sábado, 27 de julho de 2013

Isso...

Se não é isso, é aquilo... 
Entre aquilo e isso
Pra quê o buliço?
Ora um, ora outro
Querendo demais algum
Que desperdício (!!!)
Sobra pouco

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

OBITUÁRIOS EXEMPLARES # O Fim do Fazedor de bonecos invejáveis...


Era uma vez um fazedor de bonecos inconformado com o mundo. De tão decepcionado com o comportamento dos seus semelhantes – que segundo ele era precisamente o que tornava o mundo um lugar insuportável de se viver -, ele, o fazedor de bonecos, teve uma ideia que prometia ser revolucionária: iria dar às suas novas criaturas um caráter nobre, talhando cada boneco que ficava pronto com uma qualidade de comportamento invejável aos princípios que deveriam ser por regra a matéria de convivência dos humanos, mas que há muito já não eram praticados. E foi o que fez, povoando o mundo com figuras de madeira e tecido educadíssimas, e preparadas para o convívio mútuo. Com o tempo a sociedade melhorou consideravelmente, todos imbuídos em seguir os exemplos das marionetes confeccionadas sob medida pelo fazedor de bonecos, eleito prefeito da cidade por ampla maioria de votos; porém, conforme os anos iam passando - e tal era a mistura entre humanos e bonecos -, já não era mais possível discernir quem era feito de madeira e pano, daqueles constituídos de carne e osso, e, ainda pior!, notou-se uma gradual degeneração das qualidades éticas e morais desses habitantes híbridos, o que levou o fazedor de bonecos a nutrir uma raiva descomunal por suas criaturas e por todos aqueles que, humanos ou não, haviam novamente se pervertido em nome de não-sei-o-quê. O mundo voltou à decadência que já conhecia, e ele, o fazedor de bonecos, decidiu então se dirigir ao povo e convocar uma assembléia em praça pública. Sob os olhos silenciosos da população, ele, o fazedor de bonecos, desenvolveu um discurso tão incisivo, insistindo na recuperação dos comportamentos de outrora, na urgência em se manter um padrão de civilidade e conduta social, enfim, foram tantas as palavras de ordem que ele, o fazedor de bonecos, começou a enrijecer e tropeçar nas palavras, fazendo dos gestos - antes longos e precisos -, agora engrenagens duras e enferrujadas. Ao término do discurso era ele próprio, o fazedor de bonecos, um novo e desengonçado boneco, inteiro articulado em esperanças que não existiam mais, embirrado num ideal de vida que fugia à realidade da própria vida. Foi escoltado pela multidão até o próprio galpão onde trabalhava e lá foi desmontado, servindo de lenha para alimentar as fogueiras nos parques, sendo finalmente útil... aos que não tinham teto... e passavam frio.



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segunda-feira, 22 de julho de 2013

DES-CRER...

Quando não se há mais nada para crer
Eis o mundo, insistindo em ter algo com que se haver
Já eu, que há muito em nada creio
Ou que há tempos entendi que pouco vale sofrer
Sofro também,
Mas sofro não por crenças
Senão por descrenças
Porque descrer, ainda que ao inverso
É um jeito nobre de crer
Crendo que os que creem não veem
A beleza de existir
Sem ter porquê...

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domingo, 21 de julho de 2013

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Quando sobraram argumentos para dizer, não disse
Mas quando quis, não pude
Pouco havia o que fazer
Melhor é filosofar, haver com você
Assim só se diz sem dizer
Sem precisar se aprumar
Ou ter algum porquê

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O dilema do grito...

Um dia um gritou
Outro gostou do grito e gritou também
Quando se viu era um bando a gritar
E o grito que um dia foi grito de alguém
Agora é grito de todos
Gritando para o nosso bem
Mas que grito é esse?
Afinal, se é grito de todos não é grito de ninguém
Buscou-se, então, quem gritou pela primeira vez
Para ver que grito é esse que tantos outros pelo grito disseram amém
Mas, tarde demais
Já não havia quem pelo grito dissesse:
Fui eu que gritei
E todos calaram-se, marchando mudos para casa
Diz a história que um dia um gritou
Cabe saber onde está aquele outro, o sábio
Que ao grito dos outros não se ajuntou
E resignado no seu canto pouco disse
Ou não disse nada
E se calou.

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A vida tem dessas coisas
Vive sem cansar de ser
Ou cansando ainda, acha que isso é que é o viver
Um nascer para sempre
Sem nunca morrer
Mas eis que um dia a vida cansa
A vida também é isso
Pajelança
E tudo o que é demais, já diz a vida
Não dura tanto
Ou se dura, não perdura
Jamais
A vida tem dessas coisas
É uma coisa que como coisa
Lá pelas tantas
Deixa de coisa ser
Quer treco mais maluco
Que esse
Viver?

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Se eu não nascesse onde nasci
Teria ido nascer
Não aqui, ali
Impressão tenho
Que feliz só posso
Onde não vivi...

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