Pediram ao condenado que dissesse alguma coisa
antes de ser enforcado. Sou culpado, ele disse, e culpado por todos os crimes
que me acusam, e ainda mais culpado por um número de não sei quantos outros
crimes, todos hediondos e escabrosos... foi o que ele disse, o condenado
prestes a ser enforcado, e foi tão convincente no seu relato altruísta que
acabou por paralisar todos aqueles que estavam na praça pública pedindo o seu
pescoço, pausa que foi prontamente substituída por uma salva de palmas
estrondosa, fazendo com que ele, o condenado prestes a ser enforcado, não só
fosse absolvido como também eleito nas eleições seguintes, e por ampla
maioria, para o cargo de prefeito da
cidade dos Mata-Burros, tendo como sua primeira medida depois de tomada a posse
a perseguição e morte de todos os cidadãos mata-burrenses que se declarassem
honestos e inocentes pelos delitos aos quais eram acusados, ainda que crime
nenhum houvessem cometido, de modo que só sobraram em Mata-Burros os que se
sabiam culpados pelos mais diversos crimes, existentes e não existentes,
culminando essa curiosa história do condenado prestes a ser enforcado e levado
à prefeitura pelos braços do povo na morte por velhice desse que ousou admitir
que nunca fora nada inocente na vida, e, com seu exemplo, dissera claramente
que, uma vez vivos, todos somos condenados e criminosos consagrados. Na ocasião
da sua morte, ele, o condenado que um dia esteve prestes a ser enforcado,
finalmente conseguiu provar a sua inocência, sentença que promotor nenhum
conseguiu reverter, já que um defunto, por pior assassino que tenha sido em
vida, quando entrega nas mãos dos vermes o seu destino eterno é com se virasse
santo entronado ao lado do Todo Poderoso. Hoje a sua tumba, a do condenado que
outrora estivera prestes a ser enforcado, é visitada por legiões de fiéis que
buscam a benção nesse que foi um exemplo inconteste de ser humano de coração
puro.
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