O pouco já me é suficiente
E quando o pouco não me entende
Sobra o que me falta
Só
E tão somente...
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quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
Que o teatro...
Que o teatro nunca perca a sua inerente propensão ao inacessível. Que o teatro - diferente das mídias que pavoneiam seus contornos através da sedução da imagem – permaneça intratável ao alcance das massas. Que o teatro nunca raspe o perigo da popularidade!, funcionando como instrumento de propaganda daqueles que buscam artifícios ‘culturais’ com o único intuito de entreter grandes contingentes de rebanhos incautos. Que o teatro continue a abrigar o reduto marginal das possibilidades de comunicação – acessível somente àqueles corajosos que ousarem decifrar os seus mistérios. Que seja difícil entrar no teatro! – que o palco nunca abandone a sua habilidade em intricar todos os discursos transmitidos pelos suportes transparentes dos deglutidores de informação. Que a burrice dos meios televisivos com os seus bonecos vaidosos se enterrem nas próprias fronteiras do mau gosto e da secura de criatividade – que nenhum desses barganhadores de purpurina interfiram no terreno perigoso do teatro. Que o teatro seja e continue a ser obscuro, reduto de figuras gigantescas que não pensam duas vezes em deformar as suas aparências para sumir por detrás de túnicas gregas, vestimentas elizabetanas, máscaras de tintas fortes. Que o teatro possa sempre ser descartável e longe das discussões oficiais, porque só assim poderá pensar na manutenção das suas impossibilidades de adequação à feira consumista que nos aprisiona. Que o teatro não se misture à ideia de que tem como obrigação educar os que ocupam as suas fileiras, porque só no exílio das funções úteis é que o teatro pode se alimentar do seu maior dever: o de afiar o seu olhar para o mundo, sem poupar nada nem ninguém. Que o teatro viva, vivo por aqueles que fazem do teatro essa arte sempre artesanal, distante dos sorrisos facilitadores da vida.
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sábado, 27 de julho de 2013
Versos...
Os versos são profetas
Mal começam e dizem:
Cuidado com o que vem de cima
Hora ou outra
Tudo desmorona
Morrendo em rima...
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Mal começam e dizem:
Cuidado com o que vem de cima
Hora ou outra
Tudo desmorona
Morrendo em rima...
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Velho...
Me vejo velho
Vivo daqui a tantos anos
Já caduco pelos dias já idos
Interpretando personagens de barbas brancas
Arrastando o que agora levo ágil...
Me vejo querendo já ser o que serei
Coisa que na alma já bem sei que sou
Curioso ser ainda jovem
Ou aparentar jovem ser
Imagino que dentro de mim o tempo flui dez vezes mais
Demorando a trazer junto o que vejo por mim
Mas e quando velho sentir-me inteiro?
O que me dirá esse que agora escreve
Brincando perverso com a certeza do fim?
O que direi não sei
Só exijo desse que espero paciência
De olhar para trás sem sofrer
E, quem sabe, dizer
Sou o que ontem já previa
Só mais um que cumpre tranquilo
O caminho de mão única
Da vida...
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Vivo daqui a tantos anos
Já caduco pelos dias já idos
Interpretando personagens de barbas brancas
Arrastando o que agora levo ágil...
Me vejo querendo já ser o que serei
Coisa que na alma já bem sei que sou
Curioso ser ainda jovem
Ou aparentar jovem ser
Imagino que dentro de mim o tempo flui dez vezes mais
Demorando a trazer junto o que vejo por mim
Mas e quando velho sentir-me inteiro?
O que me dirá esse que agora escreve
Brincando perverso com a certeza do fim?
O que direi não sei
Só exijo desse que espero paciência
De olhar para trás sem sofrer
E, quem sabe, dizer
Sou o que ontem já previa
Só mais um que cumpre tranquilo
O caminho de mão única
Da vida...
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Pergunto ao cão...
Vou lá fora e pergunto ao cão se ele está com frio
No silêncio de quem nada diz, responde: vá se deitar, está tudo bem.
Não me convenço, e no embalo da resposta muda invento um canto mais quente
E digo:
Se pudesse, levaria você para dormir lá dentro comigo
O cão pensa, imaginando como seria
Eu volto pra cama
Contente.
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No silêncio de quem nada diz, responde: vá se deitar, está tudo bem.
Não me convenço, e no embalo da resposta muda invento um canto mais quente
E digo:
Se pudesse, levaria você para dormir lá dentro comigo
O cão pensa, imaginando como seria
Eu volto pra cama
Contente.
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Frio...
Eu acordo nessa manhã suiça de fog europeu, vou até um café na esquina de casa e peço um capuccino com um pão na chapa. Ao sorver tão frugal desjejum, vislumbrando os cachecóis alheios de quem atravessa a rua adiante, penso cá comigo: o Brasil tem jeito... Mas logo caio na real - daqui a pouco volta o verão, com a beleza das baratas saltando para fora das bocas de lobo e a pernilongada chupando o sangue das peles suadas. Ah meu pai amado! Quem haverá de entender que essa Nação-de-Tangas só não vai pra frente por culpa do maldito termômetro? Pra virar primeiro mundo, só acabando com a água de coco, na onda gostosa de uma nova era glacial! Que venham os pinguins imperadores!
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Poema difícil...
Quis escrever um poema difícil só pra ver quem me leria até o fim
Mas desisti tão logo vi, pobre de mim
Que nem no arroz e feijão há quem queira dispor mastigação.
O jeito - se é que versos pra isso existe,
É apostar no plástico, coisa que já vem pronta
E se pimenta não ponho
(Tenho vergonha)
Entrego sem picles
Essa sua rima
Em forma de sanduíche...
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Mas desisti tão logo vi, pobre de mim
Que nem no arroz e feijão há quem queira dispor mastigação.
O jeito - se é que versos pra isso existe,
É apostar no plástico, coisa que já vem pronta
E se pimenta não ponho
(Tenho vergonha)
Entrego sem picles
Essa sua rima
Em forma de sanduíche...
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