Nada a fazer
Por que não fazemos somente isso:
Nada?
De que valem as idas e vindas
Os suores por árduos trabalhos
Os discursos de páginas longas
As vozes sempre prontas a gastarem-se em verbos já ditos, e revirados de tanto repetidos?
O que importa sentir-se útil para algo
Se para conosco prazer maior não há quando sabemo-nos imprestáveis?
Que imbecilidade é acumular reputações, proezas ou grandezas
Que estupidez é ostentar e usufruir de riquezas
Quando maior deleite que o vazio, o anonimato, a certeza de que não se vale absolutamente nada, nos preenche de sentido para a vida!
Por isso que não prestamos
Porque desejamos para algo prestar
E já eu aqui me culpo
Por a essas letras esforço enorme desperdiçar...
Ainda que um verso, uma imagem ou um acorde, nada queira senão isso:
Existir
Sempre estaremos nós aqui
A desejar que a arte - terreno para lá de descartável
Conforte-nos com um dever
Ainda que por dever não tenha
Senão isso:
Convencer-nos de que nada devemos.
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quarta-feira, 3 de julho de 2013
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Se a cada dia nosso
Uma linha escrita dedicássemos à posteridade
O que sobraria ao término de livro tão extenso
Senão um volume imenso
De
Palavras, palavras, palavras...?
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Uma linha escrita dedicássemos à posteridade
O que sobraria ao término de livro tão extenso
Senão um volume imenso
De
Palavras, palavras, palavras...?
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#
Às vezes a melhor leitura é aquela que não se lê
É passar os olhos
E nada reter...
Aconteceu agora comigo:
Li, e li muito
Para ao término dizer:
Nada li
Foram desenhos de letras
Que vi...
Quem poderá censurar-me dizendo:
Tivesse lido de verdade
Agora seria outro, melhor que esse que não lendo, se diz:
Duvido! Afinal,
O que importa ler
Quando imagens inteiras brotam dos blocos de parágrafos
Frases viram trilhas de contornos gráficos
E as letras oásis de curvas sinuosas?
A mim basta a periferia do discurso
Quem nele quiser se aprofundar
Que vá
Porque de mim só digo isso:
Sobrevoar já é viajar...
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É passar os olhos
E nada reter...
Aconteceu agora comigo:
Li, e li muito
Para ao término dizer:
Nada li
Foram desenhos de letras
Que vi...
Quem poderá censurar-me dizendo:
Tivesse lido de verdade
Agora seria outro, melhor que esse que não lendo, se diz:
Duvido! Afinal,
O que importa ler
Quando imagens inteiras brotam dos blocos de parágrafos
Frases viram trilhas de contornos gráficos
E as letras oásis de curvas sinuosas?
A mim basta a periferia do discurso
Quem nele quiser se aprofundar
Que vá
Porque de mim só digo isso:
Sobrevoar já é viajar...
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Um casarão antigo...
Passei por um casarão antigo, todo em ruínas.
Ilhado no meio das cores vítreas do progresso, lá estava ele
O casarão antigo...
Se ele tivesse pernas, o casarão antigo,
A ele teria dito:
Fuja! Fuja enquanto é tempo!
Mas tão logo isso disse -
Ou teria dito, se ele, o casarão antigo, pernas tivesse -,
Pensei comigo:
Que bobagem!
Eu que pernas tenho, fugir não posso
Ou não consigo!...
Invejei ele, o casarão antigo
Que resistia mudo aos novos ventos, todo inerte...
E lá jazia ele, o casarão antigo, já longe dos meus passos
Silencioso como um navio encalhado
Há séculos abandonado, por inteiro enferrujado
Ainda assim, ele, o casarão antigo e em ruínas
Mais digno me parecia
Que toda uma frota de fugitivos ágeis...
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Ilhado no meio das cores vítreas do progresso, lá estava ele
O casarão antigo...
Se ele tivesse pernas, o casarão antigo,
A ele teria dito:
Fuja! Fuja enquanto é tempo!
