Apareceu uma charrete puxada por um cavalinho esguio
descendo a rua em velocidade alucinante. No dia seguinte, lá estava ela, a mesma
charrete puxada pelo mesmo cavalinho esguio e descendo a rua a galopes
furiosos. Perguntados se não era injusto submeter aquele cavalinho a corridas tão
velozes e num chão tão duro como era o de asfalto, os adolescentes que ocupavam
os assentos da charrete disseram que de forma alguma o cavalinho se importava,
gostando mesmo era disso, de alongar as pernas e bater os cascos com força no
chão, e além disso, se tivesse dúvidas sobre a opinião do cavalinho, que fosse
ele a responder a bendita pergunta, e morreram de rir, os adolescentes da
charrete. Semana após semana lá estava a mesma charrete com os mesmos
adolescentes a escoicear com as rédeas de corda o mesmo cavalinho esguio,
bufando em disparada através da rua asfaltada. Quando não muito tempo depois os
dois adolescentes apareceram andando pela rua e perguntados onde é que estava a
charrete puxada pelo cavalinho esguio, disseram que a charrete havia sido
vendida naquela mesma manhã, e quanto ao cavalinho? O cavalinho havia morrido
naquela mesma noite, amanheceu com a língua de fora e já completamente entregue
ao além, disseram os adolescentes sem maiores constrangimentos e até com certa
dose de ironia, e como isso foi acontecer? Nova pergunta, tudo morre nessa
vida, e quase tudo o que morre não tem muita justificativa para morrer,
morre-se e pronto, e, além disso, se quiser mesmo saber o motivo que levou o
bendito cavalinho a empacotar, que vá você até onde o cavalinho estiver e faça
a ele a bendita pergunta. E nunca mais se soube desses dois adolescentes que
durante tanto tempo desceram aquela mesma rua puxados pelo esforço voraz
daquele nobre cavalinho esguio, já desaparecido para sempre.
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