sexta-feira, 19 de julho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES # O fim do Arqueólogo-de-Fósseis-Humanos...

Foi como uma iluminação. Ao desentocar o último ossinho daquele que mais tarde seria consagrado como o mais antigo esqueleto humano encontrado na face da terra – e exposto como relíquia valiosíssima no museu mais importante da história natural – ele, o Arqueólogo-de-Fósseis-Humanos, justamente o descobridor não só desse, mas de tantos outros tesouros enterrados, percebeu que a maneira mais certa para se entrar na história não era vivendo a própria história senão enterrando-se num local apropriado para que, com sorte, séculos adiante, milênios talvez, algum arqueólogo como ele viesse a encontrá-lo nos seus restos ancestrais. De um dia para o outro sumiu, ninguém mais o viu. Como o tempo é vagaroso no seu escoar, parece que será uma longa espera até saber se ele, o Arqueólogo-de-Fósseis-Humanos, terá finalmente o seu triunfo reconhecido, ou se o seu sumiço não lhe trará nada senão o que todo desaparecimento tem como princípio trazer: a fama do anonimato eterno...

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