quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Campanha contra os acentos!


Sou contra os acentos! Não aquele lá debaixo, escrito com dois ‘ss’, que acomoda o vosso traseiro quando a fadiga aperta, mas aquele lá de cima, que cobre com chapeuzinho, cobrinha, pinguinhos e toda espécie de tracinhos as vogais do nosso alfabeto tupiniquim. Se essa língua fosse minha, eu mandava arrancar a espinha aguda que fere o seu pobre ‘i’, aliás, aproveitando o embalo reformador, pavimentaria o limite superior da letra ‘i’ para que o pinguinho evaporasse também, virando um ‘i’ asfáltico uno e liso nas suas dimensões retilíneas, um ‘i’ sem buracos ou saliências, um verdadeiro ‘I’ sóbrio e digno. Todo acento gramatical é uma rebarba inútil, um topete rebelde a ser podado na barbearia do bom senso! O que é um til (~) senão um apêndice dolorido que faz entortar a caneta e o lápis, atrasando a digitação da palavra no teclado do computador, uma vez que a cobrinha egocêntrica exige um clicar só dela, às vezes combinado com o pressionar de outra tecla em concomitância, e toda essa operação para quê, minha gente? Somente para atrasar a nossa vida! Campanha ‘Renove a velha e ondulada Mamãe por uma nova Mamae’! Tudo começou com a maldita crase, com uma dificuldade tremenda para se saber para que lado essa desgraçada aponta – para a esquerda ou para a direita do ‘a’? Como nunca cheguei a um consenso apropriado sobre a filosófica questão, não arrisco mais e grafo a bendita dos dois lados, para não correr o risco de errar, exemplo: ‘hoje eu fui `a´ farmácia e comprei o remédio que tanto procurava’. Depois dessa revolta acentuada, resolvi curar-me por completo da dor de cabeça sintática e desacentuar tudo – é preciso cortar o mal pela raiz, alforriar as nossas vogais, dar curso ao pensamento sem que haja satélites zombeteiros interferindo no fluxo límpido das ideias (a velha ‘idéia’ já perdeu o acento! Vejam como é bom renovar as ideias!). Para quê achapelar com circunflexos os nossos ‘es’, ‘os’ e ‘as’? Essa cobertura em forma de toldo-retorcido-de-padaria é uma afronta à dignidade das nossas vogais! Ao cobri-las dessa maneira, estamos dizendo: ‘Ei! Não saia por aí ao relento com o cocuruto descoberto! Proteja-se! Leve esse gorrinho e não seja teimoso, senão pegará uma constipação de tapar o narigo!’ Ora essa! Nossa língua já está madura o suficiente para se desgarrar dessa mimação toda. O trema já se foi, sentou-se no assento dos acentos aposentados... Vamos dar o devido descanso ao restante da parentada!

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