A travessura
A incompostura
O deboche irreverente
A acidez de quem deixa de crer, vertendo lágrimas
Descrente
O riso sem causa, ou abarrotado delas
Rindo de tanto rir, imprecar sem ter porquê
No ato sem consequência, esvaziar
Armar viagens de vento cujo destino não é chegar
Ou chegando, antes de pisar em terra
Naufragar
Indo sempre além do que se vê, mas vendo tudo de tão perto
Com os olhos de quem nunca se acostuma a ver
Aquilo que por visto se dá sem força, bastando ser
E no fim nenhum desfecho
Porque o que se termina não é a vida, mas um jeito de por ela passar
Porque no fundo é isso: um palco enorme, de enredos diversos
Se um dia é tragédia, um fio tênue a separa
Da comédia
Na cadência dos dois extremos, existir
O sofrimento não é sumir
É não saber como chorar
Ou rir...
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sábado, 12 de outubro de 2013
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Olho para ele, meu cão...
Olho para o meu cachorro que nada diz e entendo perfeitamente a nossa diferença. Ele é um bicho livre, depois de nascer não precisou de alguns poucos dias para se desgarrar da mãe. Ele, o cão, não é filiado a nenhum partido político, não tem ideias a defender, religião nenhuma passa na sua cabeça, quiçá tem a obrigação de batalhar alguma identidade ou se virar através de linguagens convencionadas e previamente cifradas. Ele, o meu invejável cão, também carrega consigo uma outra deslumbrante qualidade: não deseja outro mundo senão esse, não acredita em melhorar nada do que já existe, tudo o que há para se cheirar com o seu focinho lhe é mais do que suficiente para viver feliz. O cão é sem dúvida um bicho do seu tempo, dono e patrão do seu direito de existir sem que seja preciso reivindicar nada. Já eu, alçado ao último grau da escala da razão pensante, sou o inverso de tudo isso... para afirmar minha liberdade sou obrigado a virar prisioneiro de tudo o quanto é necessário para viver reafirmando: sou livre, ou desejo sê-lo, e assim viro escravo, continuamente agrilhoado aos meus pares, cada qual inventando novos jeitos de serem livres sem se darem conta de que são tudo o que pensam... menos livres de fato. Há em mim uma profunda inveja do meu cachorro, que ao evitar as questões metafísicas vive sem cerimônias outras. A derrocada do homem começou na Grécia, quando algum barbudo miserável resolveu inventar abstrações... de lá para cá, infelizmente, só estamos aumentando a velocidade com a qual corremos atrás do próprio rabo. (salvo os povos do oriente - que sempre foram infinitamente mais sábios que nós -, a vida como a conhecemos é uma coleção infindável de equívocos patéticos).
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quarta-feira, 2 de outubro de 2013
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Vivo sempre numa contradição
Se existo, é junto aos outros
E quando neles me vejo, fujo
De volta a solidão...
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Se existo, é junto aos outros
E quando neles me vejo, fujo
De volta a solidão...
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Haverá de ser o que há de ser
Por isso me ausento
Se eu próprio não sei o que sou
Absurdo seria eu se ao mundo dissesse, em seu movimento:
Para a direita, para a esquerda!
Eu não, descreio!
Viver para descrer, esse é o meu andamento
Na roda da vida
Antes ficar parado, ou pedir para descer...
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Por isso me ausento
Se eu próprio não sei o que sou
Absurdo seria eu se ao mundo dissesse, em seu movimento:
Para a direita, para a esquerda!
Eu não, descreio!
Viver para descrer, esse é o meu andamento
Na roda da vida
Antes ficar parado, ou pedir para descer...
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quarta-feira, 18 de setembro de 2013
OCUPAÇÕES INDIGNAS DE URGÊNCIA EMBLEMÁTICA - # O emplacador de placas de perigo.
