sexta-feira, 27 de abril de 2012



O que é admirável na anta é a sua sinceridade. As antas são sempre sinceras, diria mais, translúcidas, de uma pureza espectral de fazer inveja ao mais fino cristal. As antas nunca dissimulam - não teriam talento algum para serem atrizes! -, antas não são capazes de vestir o bigode de vilão ou saltitar como mocinhas ingênuas pelas pradarias campestres. Não! Antas são antas e continuam antas no mais alto grau de dignidade antal! Ponto final. Tive a oportunidade de conhecer uma genuína anta, era uma anta da espécie anta-secretária que tem por hábito viver na aba do chefe, ele espirrava, lá estava a anta com um pacotinho de lenços perfumados. Um dia, escrevi num bloquinho a palavra 'contemplados', em referência a uma dúzia de ouvintes - eu trabalhava numa emissora de rádio na época -, que haviam sido sorteados com um par de ingressos para um tal concerto na Sala SP. Foi a anta bater o olho na palavra do tal bloquinho para brilhar os olhos e sair trotando feliz pela redação: 'contemplados!', 'contemplados!' 'contemplados!'. Pois é... a anta acabara de conhecer uma palavra de composição ultra-complexa e não economizava circunstâncias para empregar a nova aquisição do seu vasto dicionário mental: 'Por obséquio, o senhor gostaria de ser contemplado com um cafezinho?', 'Perdão, mas a faxineira já contemplou o lavabo com um par de rolos de papel higiênico?'... e por aí vai. Nesse dia, lembro-me de todos os funcionários estáticos, todos plateia daquele espetáculo deslumbrante de sinceridade protagonizado por uma legítima anta, anta que era incapaz de maquiar sua burrice colossal!

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