sexta-feira, 7 de março de 2014


Havia um ator superarticulado
De tudo falava um pouco, e com que propriedade!
Cerrava o cenho para assuntos graves
Quando perguntado sobre a crise na Criméia, respondia
Um ator de bagagens múltiplas!
Sabia ser simpático, extrovertido e duro quando precisasse
Reservava o timbre mais doce para fazer rir
Aveludava o discurso quando exigia seriedade 
Enfim, nosso ator era pau para toda obra
O único senão era fazê-lo fingir
De tanto esgotar seu repertório de fantasias pelas beiradas da vida
Ao abrir das cortinas, enfraquecia
A bem da verdade, a sua própria imagem sumia
De tanto gastá-la nas esquinas
Seguido por tantos holofotes
No palco, nosso ator tornava-se transparente
Nada atraente
Todo ele cansaço
E cansados também os espectadores pareciam
Abrindo enormes bocejos ao menor sinal da sua insossa presença
Enfim, essa é a história do ator que passou a vida tentando ser interessante
E como conseguiu
Perdeu toda e qualquer poesia...

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