segunda-feira, 21 de julho de 2014

Fábula: # O exemplar senhor Archimedes, representante da indústria do tabaco.


Astrogildo fumava. E Astrogildo morreu precocemente. E de tanto fumar. E de tanto adverti-lo: Astrogildo, pare de fumar senão um dia você morre, Lucrécia, mulher de Astrogildo, cansou-se. Mas no dia em que Astrogildo morreu, Lucrécia indignou-se e foi pessoalmente exigir da indústria do tabaco uma indenização pela morte do marido. Fumou porque quiseram lucrar com sua ignorância quanto aos malefícios do tabaco! E morreu! Onde já se viu? Acalme-se, mulher, disse Archimedes, o representante da indústria do tabaco, senão desse jeito a senhora tem um piripaque. E de fato houve o piripaque. E dona Lucrécia foi levada ao hospital pelo senhor Archimedes em pessoa, o representante da indústria do tabaco. E pouco puderam fazer por ela. O piripaque provou-se fatal. E lá na portaria do hospital havia um repórter, o senhor Dutra, que trabalhava numa matéria sobre o descaso da saúde aliado ao nível de insensibilidade a que chagamos. E o Dutra viu quando Archimedes, o representante da indústria do tabaco, entrava carregando a desacordada Lucrécia, viúva do recém falecido Astrogildo, no colo. E disse o Archimedes ao Dutra, o repórter, que não era parente nem nada, que só queria ajudar a mulher que acabara de desenvolver um piripaque histérico em sua presença. E o senhor Dutra emocionou-se. E bateu uma foto do senhor Archimedes, o representante da indústria do tabaco. Que foi parar na primeira página do dia seguinte. Ainda temos em quem nos escorar, dizia a matéria, enaltecendo a conduta humana e exemplar do senhor Archimedes, que vendo uma alma pedir socorro não lhe rogou virar as costas.    


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