terça-feira, 30 de julho de 2013

Que o teatro...

Que o teatro nunca perca a sua inerente propensão ao inacessível. Que o teatro - diferente das mídias que pavoneiam seus contornos através da sedução da imagem – permaneça intratável ao alcance das massas. Que o teatro nunca raspe o perigo da popularidade!, funcionando como instrumento de propaganda daqueles que buscam artifícios ‘culturais’ com o único intuito de entreter grandes contingentes de rebanhos incautos. Que o teatro continue a abrigar o reduto marginal das possibilidades de comunicação – acessível somente àqueles corajosos que ousarem decifrar os seus mistérios. Que seja difícil entrar no teatro! – que o palco nunca abandone a sua habilidade em intricar todos os discursos transmitidos pelos suportes transparentes dos deglutidores de informação. Que a burrice dos meios televisivos com os seus bonecos vaidosos se enterrem nas próprias fronteiras do mau gosto e da secura de criatividade – que nenhum desses barganhadores de purpurina interfiram no terreno perigoso do teatro. Que o teatro seja e continue a ser obscuro, reduto de figuras gigantescas que não pensam duas vezes em deformar as suas aparências para sumir por detrás de túnicas gregas, vestimentas elizabetanas, máscaras de tintas fortes. Que o teatro possa sempre ser descartável e longe das discussões oficiais, porque só assim poderá pensar na manutenção das suas impossibilidades de adequação à feira consumista que nos aprisiona. Que o teatro não se misture à ideia de que tem como obrigação educar os que ocupam as suas fileiras, porque só no exílio das funções úteis é que o teatro pode se alimentar do seu maior dever: o de afiar o seu olhar para o mundo, sem poupar nada nem ninguém. Que o teatro viva, vivo por aqueles que fazem do teatro essa arte sempre artesanal, distante dos sorrisos facilitadores da vida.

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