Foi como uma iluminação. Ao desentocar o último ossinho
daquele que mais tarde seria consagrado como o mais antigo esqueleto humano
encontrado na face da terra – e exposto como relíquia valiosíssima no museu
mais importante da história natural – ele, o Arqueólogo-de-Fósseis-Humanos,
justamente o descobridor não só desse, mas de tantos outros tesouros enterrados,
percebeu que a maneira mais certa para se entrar na história não era vivendo a
própria história senão enterrando-se num local apropriado para que, com sorte,
séculos adiante, milênios talvez, algum arqueólogo como ele viesse a
encontrá-lo nos seus restos ancestrais. De um dia para o outro sumiu, ninguém
mais o viu. Como o tempo é vagaroso no seu escoar, parece que será uma longa
espera até saber se ele, o Arqueólogo-de-Fósseis-Humanos, terá finalmente o seu
triunfo reconhecido, ou se o seu sumiço não lhe trará nada senão o que todo
desaparecimento tem como princípio trazer: a fama do anonimato eterno...
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