O que seria do mundo sem aqueles que ao mundo dão corda para fazê-lo girar?
O que seria de mim se tão fundamental tarefa coubesse a esse que sou, nunca instruído sobre ofício tão indecoroso?
O que seria se o supérfluo me fosse levado
E eu obrigado fosse a dar conta do essencial?
O que seria se roubassem-me o inútil
E vestissem-me com essas roupas dos dias
Dos que andam com metas e pastas debaixo dos braços?
O que seria de tudo isso
Se sobre isso não pudesse simplesmente escrever
E saber que tudo, incluindo o que é lido
Embora desejoso de vitória
Só acontece para morrer
No destempero da memória?
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quinta-feira, 17 de outubro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Queria, mas não vou!
Eu queria dizer ao mundo tanta coisa...
Mas o que me sobra depois de tantos outros haverem dito
É dizer que não há outra coisa que valha mais a pena
Que nada dizer
E nisso fico
Dizendo que dizer é no fundo isso:
Um desperdício de calar
Ou pena de não conversar
Só comigo.
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Mas o que me sobra depois de tantos outros haverem dito
É dizer que não há outra coisa que valha mais a pena
Que nada dizer
E nisso fico
Dizendo que dizer é no fundo isso:
Um desperdício de calar
Ou pena de não conversar
Só comigo.
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sábado, 12 de outubro de 2013
OCUPAÇÕES INDIGNAS DE URGÊNCIA EMBLEMÁTICA – # O fazedor de cavaletes.
Não se constrói um cavalete assim, com essa cara de quem
acabou de se levantar da cama. Porque a cara de quem se levantou da cama é
sempre uma cara de quem se levantou da cama, denunciadora da tragédia que é ter
se levantado da cama mais uma vez, e, não obstante a isso, erguendo-se da cama justamente
com ela, a mesma cara que ontem foi se deitar, e para os mesmos serviços a que
está rotineiramente acostumada – ainda se pudéssemos decidir com que cara
acordar, tudo seria infinitamente mais fácil. Ademais, encerramos essa questão
da dificuldade de se ter uma cara que acabou de sair da cama e, portanto,
incapaz de prestar para o exercício da fabricação de um cavalete, dizendo que
esse tipo específico de qualidade de cara não nos serve para tão caro intento,
que é o de reunir expedientes, tanto intelectuais quanto manuais, para dar
conta dessa tarefa de construir um cavalete. O cavalete exige mais, é matéria
de concentração árdua para fins de extrema utilidade pública, uma vez que o
cavalete é peça fundamental, por exemplo, para se levar não sei quantos
milhares de pessoas a determinado lugar escolhido por aquele que, não
necessariamente o construtor de cavaletes, mas aquele que resolveu por ali
largar esse totem de madeira talhado na proporção exata para manter-se em pé
por séculos e mais séculos até que alguém, não necessariamente o construtor de
cavaletes, mas alguém que por alguma razão sabe-se lá qual retire do lugar para
alocá-lo em outro, e numa fila de iguais – porque um cavalete sempre anda em
parceria com outros cavaletes – redirecionar essa massa de humanos que mui
sabiamente um dia viu a necessidade de ser guiada feito rebanho de boi para
onde quer que seja preciso ir, seja para lugares aprazíveis ou não tão aprazíveis
assim, bastando como estímulo para levantar a cara diariamente da cama que
esteja em constante movimento, movimento que participa da extrema necessidade de
não ter razão ou motivo algum para ser, conquanto vá para onde tiver que ir, e
nisso o cavalete nos auxilia. Veja, então, o porquê de darmos a devida atenção
e valor a esse profissional que mui sabiamente coloca-se a favor dessa que talvez
seja, ao menos pelos nossos cálculos não há dúvidas de que de fato seja, a mais
crua e substancial necessidade humana de saber-se massa de manobra, e,
portanto, humildemente ávida por cavaletes a serem erguidos como baias de
retenção aos perigosos desvios ou arrogâncias daqueles poucos que, mui
arbitrariamente e sem qualquer justificativa plausível, dizem: vou para onde
quero e com as pernas que me deram...