O Emplacador-de-Placas-de-Perigo cujas placas emplacavam as letras que formavam e ainda formam – se respectivamente enfileiradas na sequência que a gramática lhes conferiu tal significado -, essa palavra cujo sentido diz que há algo de perigoso a ser detectado ao redor ou no perímetro cujo raio de alcance precisamente não sabemos qual seja, emplacava ele, pois, o famigerado Emplacador-de-Placas-de-Perigo, com todos os recursos materiais propícios para essa importante tarefa cujo propósito primeiro e final era (e ainda é) o de justamente alertar aos semelhantes, ou não tão semelhantes assim, o risco que possivelmente todos corremos, ainda que sejamos diametralmente diferentes uns dos outros, ao darmos o primeiro passo para fora de nossas casas que, mui sabiamente, preservamos dos perigos e acidentes corriqueiramente testemunhados, quando não por nós vividos, nas cercanias e pátios públicos que compõem essa rede assassina de perigosas armadilhas sobre as quais os dias de todos, sejamos extraterrestres uns aos outros ou mesmo irmãos de sangue comum, corremos toda santa vez que, enfim, obrigados somos (e seremos ad eternum) a aventurar-nos sob o firmamento celeste com o objetivo de ganhar o pão nosso de cada dia. Portanto ele, o Emplacador-de-Placas-de-Perigo, sábio e cônscio da sua abismal tarefa de salvaguardar as condutas diárias de seus concidadãos - ainda que por vezes não os tomasse como concidadãos de fato e, muitas vezes, desejasse ( e ainda deseja) que a maioria deles padecesse eternamente no limbo profundo do inferno -, enfileirava com adesivos fosforescentes cada uma dessas formas geométricas que compõe o nosso alfabeto de curvas significantes - ou que significam (e ainda significam) quando lidas na sequência de suas significações gramaticais previamente convencionadas -, ordenando cada uma delas dentro de uma chapa de alumínio especialmente recortada para tal fim, seja ele o de emoldurar a palavra PERIGO para que, uma vez emoldurada e fosforescente na sua condição de adesivo resistente ao lusco-fusco, pudesse (e ainda possa) estampar essa tão urgente mensagem que, uma vez fincada no chão com a ajuda de uma haste de madeira especialmente talhada para tal fim, seja ele o de fazer suporte para a placa de alumínio especialmente recortada para tal fim, seja ele, como já dissemos antes, o de circunscrever dentro dos seus domínios legíveis a sequência de palavras que enfileiradas pela convenção da gramática desse a entender que há algo de perigoso rondando as cercanias do sítio cuja escolha, aleatória ou não, coube ao Emplacador-de-Placas-de-Perigo, delimitar como passível de risco eminente. Enfim, cabe a nós reverenciar esse ofício cuja ausência de alguém capaz de perpetrá-lo nos deixaria, ainda que não saibamos como nem porquê, mais inseguros do que já somos, e, havendo alguma alma caridosa que nos diga: CUIDADO, podemos nós, ainda que assassinos contumazes, nos precaver, senão de derramamentos desnecessários de sangue, ao menos de sustos, calafrios ou eczemas produzidos por essa intratável, mas necessária, tarefa de termos de nos aturar diariamente sob o jugo do destino que nos fez, uns aos outros, semelhantes ou não, contemporâneos desafortunados nesse teatro maior chamado vida...
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domingo, 15 de setembro de 2013
SIGA!
Vivemos na beirada de um leque de caminhos
Todos eles, os caminhos, cada um deles aberto ao convite de se pôr a caminhar
Mas não é curioso que não caminhemos?
Ainda que saibamos que as pernas nossas se movimentam, ora para frente, ora para trás - caminha-se, é certo!
Mas caminha-se?
O que fica é a sensação de que ficamos, estacamos
Sempre na beirada desse leque de caminhos
Cada um deles, os caminhos, tão floridos ao caminhar
Que por alguma razão ficamos
Sem ter aromas que cheirar
Ou cheiramos todos eles, certo?
Ou por tantas cores seduzidos, dormimos
Em sono de olhos abertos
Andando por alamedas sem fronteiras
Vazadas por marcas circulares de passos já dados...
Mas se tudo nos parece um sonho, sonhamos?
Um sonho, de fato!
Sonho concreto de caminhos abertos ao caminhar
Tantos eles, e por tantas placas sinalizados
Que estacamos, ou andamos
Com a sensação de não carregar nada
Nesse círculo que se não é círculo
É encruzilhada...
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Todos eles, os caminhos, cada um deles aberto ao convite de se pôr a caminhar
Mas não é curioso que não caminhemos?
Ainda que saibamos que as pernas nossas se movimentam, ora para frente, ora para trás - caminha-se, é certo!
Mas caminha-se?
O que fica é a sensação de que ficamos, estacamos
Sempre na beirada desse leque de caminhos
Cada um deles, os caminhos, tão floridos ao caminhar
Que por alguma razão ficamos
Sem ter aromas que cheirar
Ou cheiramos todos eles, certo?
Ou por tantas cores seduzidos, dormimos
Em sono de olhos abertos
Andando por alamedas sem fronteiras
Vazadas por marcas circulares de passos já dados...
Mas se tudo nos parece um sonho, sonhamos?
Um sonho, de fato!
Sonho concreto de caminhos abertos ao caminhar
Tantos eles, e por tantas placas sinalizados
Que estacamos, ou andamos
Com a sensação de não carregar nada
Nesse círculo que se não é círculo
É encruzilhada...
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sábado, 14 de setembro de 2013
???
Não sei o que sou
Mas sei perfeitamente o que não quero ser
E quando vejo-me espelhado nesse que evito
Afasto-me, dizendo:
Quão feliz é esse que sabe fugir!
Sábio verbo esse: escapulir...
Antes não ser -
Ou ser sombra vaga -,
Que inteiro acontecer
Sendo imagem projetada...
Que o infinito insista assim
Marcando ausências
No pouco que conheço de mim.
E quando em risco ver-me quase cheio
Esvaziar me faça
Porque sem isso: vazios
Perco-me sempre
Em desgraça...
...
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Mas sei perfeitamente o que não quero ser
E quando vejo-me espelhado nesse que evito
Afasto-me, dizendo:
Quão feliz é esse que sabe fugir!
Sábio verbo esse: escapulir...
Antes não ser -
Ou ser sombra vaga -,
Que inteiro acontecer
Sendo imagem projetada...
Que o infinito insista assim
Marcando ausências
No pouco que conheço de mim.
E quando em risco ver-me quase cheio
Esvaziar me faça
Porque sem isso: vazios
Perco-me sempre
Em desgraça...
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