terça-feira, 15 de julho de 2014

O poeta só é poeta quando desiste de fazer poesia

Ou ele é a possibilidade dos versos sem a necessidade de subjetivos infinitos

Ou padece do desejo de piedade 

De ter de dizer que ama, de querer ser ouvido, de implorar adesão àquilo que qualquer evidência desmorona com os sentidos


O ator só é ator quando desiste da personagem

É ele próprio a lidar com a crueza exposta das feridas do corpo que tem, dos limites que são ter dois braços, duas pernas, uma cabeça e tronco

E também um certo ritmo que lhe embala o coração 


Ou Hamlet dança 

Ou vira pedaço de terapia 

Distante anos luz da força que tem

Hamlet não pensa ou tem dúvidas

Hamlet é o próprio pensamento encarnado

A dúvida latejante nas extremidades aflitas dos dedos 


Aquilo que somos são fronteiras

Palpáveis

Todo o resto que nos ensinam a esconder em nome da substância geradora do 'eu' é matéria de esvaziamento consciente


Para ser alguém é urgente deixar de sê-lo 


Há que sempre recorrer a música

Ou o tocador de tuba reúne fôlego para soprar a tuba

Ou já não existe tuba

Tocador de tuba

Quiçá

Música 


...



...

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