #O fim de Saulo Sabóia, o saltador de saltos ornamentais de declives e penhascos altíssimos para o fundo das águas oceânicas...


Saulo Sabóia, o saltador de saltos ornamentais de declives e penhascos altíssimos para o fundo das águas oceânicas, tivera uma vida esplendorosa. E dizemos exatamente assim: ‘tivera’, no ‘mais-que-perfeito’, porque ele, Saulo Sabóia, o saltador de saltos ornamentais de declives e penhascos altíssimos para o fundo das águas oceânicas, morreu, e morreu depois de ganhar todos os prêmios possíveis ao saltar de declives e penhascos altíssimos para mergulhar fundo nas diversas águas oceânicas que compreendem os nossos quatro oceanos – o Índico, o Pacífico, o Atlântico e o do Norte. Lá estava ele, Saulo Sabóia, a executar a sua partitura de aquecimentos e contorções musculares no topo altíssimo dos declives e penhascos altíssimos, pronto para despencar esguio, executando toda a espécie de piruetas e cambalhotas no ar, antes de furar como um prego a superfície escura das águas profundas que compõem o circuito de saltos ornamentais, escolhido a dedo pela junta de jurados dessa que era, ou ainda é, a mais conceituada, [e por que não dizer única?], competição de saltos ornamentais de declives e penhascos altíssimos. Pois ele, Saulo Sabóia, morreu, e morreu num salto, ou melhor, num assalto, depois de esticar ambos os braços na mesmíssima posição que antes fazia, mas não em terra, e sim no topo dos diversos declives e penhascos altíssimos, e não na frente de alguém, mas sozinho, a receber o vento gelado no rosto, antes de despencar esguio, executando toda a espécie de piruetas e cambalhotas no ar, antes de furar como um prego a superfície escura das águas profundas que compõem o circuito de saltos ornamentais. Mãos ao alto e ele, Saulo Sabóia, morreu, mas morreu sem ter se chocado com corais lá no fundo das águas oceânicas, depois de furar como um prego a superfície escura das águas profundas, morreu no raso mesmo, afogado que foi numa poça de sangue, na sua própria poça de sangue, que de profunda não tinha nada, só se assemelhando com as outras águas por essa, também, ser escura, mas de um escuro viscoso, e sem direito a prêmios ou troféus. Foi aplaudido de pé e em terra quando seu caixão baixou, não para o fundo das águas oceânicas que compreendem os nossos quatro oceanos – o Índico, o Pacífico, o Atlântico e o do Norte, mas para o fundo escuro e sem volta do subsolo do mundo. Saulo Sabóia, o saltador de saltos ornamentais de declives e penhascos altíssimos para o fundo das águas oceânicas, tivera uma vida esplendorosa...

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