terça-feira, 3 de dezembro de 2013
LAMENTO
Se é verdade que nunca fui jovem
Velho também não soube ser
A esperança, de um lado, nunca coube em mim
A certeza do cansaço, por outro, só por boatos sabia
O que sou agora tampouco sei
Talvez alguém no equilíbrio vazio dos extremos
Se das beiradas sei um pouco
No centro guardo muito de quase nada
Esperando para que lado caminho, fico
Mas eis que agora vejo
A direção que me fazem ver é de chão duro
De um rumo de passos cada vez mais tristes
Apagando certezas de outrora só minhas, enfim, ando
Ou só isso faço porque com o tempo não se compete
O certo é deixar-se levar, levando consigo o suficiente de se lembrar
Para trás não mais, quisera que pudesse
Ralentando de memórias, vou
Elas que pensava antes
Serem eternas
Como aqueles de quem gostava
Como eu
Não mais jovem
Um pouco bem mais velho
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domingo, 1 de dezembro de 2013
MOLDURAS IMPROVÁVEIS PARA PERSONAGENS DESPREZÍVEIS: # Augusta, guardiã das escadas...
Só sabemos que se chamava Augusta, ou nem isso sabemos, e ainda, se quiséssemos, poderíamos inventá-la um sobrenome qualquer, mas são tantas as Augustas vagando por aí que não valeria a pena cercá-la de batismos outros senão esse que por hora nos satisfazemos em aferir: chamava-se Augusta e pronto. Mas saibam vocês que bem poderia chamar-se Olegária, ou quem sabe Epifânia-das-Acácias, por que não?... coisa que em nada alteraria o produto dos fatos. Fiquemos com Augusta e não se fala mais nisso. Pois ela, Augusta, era a responsável, ou ainda é, por impedir que qualquer fulano que por ousadia rompesse as margens do bom senso, ainda que margem alguma houvesse sido proclamada aos ventos, resolvesse, por livre e espontânea implicância, galgar os degraus daquela escada que, nesse instante e por razões que a nós parecem mais do que justificáveis, não merece explicações acerca de onde iria dar, só nos restando dizer: era uma escada que iria dar em algum lugar e pronto. Mas saibam vocês que bem poderia ser uma escada cujo destino levasse o seu aventureiro escalador a desfrutar das mais angélicas iguarias, esperando-o no cume uma comitiva de nobres representantes todos enfileirados atrás de uma generosa fita somente aguardando o momento em que ele, o fanfarrão aventureiro ultrapassador de degraus, sacasse de seu bolso uma tesourinha qualquer para, então, rasgar com um ‘zip’ certeiro o cetim brilhante daquele limite falsamente imposto para, então, ser atingido na cabeça por bexigas coloridas e confetes recortados em pedaços pequenos e igualmente coloridos, tudo, evidentemente, celebrado sonoramente pelos acordes de uma fanfarra qualquer, ou mesmo uma banda, e ainda que fosse um quarteto de cordas, enfim, daria no mesmo. Fiquemos com a fanfarra e pronto. Pois ela, Augusta, consideremos esse o seu único nome sem sobrenome, estava lá justamente para impedir que qualquer diabo transgressor ousasse direcionar o seu corpo, mirrado ou preenchido por banhas, para esse monumento de ferro escarpado e, por fim, agisse como um desnaturado criminoso que certo dia acorda com o único objetivo de fazer frente às legislações sociais amplamente entabuladas nas placas da lei e da ordem, ainda que placa alguma houvesse, e muito menos uma placa dizendo: NÃO SUBA A ESCADA!, para, então, lançar-se impiedosamente para cima, com ou sem a ajuda do corrimão, para, então, lá do alto, distribuir sorrisos zombeteiros para aqueles que, sábios de sua minúscula importância, tivessem permanecido onde deveriam permanecer, no andar debaixo, silenciosos e admirados com tamanha falta de senso ético e moral daquela ovelha desgarrenta, cujo balido altissonante faria qualquer um reivindicar seus direitos junto aquela cujo nome decidimos democraticamente ser Augusta. E justamente lá estava ela, Augusta, empregada para tal emprego: o de evitar que aquela escada servisse de emblema transgressor, pronta para reprimir com a força da voz a ordem inequívoca resumida na seguinte frase: PROIBIDO SUBIR AÍ!... e vejam vocês, aquela escada bem poderia ser o destino de um cadafalso, fazendo dos seus degraus a marcação ritmada dos últimos suspiros do condenado que houvesse curiosidade por vencê-los, nesse caso, então, Augusta seria uma verdadeira anja travestida de funcionária da burocracia crepuscular, mas, ainda que isso fosse verdade, que regra é essa que impede qualquer miserável de dizer: QUERO ME ENFORCAR E PRONTO! (???), justo por justo, seria mais do que justo que qualquer diabo decidisse por si só e sem a interferência de qualquer Augusta, Sônia ou Eulália, se seria o caso, hoje ou amanhã, de se enforcar ou não, ainda que para tal houvesse por desafio escalar aquela maldita escada feita de metais talhados... mas tudo isso são conjecturas, afinal, a escada ainda continua lá, virgem de viajantes, e para todo o sempre guardada por sua fiel escudeira, Augusta, ou Norma, ou Sylvia com ‘Y’...
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quinta-feira, 14 de novembro de 2013
...
Dizer o que há para ser dito
Dizendo o que aos olhos não foi feito para ser visto.
Ver o que existe à vista
Inventando imagens nunca antes conhecidas.
