Astrogildo fumava. E Astrogildo morreu precocemente. E de
tanto fumar. E de tanto adverti-lo: Astrogildo, pare de fumar senão um dia você
morre, Lucrécia, mulher de Astrogildo, cansou-se. Mas no dia em que Astrogildo
morreu, Lucrécia indignou-se e foi pessoalmente exigir da indústria do tabaco
uma indenização pela morte do marido. Fumou porque quiseram lucrar com sua
ignorância quanto aos malefícios do tabaco! E morreu! Onde já se viu? Acalme-se,
mulher, disse Archimedes, o representante da indústria do tabaco, senão desse jeito
a senhora tem um piripaque. E de fato houve o piripaque. E dona Lucrécia foi
levada ao hospital pelo senhor Archimedes em pessoa, o representante da indústria
do tabaco. E pouco puderam fazer por ela. O piripaque provou-se fatal. E lá na
portaria do hospital havia um repórter, o senhor Dutra, que trabalhava numa matéria
sobre o descaso da saúde aliado ao nível de insensibilidade a que chagamos. E o
Dutra viu quando Archimedes, o representante da indústria do tabaco, entrava
carregando a desacordada Lucrécia, viúva do recém falecido Astrogildo, no colo.
E disse o Archimedes ao Dutra, o repórter, que não era parente nem nada, que só
queria ajudar a mulher que acabara de desenvolver um piripaque histérico em sua
presença. E o senhor Dutra emocionou-se. E bateu uma foto do senhor Archimedes,
o representante da indústria do tabaco. Que foi parar na primeira página do dia
seguinte. Ainda temos em quem nos escorar, dizia a matéria, enaltecendo a
conduta humana e exemplar do senhor Archimedes, que vendo uma alma pedir
socorro não lhe rogou virar as costas.
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