quarta-feira, 19 de junho de 2013

No curral da vida...

No curral da vida haverá sempre um jegue que ao mudar de baia palitará os dentes, crente que mudou de continente...

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Vida, coisa desastrosa...

Que medo dos conservadores!
É só dizer uma coisa
E mais uma vez ela, ao contrário
Que lá vem eles
Acusá-lo de reacionário!
Porque são deles as certezas
E das certezas, sou temerário!
Uma vez isso, sempre isso -
Até que o mundo deixe de ser isso
E vire aquilo
Aí é só tranquilidade
Porque uma vez do meu lado
O inimigo é o outro
Os do lado oposto
Os sem-qualidade...
Eu, hein!
É por isso que a vida é desastrosa
Coisa cheia de gente
Que ao primeiro sinal
Descabela o cabelo
Em polvorosa...
Eu prefiro vagar no meio
Se der de rolar a ribanceira
Comigo, ao menos
Tenho freio...

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No meio, e mais nada...

Ah, o que é ser cidadão e o que é ser artista?
Ambos dão as mãos
Ou seguem distantes,
Cada um em uma pista?
O artista, sozinho
Enxerga o que mais ninguém vê
Ou faz-se ver no conjunto
Tratando de repercutir
O que há de importante no mundo?

"Ao perder o contato com a praça, com as ruas, com a comunidade, enfim, o homem perde o seu imaginário, abandona a fonte de sua cultura e diminuem, consideravelmente, a quantidade e a qualidade das experiências que podem ser comunicadas. Seu repertório de imagens, sem o acréscimo das imagens apreendidas no contato e conflito com outros homens, reduz-se àquelas geradas a partir de si próprio (os sentimentos) e advindas do contato e conflito com seu reduzido meio familiar e círculo social (moral). Os próprios sentimentos, sem o sadio conflito com a complexidade do mundo real, tendem a permanecer na superfície ou a se tornar idealizados. Ao abandonar as ruas o homem diminui substancialmente sua capacidade de aprender. O saber distancia-se do sentir."

Luís Alberto de Abreu
'A restauração da narrativa'

Oh, Deus!
Ou Dionísio!
Se daqui, da minha torre de marfim
Vejo o mundo juntar-se
Eu, que demoro a dizer: sim, junto-me também
Não sei como daqui desço
Ou se comigo pereço
Pro mal ou pro bem...
Enfim, emperro no meio
Entre a cruz e a espada
Se entrego-me ao que foge de mim
Descreio, já não valho nada
Se fico no que tenho, envelheço
No mesmo horizonte da minha mirada...
Enferrujei
Se é bom ou não
Não sei...

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R-E-V-O-L-U-Ç-Ã-O, mérrmão!


Ah a clarineta!
Que lufadas de vento!
Dedos em riste!
Ataques precisos!
Ouvidos atentos!
Cuidado com ela!
Mas sem perigo de sair ferido!
É a clarineta, meu amigo!
Essa não fere!
Não é baioneta!
Sua pólvora é a prova!
De que fogo não se cura com atadura!
Lê-se escrito!
Na partitura!
Com ela se vai avante!
R-E-V-O-L-U-Ç-Ã-O, mérrmão!
Front tem de mont!
Com violinos na labuta!
Sacudindo o princípio da luta!
Sob os comandos de qual movimento?
O da batuta!
Ah a clarineta!
Aqui o passe é livre!
Teorias, conclames, piquetes?
Deus me livre!
Antes um banquete!
De arcadas e lufadas e repiques mudos!
Ou nada surdos!
Se por barulhos houver quem queira!
E como não?
Aqui o absurdo é abrir a boca!
Pra mastigar asneiras!
Calado! Ouça!
É a R-E-V-O-L-U-Ç-Ã-O, mérrmão!
Se o maestro é destro?
Vai saber!
Na orquestra se faz mestra!
A arte de nada dizer!
Venham, amigos!
Aqui o passe é livre!
Encontro com o prefeito? Revogação do não-sei-o-quê?
Ah, vá?
Bora um pouco se perder?
Venham!
Venham!
V-E-N-H-A-M! TUM! TUM! TUM!
Ei perua? Não se faça de Clitemnestra!
Venha ouvir a nossa orquestra!
Ei, senhor? Já já rebenta nosso tambor!
Ah! A clarineta!
Comecei com ela, termino com ela!
Mulher esguia de corpo alongado!
Militante aguda!
De cano furado!
É revolução que não se agita!
Saia dessa pasmaceira bendita!
E bora alienar-se um pouco!
Antes que saia dessa avenida!
R-O-U-C-O!
É a R-E-V-O-L-U-Ç-Ã-O, mérrmão!
Venham!
Venham!
V-E-N-H-A-M! TUM! TUM! TUM!
!!!
!!!
!!!

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Um dia, e finito o bendito grito!

Porque enquanto a revolução dorme
E os tambores deixam de rufar
A cidade, bem como a vida, torce o bigode, a matutar:
Não importa o grito, um dia a causa, assim como quem grita
Tudo, com ou sem razão - 
Seja pelo sim ou pelo não,
Há de silenciar...

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O que tem pro almoço?

Ontem me orgulhei
Hoje já não sei
Entre quiabo e chuchu
O que serve pra tu?
Na baciada de agora
Vou de jiló!
Se é bom?
Vai saber...
Nunca provei!

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Saravá meu Pai!

Deus me livre e guarde dos crentes
Dessas gentes que diz: já sei, é por aqui!
Antes perder-me na loucura
Ainda que vá preso na camisa de força
Nas jaulas úmidas do Juquerí!
Essas gentes, os da certeza
Deglutem ideias, mastigam conceitos 
Se tu pões macarrão à mesa
Comem não!
Preferindo Marx do que bifes
À milanesa
E tudo isso pra quê, minhas gentes?
Se chorei ou se sorri
Tudo vai embora
Num belo dum piriri!

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