sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Aqui jaz o busto de bronze do digníssimo e emérito Chico Carvalho!



Não me venha com essa história de viver a vida, o negócio todo é uma corrida danada de braços dados com a morte, cada um desesperado por garantir seu pedaço de eternidade antes que seja tarde demais. Viver a vida é com Manoel Carlos e sua turma bronzeada do Leblon; no real, trocamos de muito bom grado as delícias da praia pela carona de rabecão rumo à funerária. Isso porque a morte eterniza, estampa o ‘aqui jaz’ como emblema de vitória! Triste dos que nascem, ainda amadores na jornada do permanecer, sorte dos que morrem, vitoriosos na lembrança inquebrantável do perecimento. Nelson Rodrigues já bem dizia, somos um bando de suicidas desvairados, desejamos a morte como troféu final de nossas conquistas mundanas. Se não morrêssemos, vagaríamos por aí feito zumbis, vazios de propósito e carentes de significado! Graças ao bom Deus fomos um dia expulsos do Jardim do Éden, assim podemos morrer em paz, sem o peso da eternidade terrestre! Não, nosso desejo de eternidade é algo feito de tabela, plantado na lembrança dos desgraçados que aqui ficam, enquanto nossa alma – se é que tal coisa existe – flutua zombeteira igual à de Brás Cubas, angariando regozijos celestes com as homenagens rendidas pelos mortais que ainda, pobrezinhos, não tiveram a sorte de empacotar. Se passássemos por essa aventura satisfeitos com aquilo que temos hoje às mãos, seríamos bastante semelhantes aos animais, que deitam o nariz ao sol sem preocupação alguma com elucubrar a respeito do futuro da civilização – repare que não há STF’s no reino animal, dificilmente um labrador veste uma capa de zorro para julgar a conduta ética e moral de um chiuaua corrupto, quiçá de um companheiro seu de raça. O bicho está no presente, é eterno no que é, naquilo em que é, Nós não. Nunca somos o que somos, mas o que gostaríamos de ser; os otimistas diriam que essa é justamente a matéria da qual os sonhos são feitos, eu digo que é o mais bem acabado testamento existencial já formulado. Corremos para nos eternizar na lembrança dos outros, e para isso a morte é o laço final da empreitada. Já sei como vou me eternizar, vou providenciar um busto de bronze, uma estátua de ferro do digníssimo Chico Carvalho; ao invés de correr atrás dos feitos dignos de nota – uma posição social invejável, comportamentos beneméritos para com o próximo, atitude política em prol da ordem e do progresso social, caridade religiosa... ao invés de toda essa ladainha semeada muito mais através do lobby alheio do que pela honra ao mérito, forjarei eu mesmo numa fundição de esquina um belo de um busto de bronze, e fincá-lo-ei num parque público qualquer! E ali ficarei a disposição dos corredores e transeuntes que queiram render suas exéquias purpurinadas ao nobre Chico Carvalho, merecedor do bálsamo de ferro, cocuruto de caráter inviolável! Nada nem ninguém, nem mesmo um arsenal de dejetos de pomba, conseguirá pôr em xeque a minha reputação já embebida no mais puro metal eterno! Sobreviverei por gerações e gerações, sorridente do peito pra cima, enquanto meu esqueleto dorme feliz a sete palmos abaixo da terra! Serei lembrado, é só isso o que importa... amém.

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