Mas tão logo isso disse -
Ou teria dito, se ele, o casarão antigo, pernas tivesse -,
Pensei comigo:
Que bobagem!
Eu que pernas tenho, fugir não posso
Ou não consigo!...
Invejei ele, o casarão antigo
Que resistia mudo aos novos ventos, todo inerte...
E lá jazia ele, o casarão antigo, já longe dos meus passos
Silencioso como um navio encalhado
Há séculos abandonado, por inteiro enferrujado
Ainda assim, ele, o casarão antigo e em ruínas
Mais digno me parecia
Que toda uma frota de fugitivos ágeis...
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segunda-feira, 1 de julho de 2013
Zona livre...
Uns vão
Outros ficam
Quem disse que a vida não é senão isso:
Um desvão
Onde se trambica?
...
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Outros ficam
Quem disse que a vida não é senão isso:
Um desvão
Onde se trambica?
...
...
Eu com meu rinoceronte...
Que vontade que me deu de remar para longe,
Numa canoa de largura pouca
Subo nela, enfim
Sozinho só de outros de mim
Junto que ia com um rinoceronte-náufrago
Resgatado depois de uma maré cheia
Que os pássaros ao céu anunciaram numa véspera de ventania...
Puxei-o para dentro da canoa
E lá eu ia
Remando com meu rinoceronte amigo
Para onde destino não tenho
Só remando
Para longe
E sem outros de mim
Só assim, enfim
Eu e ele
O rinoceronte-náufrago
Para onde, um lugar
Talvez...
...
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Numa canoa de largura pouca
Subo nela, enfim
Sozinho só de outros de mim
Junto que ia com um rinoceronte-náufrago
Resgatado depois de uma maré cheia
Que os pássaros ao céu anunciaram numa véspera de ventania...
Puxei-o para dentro da canoa
E lá eu ia
Remando com meu rinoceronte amigo
Para onde destino não tenho
Só remando
Para longe
E sem outros de mim
Só assim, enfim
Eu e ele
O rinoceronte-náufrago
Para onde, um lugar
Talvez...
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OBITUÁRIOS EXEMPLARES # O fim daquele que a cada dia via a sua casa desmontar, enquanto ele próprio desmontava...
No início uma porca saltou do mecanismo que fazia jorrar a
água da pia da cozinha. Engavetou o pequeno apetrecho de metal e continuou a
lavar a louça sem prejuízo algum para o fluxo que limpava o molho de macarrão
do prato sujo. Quando foi sair para o trabalho a maçaneta da porta saiu-lhe à
mão, e, como tal fato já havia acontecido outras vezes, não deu grande
importância ao incidente, acionando a porta através de um encaixe precário da
peça de metal em forma de alavanca. Saiu. Ao retornar para casa, a mesma
alavanca lhe cumprimentou, dando-lhe boas vindas ao se estatelar toda
barulhenta ao chão de taco de madeira envernizada. Irritou-se, mas foi só isso.
Foi escovar os dentes e percebeu que o espelho havia rachado em duas partes, como
aquilo foi acontecer era matéria misteriosa, mas não tão urgente a ponto de se
fazer investigações sumárias, tampouco enveredando para consertos imediatos. O
espelho ficou rachado mesmo, a maçaneta despregada da porta, e a porca
desatarraxada. Para economizarmos linhas e salivas, basta dizer que a casa
inteira andava desmontando enquanto a vida continuava a ser vivida, ou quase,
porque ele, sem saber, desmontava aos poucos também. Primeiro a érnia da
coluna, depois o nível de açúcar no sangue subiu, sem contar as noites de
insônia. Um dia, eis que aparece um
anúncio no jornal colocando à venda o malfadado lar. O que teria acontecido ao
proprietário para tomar tão radical decisão? A essa pergunta ficaremos órfãos
de resposta, uma vez que ele também estava ali com seu nome estampado no jornal,
só que páginas adiante, na sessão de obituários...
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