quarta-feira, 4 de junho de 2014

Destinos recusados por aventuras frustrantes: # A personagem voluntariosa.


Triste esse episódio em que uma personagem qualquer de um conto de gramática realista (e por demais descritiva) resolveu renunciar ao excesso de detalhes e minúcias sem importância para, uma vez longe das páginas, aportar no palco dramático imaginando lá colher alguma liberdade que lhe faltava pelas andanças dos mudos parágrafos. Arrependeu-se como arrepende-se quem não consegue reconhecer as benesses da própria morada indo despejar no vizinho a solução das frustrações que dependem menos da grama do quintal estrangeiro do que do cuidado com as ervas daninhas alimentadas no próprio coração. Tendo de repetir-se diariamente e ao menos durante quatro vezes por semana, e ainda refém de um ator nada talentoso que fazia questão de inventar sentido onde não havia, condenado ficou ao exercício infinito de convencer a plateia de que ele não era aquele que lhe pintavam ser, mas outro muito mais digno, exatamente como o era na literatura, tarde percebia ele, ainda que pequeno e cercado por fronteiras bastante sufocadoras.

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