Habitar o solo que a todos sustenta
Plantando terrenos de instáveis sedimentos.
Desequilibrar-se no equilíbrio da constância
Perdendo o fôlego no sopro do movimento.
Saber que viver é questão de respeitar simples fórmulas
Colecionando necessárias destemperanças...
...
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Dizendo o que aos olhos não foi feito para ser visto.
Ver o que existe à vista
Inventando imagens nunca antes conhecidas.
Habitar o solo que a todos sustenta
Plantando terrenos de instáveis sedimentos.
Desequilibrar-se no equilíbrio da constância
Perdendo o fôlego no sopro do movimento.
Saber que viver é questão de respeitar simples fórmulas
Colecionando necessárias destemperanças...
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quinta-feira, 7 de novembro de 2013
(...)
Dessas dores que agora sinto
Todas elas apago
Quando por elas vejo
Que do corpo vem
Seu estalo...
Quão pior seria, alma minha
Se fosses tu a ferida
Melhor assim
Enquanto o de fora padece
O resto aos olhos não visto
Resiste
Não entristece...
...
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Todas elas apago
Quando por elas vejo
Que do corpo vem
Seu estalo...
Quão pior seria, alma minha
Se fosses tu a ferida
Melhor assim
Enquanto o de fora padece
O resto aos olhos não visto
Resiste
Não entristece...
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quarta-feira, 6 de novembro de 2013
[...] ?
Sonho pouco
Ou nem tanto
Só sonho para sonhos não guardar
E quando acordado
Comigo fico
Pensando o tanto que dessa matéria desperdiço
Tentando reaver uma lembrança que seja
Daquilo que some
Quando se dorme...
...
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Ou nem tanto
Só sonho para sonhos não guardar
E quando acordado
Comigo fico
Pensando o tanto que dessa matéria desperdiço
Tentando reaver uma lembrança que seja
Daquilo que some
Quando se dorme...
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MOLDURAS IMPROVÁVEIS PARA PERSONAGENS DESPREZÍVEIS: # O Papagaio órfão...
Deve ter sido um peralvilho cuja mãe por paga merecida do destino deve hoje assar as ancas nas labaredas do inferno em razão de ter estreado ao mundo cria tão abjeta e descomposturada o responsável direto pelas idas e vindas daquela senhora balofa de buço proeminente à varanda de sua casa naqueles intervalos intermitentes em que a campainha tocava e nenhuma alma aparecia para reivindicar a autoria do chamado. Pois na última vez dessa indecorosa ocorrência a Matilda-das-Banhas nome inventado para a tal senhora balofa e de buço florestal levou consigo uma espingarda velha do finado marido que julgava estar aposentada na sua ferrugem sexagenária. Pois não estava. Um tiro soou. E o pobre do carteiro que em nada tinha a ver com os joguetes desse tal peralvilho de mãe agourenta a quem nunca chegamos a conhecer mas tão somente conjecturar existir enquadrando-o na autoria das diabruras já relatadas teve de se virar para fazer passar a bala por cima de seus ombros e se nele o projétil não produziu maiores estragos fora o susto foi a coisa aninhar-se mortalmente no coração inocente da senhora Conceição outra gorda mas sem qualquer vestígio de buço que regularmente levava seu papagaio para fazer a siesta no terraço de sua humilde residência. A carta jogada para o ar antes do Raimundo, outro nome inventado para o carteiro que bem poderia se chamar Jacó ou Antenor, sair correndo sem que saibamos se um dia voltará a tocar qualquer outra campainha na vida dizia em letras chiques que a tal Matilda-das-Banhas era convidada para um baile de terceira idade naquela mesma noite e enquanto o papagaio da finada Conceição era levado para a delegacia numa tentativa desesperada de inquirir o bicho sobre as circunstâncias que levaram sua dona a bater asas para o além a tal da Matilda-das-Banhas rebolava seu quadril coladinha a um senhor que se não era tão parecido com o seu finado marido muito se assemelhava à espingarda enferrujada que instantes antes dera fim a uma amorosa relação entre a Conceição e o seu hoje pássaro órfão.
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MOLDURAS IMPROVÁVEIS PARA PERSONAGENS DESPREZÍVEIS: # O Ator de copiosos fracassos.
O tal ator cujo nome não importa, irrelevante tanto no palco quanto na vida, passou sua cinza existência colecionando fracassos e abismos de crítica, até que, numa determinada noite, Astolfo, seu cão vira-lata de sarna às vistas e pata manca, que mui sabiamente era levado pelo próprio dono para esperá-lo no camarim, sendo ele, o cão vira-lata, o único diabo a lhe congratular com uma lambida o seu pífio desempenho sobre as tábuas da ribalta, escapou da coleira e foi querer experimentar as agruras do seu amo, servindo-lhe de antagonista. O tal ator cujo nome já o tempo apagou, vendo o bicho manquitolar feito um Ricardo III debaixo dos refletores, e ávido por um afago na orelha caída direita, soltou um berro trágico de 'fora daqui, seu quadrúpede miserável', no que fez imediatamente Astolfo congelar feito uma estátua de sal do antigo Egito. A plateia veio abaixo em urros e vivas, e o jornal estampou no dia seguinte a estrondosa interpretação que há tempos o teatro economizava aos seus tristes espectadores. Pois coube ao destino cerrar as cortinas para Astolfo, devolvendo ao ator cujo nome é tão desprezível quanto o seu passado inglório, a sua sina de padecer novamente na falta de talento, que somente um cão vira-lata pôde, um dia, reverter...
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