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A travessura
A incompostura
O deboche irreverente
A acidez de quem deixa de crer, vertendo lágrimas
Descrente
O riso sem causa, ou abarrotado delas
Rindo de tanto rir, imprecar sem ter porquê
No ato sem consequência, esvaziar
Armar viagens de vento cujo destino não é chegar
Ou chegando, antes de pisar em terra
Naufragar
Indo sempre além do que se vê, mas vendo tudo de tão perto
Com os olhos de quem nunca se acostuma a ver
Aquilo que por visto se dá sem força, bastando ser
E no fim nenhum desfecho
Porque o que se termina não é a vida, mas um jeito de por ela passar
Porque no fundo é isso: um palco enorme, de enredos diversos
Se um dia é tragédia, um fio tênue a separa
Da comédia
Na cadência dos dois extremos, existir
O sofrimento não é sumir
É não saber como chorar
Ou rir...
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A incompostura
O deboche irreverente
A acidez de quem deixa de crer, vertendo lágrimas
Descrente
O riso sem causa, ou abarrotado delas
Rindo de tanto rir, imprecar sem ter porquê
No ato sem consequência, esvaziar
Armar viagens de vento cujo destino não é chegar
Ou chegando, antes de pisar em terra
Naufragar
Indo sempre além do que se vê, mas vendo tudo de tão perto
Com os olhos de quem nunca se acostuma a ver
Aquilo que por visto se dá sem força, bastando ser
E no fim nenhum desfecho
Porque o que se termina não é a vida, mas um jeito de por ela passar
Porque no fundo é isso: um palco enorme, de enredos diversos
Se um dia é tragédia, um fio tênue a separa
Da comédia
Na cadência dos dois extremos, existir
O sofrimento não é sumir
É não saber como chorar
Ou rir...
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segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Olho para ele, meu cão...
Olho para o meu cachorro que nada diz e entendo perfeitamente a nossa diferença. Ele é um bicho livre, depois de nascer não precisou de alguns poucos dias para se desgarrar da mãe. Ele, o cão, não é filiado a nenhum partido político, não tem ideias a defender, religião nenhuma passa na sua cabeça, quiçá tem a obrigação de batalhar alguma identidade ou se virar através de linguagens convencionadas e previamente cifradas. Ele, o meu invejável cão, também carrega consigo uma outra deslumbrante qualidade: não deseja outro mundo senão esse, não acredita em melhorar nada do que já existe, tudo o que há para se cheirar com o seu focinho lhe é mais do que suficiente para viver feliz. O cão é sem dúvida um bicho do seu tempo, dono e patrão do seu direito de existir sem que seja preciso reivindicar nada. Já eu, alçado ao último grau da escala da razão pensante, sou o inverso de tudo isso... para afirmar minha liberdade sou obrigado a virar prisioneiro de tudo o quanto é necessário para viver reafirmando: sou livre, ou desejo sê-lo, e assim viro escravo, continuamente agrilhoado aos meus pares, cada qual inventando novos jeitos de serem livres sem se darem conta de que são tudo o que pensam... menos livres de fato. Há em mim uma profunda inveja do meu cachorro, que ao evitar as questões metafísicas vive sem cerimônias outras. A derrocada do homem começou na Grécia, quando algum barbudo miserável resolveu inventar abstrações... de lá para cá, infelizmente, só estamos aumentando a velocidade com a qual corremos atrás do próprio rabo. (salvo os povos do oriente - que sempre foram infinitamente mais sábios que nós -, a vida como a conhecemos é uma coleção infindável de equívocos patéticos).
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quarta-feira, 2 de outubro de 2013
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Vivo sempre numa contradição
Se existo, é junto aos outros
E quando neles me vejo, fujo
De volta a solidão...
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Se existo, é junto aos outros
E quando neles me vejo, fujo
De volta a solidão...
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Haverá de ser o que há de ser
Por isso me ausento
Se eu próprio não sei o que sou
Absurdo seria eu se ao mundo dissesse, em seu movimento:
Para a direita, para a esquerda!
Eu não, descreio!
Viver para descrer, esse é o meu andamento
Na roda da vida
Antes ficar parado, ou pedir para descer...
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Por isso me ausento
Se eu próprio não sei o que sou
Absurdo seria eu se ao mundo dissesse, em seu movimento:
Para a direita, para a esquerda!
Eu não, descreio!
Viver para descrer, esse é o meu andamento
Na roda da vida
Antes ficar parado, ou pedir para descer...
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