terça-feira, 26 de junho de 2007

DIREITO DE RESPOSTA

A minha resposta ao Sr Dr Antônio Brasil e a todos os que insistem em manter a dramaturgia como um produto pasteurizado, veículo das vaidades estéticas dos atores-modelo, das "pseudo" mensagens de utilidade pública dos "pseudo" autores de folhetins e das mentes obsoletas dos ditos diretores que agem em função da burocracia comercial das emissoras de Tv:
Assisti a minissérie a "Pedra do Reino" e, confesso, nunca fiquei tão feliz por poder ver na Tv algo que fugisse da mesmice dos produtos enlatados com o rótulo "dramaturgia". Nunca fiquei tão feliz por me incomodar, por ter dificuldade de acompanhar a fala dos atores, o movimento das câmeras, as intervenções sonoras, enfim, nunca fiquei tão feliz por saber que é possível produzir algo que ignore o senso comum e que faça com que admitamos nossa ignorância. É bom, nem que seja de vez em quando, tomar consciência de que existem ainda, graças ao bom Deus, artistas que apostam em uma tradução autoral e que não medem esforços para construir um discurso poético destituído das planilhas do ibope e longe das passarelas da fama. Não se trata de apostar em uma obra hermética que isola-se na sua própria ousadia de ousar, ao contrário, a Pedra do Reino é um exemplo fiel de que as entrelinhas de uma obra literária podem ser traduzidas de forma a revelar o que é oculto, o que não é dito por frases, o que é apenas sugerido, palavras não pronunciadas. Nesse sentido, a minissérie de Luis Fernando Carvalho é generosa, tão generosa quanto a poesia: não impõe sentidos, não dita regras, não estimula consensos, apenas sugere e deixa para o telespectador a tarefa de preenchê-la com idéias, sonhos, fantasias. É tentar dar formas a uma poesia e não meter goela abaixo do público uma histórinha com começo - meio - fim, para no ato final mastigar uma mensagem de efeito ou arrematar com um desenlace harmonioso. Difícil de processar? Sem dúvida que é, mais difícil ainda quando percebemos que o que consumimos são bandejas de fast-food industrializadas pelos estúdios de Tv. Como é bom dar adeus ao sotaque carioquês que até os paulistas, gauchos, paranaenses, etc, tentam imitar para agradar a Tia Tereza que para em frente a novela e começa a tricotar e chorar. Como é bom dar um ponta-pé no traseiro dos Manoéis Carlos, das Glórias Perez e de tantos outros que não fazem nada mais do que repetir a mesma ladainha que sequer consegue se configurar como uma linguagem. Como é bom não ver Thiagos Lacerdas, Marianas Ximenes com seus rostos nutridos de maquiagem anti-espinha, para dar espaço a uma obra que tenta levar ao público um outro tempo, uma outra realidade de percepção, uma nova possibilidade de escuta. Luis Fernando Carvalho é egocêntrico? Produz obras que satisfazem o seu gênio criativo a despeito do público? Que assim seja! Que surjam mais e mais Luises Fernandos Carvalhos e que esses novos artistas - porque esses sim podem receber tal título - continuem a provocar a indigestão alheia!

Um comentário:

  1. Interessante esse crítico frisar entre a árvore de natal que foi o "resumo do currículo" dele no asterisco que "não tem vergonha de dizer que adora TV".
    Talvez seja exatamente a intenção dele perpetuar a superficialidade da linguagem da teledramaturgia. Afinal, TV é o mais parecido que uma "produção artística" pode chegar de uma linha de produção.
    Há que se reparar pra quem ele anda falando. Em que jornal saiu? Quase rasguei a FolhaTeen de hoje, com o "ilustre" Álvaro Pereira Júnior chamando o novo trabalho da Björk, o "Volta", de pretensioso, chato e "artístico" (ele colocou entre aspas mesmo). Acontece que a FolhaTeen inteira só exalta bandas pra lá de hypes, dessas que eles dizem que são o máximo porque meia dúzia de escandinavos-roqueiros-alternativos são os únicos que a conhecem no mundo.
    Não digo que todos são obrigados a gostar do novo disco da Björk, mas tem coisa mais pretensiosa (como ele mesmo disse) do que bandas que se auto intitulam qualquer que seja desses "movimentos alternativos"?
    É o mesmo com esse crítico: note que ele fala diretamente com um público que concorda com ele. Se não, esse público troca de jornal. Ninguém gosta muito de ser contrariado freqüentemente. E as "verdades absolutas" de quem fala sobre arte dependem muito de quem aprecia, quem lê a crítica... e o jornalismo é todo feito disso.
    Viva "A Pedra do Reino"!

    www.pseudonimo.weblogger.com.br

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