Convencido de que era perseguido ou perseguido o era, tanto
faz - nas duas formas gramaticais a única evidência clara e inequívoca é a que
se verifica por fontes seguras: a de que caía sobre si o manto opressor da
perseguição -, acordou e bateu os olhos nos jornais e enfim, eureca!, a prova
que faltava - não para ele que se convencia perseguido há tempos imemoriais mas
para todo e qualquer alienado que teimava em duvidar das armadilhas nefandas do
poder repressor travestido de democracia -, as notícias, enfim, estampavam ali
para corroborar em letras angulares e típicas dos manipuladores da opinião
pública a mais pura e grosseira falácia forjada para que causasse uma falsa
impressão de imparcialidade para que ele, perseguido que era ou o sendo
perseguido, tanto faz, fosse acusado de crime contra o governo, esse sim o
agente perseguidor daqueles que pelo simples ato de acordar um dia veem-se
condenados à perseguição implacável. Convencido de que estava ou estando
convencido desde então, tanto faz, de que era preciso fugir, fugiu, escapulindo
pela janela e evocando os poucos aliados em quem podia confiar para que se
aglutinassem como formigas operárias em greve e notassem o quão perseguido era
ou perseguido estava sendo, tanto faz, para que, mediante a apresentação de
provas cabais e irresolutas de sua condição de ovelha frágil sob os olhares
vorazes do lobo faminto pudesse, enfim, atrair a opinião dos poucos elementos
confiáveis da imprensa que estivessem dispostos finalmente a transparecer a
única verdade límpida e cristalina que ali naquele instante se fazia luzir: a
de que ele sendo perseguido ou alvo de perseguição, tanto faz, era a vítima
evidente do circo que lhe era armado por órgãos herdeiros do holocausto, e que,
vírgula, se coubesse a ele o papel de mártir denunciador do quão falaz e
agourento é essa instituição chamada governo, berço de águias de rapina
sedentas por pingar sua baba de predador por sobre a moela do cocuruto dos
cidadãos comuns e inocentes – alvo preferido dos perseguidores -, então, enfim,
por que não? – seria ele sim, liberte-igualitê-fraternitê, o soldado do front a
sacrificar-se como um cordeiro no altar para que o rebanho que viesse em tempos
vindouros pudesse usufruir daquilo que ele, infelizmente, hoje fora privado e,
por isso, condenado a sumir: o direito, enfim, de não ser perseguido ou vir a
ser alvo de perseguição, tanto faz.
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