Carlos-da-Claque fazia o povo rir, ou, antes,
fazia do que não tinha graça nenhuma motivo das mais desbaratadas risadas, ele
próprio forçando-se rir do que naturalmente não deveria. Um dia, indo para o
trabalho, viu um acidente de carro terrível, levando a óbito o motorista que
por descuido tomara a contramão da via. Ele, Carlos-da-Claque, morreu de rir do
acontecido, o que o fez ser detido pela polícia por incitação à violência, já
que todos os transeuntes, consternados pela fatalidade, queriam linchar aquele
que zombava da dor alheia. Na delegacia, Carlos-da-Claque não conseguia se
conter, rindo de tudo o que seria motivo de lágrimas, fato que levou o delegado
a lhe negar qualquer fiança, trancafiando ele, Carlos-da-Claque até que
resolvesse pedir desculpas pela sua atitude desrespeitosa para com a
instituição pública que tinha como obrigação zelar pela ordem e bom
comportamento. Carlos-da-Claque, tão logo pisou nos domínios mofados da cela de
prisão, ao contrário de se lamentar, aumentou a gargalhada que já trazia desde
a rua. O tempo passou e ele lá, rindo sem parar, até o dia em que parou de rir
para morrer. Quando o retiraram da cadeia, já há algum tempo defunto
silencioso, Carlos-da-Claque estampava um belo de um sorriso no rosto, talvez
alertando aos que aqui ficavam de que a morte não é lá essa coisa terrível pela
qual tomamos em vida. No seu enterro, não houve um que derramasse lágrima, talvez
uma homenagem ao passado do morto, ou não, dependendo do ponto de vista...
...
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário