quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Fábulas: # A Queda e a Ascensão de um Tal Sujeito.


Pois havia esse sujeito, todo ele, pobrezinho, assuspeitado de carregar moléstia gravíssima e contagiosíssima, que recolhido numa operação que envolvia roupas especiais ligadas a tubos e macas e bolhas e tudo isso e mais aquilo, e tudo isso (mais aquilo) para que a provável pecha maldita e invisível não se fizesse de besta aos chamegos dos vizinhos desadoentados, fora, portanto, recolhido ele, o sujeito, e num hospital onde lá descobriu-se que ele não era pobrezinho nem nada, não sendo alvo senão de uma febrezinha besta dessas que as bestas costumam frebricitar-se, e foi, assim, divulgado que seria posto tão logo possível novamente nas ruas, mas como já antes havia sido divulgado que ele possivelmente era uma ameaça às ruas, não pelas ruas, esquinas, praças e outros tantos logradouros em si, senão por quem desses pátios públicos por mera teimosia habita, ele, o assuspeitado de moléstia contagiosíssima e gravíssima que se provou não existir, passou a ser ameaçado de morte por quem dele viesse a ter uma mínima comprovação de sua parca e nauseabunda existência, ao que ele, mui sábio, recorreu ao hospital novamente pedindo internação imediata e vitalícia, ao que o hospital retrucou (e mui sagazmente) dizendo que hospital era coisa de adoentados, e que ele fosse se virar na doença da vida saudável sem que se fizesse de pobrezinho coitadinho ou o que o valha, findando portanto o assunto, e findando ele também, o assuspeitado que nada tinha, atirado que foi à primeira ponte que pôde atirar-se para o eterno não-mais. Ficou na memória como um sujeito respeitadíssimo, altruísta de tudo, modelo de busto de bronze na praça central e recorrente fonte de caráter ilibado pela junta de políticos e demagogos bem nutridos da cidade.

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