quinta-feira, 7 de junho de 2007

Pequena consideração sobre o Teatro

O teatro, assim como todas as manifestações artísticas, tem como matéria prima o próprio homem. Porém, a arte dramática destaca-se das demais ao encarregar o artista de ser o veículo de sua própria criação, dentro de uma esfera físico-temporal. Portanto, o ator, através da sua personagem, nada mais é do que a criação viva aos olhos do espectador, sem a necessidade de qualquer intermediação. Enquanto o músico precisa de seu instrumento, o pintor de sua tela, o escultor de suas espátulas, o ator reúne em si mesmo todos os elementos que, ao serem trabalhados, transformam-se em arte. Tudo o que circunda o ator, tal como: o texto dramático, o cenário, a música, e todo o restante de recursos, são apenas artifícios a serviço do intérprete. O ator, assim, é ao mesmo tempo o executante e o resultado de sua própria criação - resultado esse, vale lembrar, que nunca chega a constituir-se como definitivo já que o momento da criação é exatamente o momento do presente, momento que não pode ser registrado senão pela sua re-corrência no espaço-tempo do "agora". O ator, dessa forma, passa a trabalhar sempre com a expectativa de "tornar a ser" alguém que, rapidamente, é desmanchada em função da passagem do tempo que apenas registra em sua memória (e na do espectador) uma vaga lembrança dessa tentativa. Um eterno exercício de re-invenção e re-construção de personagens que nunca se estabelece e, por conseguinte, nunca termina. O homem (artista e humano), portanto, é explorado em todas as suas potencialidades, evidenciando a sua natureza arbitrária e contraditória. A riqueza da arte do ator está, justamente, na constante tarefa de reconhecer o ser humano como elemento instável. A máscara da tragédia e da comédia, ora exaltando as virtudes de uma alma nobre, ora julgando as falhas de caráter de um cidadão comum, escancaram, de forma simbólica, que todos nós, seres humanos e espectadores, vivemos a partir de um permanente vestir e desvestir de máscaras. O teatro, longe de ser um mero entretenimento, tem muito a ensinar sobre nós mesmos, afinal, como dizia Shakespeare, todos somos personagens em cima de um grande palco: a vida.



Escrito por Francisco Carvalho - 29.01.07

Um comentário:

  1. Fico impressionado com seus textos...Me faz pensar, refletir...Obrigado Simplesmente Obrigado

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