quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fábulas: # A mula que foi vender os miolos pensantes na feira municipal...


Uma anta que atravessou o caminho de uma mula apressada perguntou a ela onde ia com tanta urgência, obtendo como resposta da mula que ela ia para a feira municipal botar à venda os próprios miolos pensantes, mas como, perguntou a anta curiosa, tendo-os tão reduzidos como eu tenho os meus cá comigo, o melhor não seria preservá-los para que assim, confinados, possam preservar um tanto de valor? Nisso a mula retrucou de imediato dizendo que de jeito nenhum, antes ter patas ativas e músculos torneados do que assemelhar-se à coruja, que do alto do galho vê tudo, sabe de tudo, compreende tudo, mas pouco ou quase nada age, valendo pouco ou quase nada o movimento invisível que guarda para si. Mas a coruja não é uma filósofa respeitadíssima, replicou a anta, é sim, rebateu a mula; e também não é a coruja uma reconhecida professora de pupilos que almejam um lugar nas academias, mais uma vez inquiriu a anta, sem dúvida que sim, disse a mula; e também a coruja não escreve lindíssimos artigos nos jornais da cidade versando sobre os mais variados temas da atualidade, insistiu a anta, e como não, arrematou a mula; e por acaso todas essas habilidades não tornam a inteligência da coruja visível aos olhos dos outros, errado, não é a coruja, tampouco a inteligência dela, mas a imagem forjada de si própria que se arvora aos olhos dos outros, já reparou que não é senão para isso que ela vive, para fazer plateias ao redor das asas? Disse isso a mula e já se foi galopando, sumindo das vistas da anta...

Há uma sabedoria especial em suar os músculos, essa sim uma sabedoria nada abstrata e deveras palpável, e se opta por não produzir ecos, é justamente porque as plateias não lhe são necessárias. 


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