quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


Não é curioso pensar que isso que agora digo
Esse livro que trago comigo
Já foi lido e relido?

Que essa música que julgo compor 
Já é coisa gasta e valsada
Há muito pelos quatro cantos
Soprada?

Não é terrível saber que nesse teatro que agora me vejo
Nesse palco onde julgo estrear
Tantos outros já trataram de o mesmo tablado
Repisar?

Os mesmos figurinos gastos
A mesma trama relida
Os mesmos cumprimentos
Visto de cima pelos astros
Pendurados em igual firmamento!

Não é triste e assombroso
Que não haja registros concretos desses fantasmas que por agora nos observam
Tratando-nos em silêncio como fantoches do que um dia foram
Respeitando o mesmo decoro
De uma festa cujo enredo é mais do que certo?

Não é maravilhoso compreender
Que por mais que se tente
Tudo já está mais do que evidente
E sendo isso o que somos -
Tristes herdeiros imediatos dos gênios que aqui já estiveram -,
Para dizer o que eu e você lutamos por balbuciar
Ao passo que os miseráveis já por nós também o foram
Também por nós compreendendo que crise alguma é mistério
Sendo antes um destino há muito visitado
Cujos viajantes um dia houveram nessas mesmas praias
Naufragado?

Não é maravilhoso recoser esse prato ingrato de nome vida
Tendo dele a garfadas engolir
Até quando sabe-se lá
Houver uma chance
De partir?

...

...

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