quarta-feira, 10 de julho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES # O fim do condenado que quase morreu enforcado...

Pediram ao condenado que dissesse alguma coisa antes de ser enforcado. Sou culpado, ele disse, e culpado por todos os crimes que me acusam, e ainda mais culpado por um número de não sei quantos outros crimes, todos hediondos e escabrosos... foi o que ele disse, o condenado prestes a ser enforcado, e foi tão convincente no seu relato altruísta que acabou por paralisar todos aqueles que estavam na praça pública pedindo o seu pescoço, pausa que foi prontamente substituída por uma salva de palmas estrondosa, fazendo com que ele, o condenado prestes a ser enforcado, não só fosse absolvido como também eleito nas eleições seguintes, e por ampla maioria,  para o cargo de prefeito da cidade dos Mata-Burros, tendo como sua primeira medida depois de tomada a posse a perseguição e morte de todos os cidadãos mata-burrenses que se declarassem honestos e inocentes pelos delitos aos quais eram acusados, ainda que crime nenhum houvessem cometido, de modo que só sobraram em Mata-Burros os que se sabiam culpados pelos mais diversos crimes, existentes e não existentes, culminando essa curiosa história do condenado prestes a ser enforcado e levado à prefeitura pelos braços do povo na morte por velhice desse que ousou admitir que nunca fora nada inocente na vida, e, com seu exemplo, dissera claramente que, uma vez vivos, todos somos condenados e criminosos consagrados. Na ocasião da sua morte, ele, o condenado que um dia esteve prestes a ser enforcado, finalmente conseguiu provar a sua inocência, sentença que promotor nenhum conseguiu reverter, já que um defunto, por pior assassino que tenha sido em vida, quando entrega nas mãos dos vermes o seu destino eterno é com se virasse santo entronado ao lado do Todo Poderoso. Hoje a sua tumba, a do condenado que outrora estivera prestes a ser enforcado, é visitada por legiões de fiéis que buscam a benção nesse que foi um exemplo inconteste de ser humano de coração puro.

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