Um conceituado afinador de pianos que morava numa vila nas
montanhas fora requisitado para afinar o famosíssimo piano da orquestra estatal
da capital do estado que seria utilizado pelo não menos famoso pianista russo
Orostov Vassiliev no concerto que comemorava o aniversário da sala de
concertos. Na noite do concerto, Orostov Vassiliev tivera que interromper a sua
inspirada interpretação já no meio do primeiro movimento em função da completa
desorganização tonal em que as teclas do piano foram dispostas, fazendo
instalar um clamor dramático não só na orquestra, mas também na plateia, que
nunca na história vira um único músico desistir de seguir adiante com a música.
Chamado para prestar esclarecimentos, o conceituado afinador de pianos
justificou a confusão colocando a culpa na qualidade do ar que, diferente da
atmosfera rarefeita das montanhas – local onde ficara famoso por afinar todo e
qualquer tipo de pianos com a mais destacada maestria -, reunia propriedades a ele
desconhecidas, prejudicando uma correta sequência harmônica das notas.
Perguntado se um piano das montanhas não teria exatamente a mesma constituição
de um piano da capital do estado – que ficava localizada ao nível do mar -, o
conceituado afinador de pianos replicou negativamente, dizendo que um piano das
montanhas era um pianos das montanhas, muito diverso daqueles que se encontravam ao nível do mar. Convidado para um novo concerto, dessa vez nas montanhas, o
famoso pianista russo Orostov Vassiliev pôde, de fato, constatar aquilo que o
conceituado afinador de pianos já dissera: há pianos e pianos, e os das
montanhas são definitivamente diferentes daqueles que são dispostos ao nível do
mar.
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