domingo, 5 de maio de 2013

OS IDIOTAS HILÁRIOS...


Idiotas hilários, é o que somos. Idiotas que riem de si, rindo e querendo com o riso fazer os outros, os tapados da plateia, rirem também. Rimos! Rimos desenfreadamente. E nessa audiência de gargantas gargalhantes, gargantas que gargalham como gralhas altissonantes, esperamos cumprir com essa máxima espetacular dos tempos que se seguem: estar vivo é estar pronto para se mostrar os dentes, esticando os lábios até limites extremos. Justo. Num mundo de tédio supremo, com gente tediosa a escoar pelo ralo, permeado por assuntos dos mais tediosos e desinteressantes, é justo imaginar que para se continuar a suportar a existência tal qual a construímos é urgente conseguir tremelicar de tanto rir. O entretenimento, no pior nível possível, é o que nos move. E nessa ribanceira das piadas sem graça despencam também os palhaços, ainda mais desprezíveis que aqueles a quem dirigem seus gracejos infantilóides. É a geração dos comediantes em pé, dos que se apresentam como comediantes, dos que se auto-intitulam ‘engraçados’ desse mundo para lá de sem graça, são os arautos da mediocridade institucionalizada, e, acreditem, são eles os responsáveis por lotar os teatros, por produzir uma legião aberrante de gralhas grasnantes, todas prontas para entregarem-se a esse exercício supremo de esvaziar a inteligência para preenchê-la com espasmos viris do baixo ventre. Ora pois! O que fizemos com a comédia? O que fizemos com esse gênero teatral que desde os primórdios andou de braços atados com a máscara triste da tragédia? Os palhaços de outrora eram os verdadeiros palhaços, os que faziam rir sem que rissem primeiro, deixando ao público a tarefa de processar o fino fio melancólico vertido por suas patéticas figuras. Chaplin era triste, o Gordo e o Magro eram tristes, até os Três Patetas carregavam suas lágrimas acumuladas... o que dizer então de Buster Keaton, sujeito que não esboçava uma única risada sequer? Todos comediantes, supremos e irresistíveis comediantes! Há um teor de absoluta potência na introspecção desses antigos palhaços. Há uma compreensão profunda do abismo humano ao qual nos metemos sem que houvesse contrato algum para ser assinado, e, nessa relação de assombro, é que o palhaço veste o seu nariz vermelho, como metáfora ao último grau de desespero ao qual a consciência pôde alcançar. Hoje rimos ao inverso, sem sentir peso algum, sem consciência de nada. Rimos irresponsavelmente, exatamente na mesma medida do vazio em que viramos.

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