O poeta só é poeta quando desiste de fazer poesia
Ou ele é a possibilidade dos versos sem a necessidade de subjetivos infinitos
Ou padece do desejo de piedade
De ter de dizer que ama, de querer ser ouvido, de implorar adesão àquilo que qualquer evidência desmorona com os sentidos
O ator só é ator quando desiste da personagem
É ele próprio a lidar com a crueza exposta das feridas do corpo que tem, dos limites que são ter dois braços, duas pernas, uma cabeça e tronco
E também um certo ritmo que lhe embala o coração
Ou Hamlet dança
Ou vira pedaço de terapia
Distante anos luz da força que tem
Hamlet não pensa ou tem dúvidas
Hamlet é o próprio pensamento encarnado
A dúvida latejante nas extremidades aflitas dos dedos
Aquilo que somos são fronteiras
Palpáveis
Todo o resto que nos ensinam a esconder em nome da substância geradora do 'eu' é matéria de esvaziamento consciente
Para ser alguém é urgente deixar de sê-lo
Há que sempre recorrer a música
Ou o tocador de tuba reúne fôlego para soprar a tuba
Ou já não existe tuba
Tocador de tuba
Quiçá
Música
...
...
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