segunda-feira, 20 de maio de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES #O Fim do ex-escritor de novelas emblemáticas...

O escritor de novelas emblemáticas de tão modesto que era não acreditava que suas novelas fossem de fato emblemáticas, e ainda que todos isso a ele dissessem, ele, o escritor de novelas emblemáticas, tomava-se por um completo canastrão, só emblemático, pensava ele, na mediocridade que imaginava carregar nos seus escritos. Foi por essa razão que ele, o escritor de novelas emblemáticas, resolveu se arriscar em novas praias, apostando todas as suas fichas no teatro. Escreveu, então, uma peça de teatro que todos, incluindo sua mãezinha, detestaram, mas, não importava o quanto lhe avisassem da sua absoluta falta de talento para o palco, ele, o escritor de novelas emblemáticas, agora dramaturgo de peças pífias, sentia-se o mais novo gênio da dramaturgia moderna, outorgando a si próprio os mais variados prêmios que academia nenhuma ousaria agraciar-lhe. Sua imperícia era tão grande para com os diálogos dramáticos que, num dia, uma de suas personagens bateu à sua porta, furiosa que estava, para reivindicar-lhe a razão de tamanha falta de coerência impressa no seu destino, coisa que nunca antes havia acontecido com as suas figuras literárias, todas elas esbanjando satisfação com suas vidas fictícias. O fato é que ela, a tal personagem dramática e frustrada, encostou ele, o ex-escritor de novelas emblemáticas e agora dramaturgo de peças pífias na parede, exigindo uma resposta para o motivo de tê-la assassinado tão subitamente e logo no primeiro ato da peça. A discussão entre ambos foi intensa, enquanto ela, a personagem dramática e frustrada, dizia o quanto frustrante era morrer longe dos aplausos finais, ele, o ex-escritor de novelas emblemáticas e agora dramaturgo de peças pífias, tentava convencê-la de que a sua morte prematura era tão ou mais bonita quanto à de Ofélia, e, se morria logo no primeiro ato era porque a sua morte prematura era essencial para despertar a loucura do personagem principal, o príncipe da Corumbácia. E o ciúmes doentio que acometeu a ela, a personagem dramática e frustrada, ao ouvir de seu próprio criador de que ela, a personagem dramática e frustrada, não só morria prematuramente como só existia para servir de escada ao personagem principal, o príncipe da Corumbácia, esse ciúme, pois então, a levou ao ato extremo de agarrar o abridor de correspondências que havia em cima da escrivaninha dele, o ex-escritor de novelas emblemáticas e agora dramaturgo de peças pífias, e enfincá-lo num golpe só na jugular do seu criador. E esse foi o fim prematuro dele, o ex-escritor de novelas emblemáticas, e agora também ex-dramaturgo de novelas pífias... 

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