quinta-feira, 7 de junho de 2012

Quer ser professor? Tenha um bigode!



Quer ser professor? Dica valiosa: tenha um bigode. A relação é direta. O bom professor deve necessariamente apresentar um bigodão logo abaixo do nariz. Bigode no andar debaixo do cheirador? Não me diga? Afinal, em qual outro recanto desse nosso sítio cutâneo poderia haver abrigo para o senhor bigode? Caso tenha pensado em alguma pornografia o problema é todo seu, caro leitor. Eu estou preocupado com o espiritual. O corpo não vale o investimento, a terra há de comer – já pensou o tamanho do banquete que os vermes hão de fazer quando chegar o dia de jantar o loló da Rita Cadilac? Por isso que eu faço questão de afinar regularmente o meu esqueleto. Não dou alegria pra ninguém em vida, vou agora virar motivo de homenagem no túmulo? Se bem que todo morto vira santo. Todo morto é aplaudido de pé. Até verme vai à missa de sétimo dia com o terço na mão. E basta um canalha morrer pro papa abrir um processo de beatificação. Se o Cachoeira empacota, o pontífice o transforma em chafariz de água benta no instante seguinte! E a fonte-santa vira ponto de peregrinação, com milhares de fieis andando em volta aos gritos de ‘Aleluia ó H²O do Olimpo!’. É por isso que a indústria dos santos anda de vento em popa mesmo em tempos de crise. Presunto não liga pra crise alguma. Presunto continua saindo que é uma beleza. E todo presunto vira santo. Sorte dos porcos que devem ter um chiqueiro só deles no céu. Mas chega de humor-de-presunto! Brás Cubas é infinitamente mais talentoso nesse quesito do que esse humilde servo das letras-pagãs que vos fala. Como ia dizendo, professor que é professor estampa um bigode no focinho. O bigode é um atributo corporal, correto, mas é ao mesmo tempo a ponte para o espírito. O bigode é a carta de alforria do sujeito preso à ignorância. O bigode é o elixir filosófico, a passagem secreta entre o terreno e o supra-sensível, o cartão vip que dá acesso ao camarote do Oráculo de Delfos. Não há por onde fugir, caro candidato ao magistério, se quiser ser professor, embigode-se! Mas atenção! Cuidado com o cavanhaque! O cavanhaque poderá levá-lo a outra profissão num estalo de dedos. Motoboys tem cavanhaques. E nenhum professor vai querer associar sua nobre causa com o delivery do Habibs. O professor é o arauto do saber, não o mensageiro da esfiha. Se bem que dependendo do professor qualquer mesa de bar chinfrim vira estágio em Harvard. Nesse caso, quando o estômago vence, quase sempre a culpa é do mestre, que inadvertidamente se esqueceu de estampar o bendito do bigode. O bigode é a vestimenta moral, o anel de Nibelungo do saber, a pedra filosofal dos boletins acadêmicos. A gilete, por sua vez, é criptonita do corpo docente, a encruzilhada da reputação abstrata, o juízo final da emancipação do espírito. Não há nada pior do que um professor ver a sua reputação ser colocada em xeque. Para evitar tal inconveniente, não hesite em deixar crescer sua palhoça acima do lábio superior. Não é bobagem o que digo, caro leitor. Um homem de cara lavada não é respeitado pelo que sabe, pode reparar! Pode até ser o Einstein, mas se tiver a cara limpa, fracasso total, não imprime respeito algum. Einstein, aliás, era um emérito representante da bigodície científica. Tire-lhe o bigode e o E=MC² vira domínio público. Insisto. Com o bigode tudo se altera. Até uma anta-onomatopaica ganha mais respeito quando se embigoda. Entre numa sala de aula com um bigode e imediatamente conseguirá discorrer sobre os mais variados temas, desde o imperativo categórico de Kant, passando sobre os perigos e vantagens do uso sistemático do acelerador de partículas da física nuclear e até sobre qualquer outra coisa que faria um ganhador do Nobel render-lhe reverências. Eu tenho bigode. Não sou bobo nem nada! Agora, como ficam as mulheres nessa história de pelos faciais? Elementar minha cara mulher barbada do circo. Aquelas que não tiverem um buço para valorizar devem recorrer aos bigodes postiços. A 25 de Março é mundialmente conhecida pela venda de bigodes made-in-Taiwan. São resistentes, macios, duráveis e ainda contam com a vantagem de poderem ser lavados e estendidos ao sol para secar – prática que deixaria marcas vermelhonas na cara dos homens que resolvessem aderir ao hábito. Outra coisa interessantíssima é identificar o que ocorre a uma plateia quando esta se defronta com um polpudo bigode. Um bigode é capaz de silenciar uma feira. Se Moisés tivesse um bigode não precisaria recorrer ao Salvador para abrir passagem pelo Mar Vermelho. O bigode daria conta desse obséquio sem maiores esforços. É incrível a capacidade persuasiva de um bigode. Hitler, Stalin, Osama, Sadam e todos os malucos que já passaram pela história do nosso planeta tinham um bigode. E isso por uma única razão: o bigode convence. Ninguém duvida de um bigode. Pode ser o lunático que for, se carregar um bigode estará absolvido. Quando me lembro das inúmeras tentativas de colocar por terra esses carrascos-malucos da humanidade, constato com tristeza que ninguém imaginou a solução mais óbvia para o sucesso na empreitada: uma navalha. Não para cortar o pescoço, mas para aparar o bigode. O barbeiro seria o agente secreto ideal da resistência. Mas ninguém se dá conta de perceber o óbvio. Cuidado! Não digo que o professor deva ser um carrasco. Mas uma vez com um bigode no rosto é bom que ele se dê conta do enorme poder de artilharia da sua taturana-narigal. Recordo de um professor que tive. Ele era altamente equivocado, um legítimo paspalho dentro de um terno que saia por aí vendendo fórmulas vazias de sucesso aos alunos. Um frustrado na vida que fazia da academia o seu consultório de psiquiatria. Pois então, não havia um desgraçado que ousasse encostar o cara na parede e exigir a sua demissão. Tudo por conta de um bigode. O bigode desse professor era um escudo inviolável que fazia render aplausos, nunca vaias. Mas eu sou diferente, caro leitor. Cuido do meu bigodão por uma questão estética. Não sou picareta. Até que me provem o contrário, não sou picareta! Mas só lhe peço uma coisa. Não venha para cima de mim com uma espuma de barbear! Prefiro um embate filosófico de ideias que me derrubem a ter de abrir mão do meu bigode. Mas isso dificilmente acontecerá. Afinal, o portador de um bigode sempre vence! Saudações bigodais! 

Um comentário:

  1. tsc tsc...Chico ler suas reflexões é como navegar por um tipo de encenação da vida real, com uma visão privilegiada do camarote das suas proposições questionadoras...ate se sentir um ignorante filosófico e acordar como se tivesse saido de um transe profundo, recomendo mas com moderação. mto bom o texto!

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