sábado, 26 de dezembro de 2015

Pequena Ladainha para um eterno agradecimento sem fim e cuja razão de o ser paira na falta absoluta de qualquer aparente razão...



Meus parabéns, senhor Correia! Ora, senhor Prado, recebo os seus cumprimetos e já os repasso ao senhor Moraes, que sem a participação decisiva do senhor Silva não estaria eu, agora, nem perto de alcançar tamanha gratificação. Parabéns, senhor Silva! Uma honra receber tão calorosa manifestação de afeto, meus senhores, afinal, o que somos nós senão eternos espectadores do reconhecimento alheio? É aos senhores a quem delego todos esses aplausos e cujo merecimento, sabemos nós, é mais do que evidente. Parabéns! Meus parabéns a você! Eu que o diga! Ora veja! Não seja tão humilde! Um momento, senhores! Penso que seria justo dedicar um tempo a alguns breves testemunhos de cada um aqui presente, caso os senhores não venham a se opor, evidentemente, que pudessem tornar público e norótio, enfim, a alegria que brota dentro dos nossos corações nesse exato momento de profunda alegria. Concordo! Apoiado! É uma ótima ideia. Por que não começamos com o senhor Gomes? Humildemente passo a palavra ao senhor Oliveira. Adoraria aceitar mas acho que por razões óbvias o senhor Vilas-Boas deveria ser o primeiro. Longe de roubar a vez do senhor De Marchi. Criminosos seríamos todos nós, senhores, se atecipássemos o verbo ao do senhor Araújo. Senhores, caso ninguém venha a se opor, evidentemente, eu tomarei a iniciativa desse nosso pequeno circunlóquio festivo. Queiram sentar-se por favor. Verba Gratidaum infinitum latejas quid coracao baetere.



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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Escondo em mim uns duzentos de mim
Não porque o queira escondê-los
Mas porque é preciso que algum deles escape e diga ao mundo:
Prazer, este sou eu

Sou isso:
Uma recusa de tantos outros
Em dizer
Quem sou

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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Quando falo de mim, falo de um eu idealizado
Um que não sou eu, e que - com um pouco de imaginação -, sou eu também 
Ou invento que sou
Uma vez que me é impossível saber quem sou eu por inteiro
Encontro-me comigo mesmo numa imagem maior
Fingindo sumir-me dessa minúscula escala de tamanho da qual sou eterno hóspede 
E refém


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domingo, 4 de outubro de 2015

Gosto mais de aeroporto do que de viajar de avião
O instante antes de a cortina abrir é o que vale o preço do ingresso no teatro
A véspera sempre anima-me mais do que o fatídico dia
Pertenço a esse lugar de promessas não cumpridas
A ante-sala de tudo
O breve silêncio da pausa que precede o primeiro acorde da sinfonia.
Sou feito de contagens regressivas que nunca acabam
Termino quando aconteço.


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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Por fora, mais um soldado raso
Por dentro, um comandante de um exército inteiro de solidão 

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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Fábulas: Engenhocas espetaculares - A Catapulta Gigante.

Recusados os meios tradicionais de busca e conquista da liberdade, um dado sujeito de inconformismos latentes, um sujeito desses sujeitos que não desistem nunca de ver a sua ideia fixa tornada ideia concreta, resolveu construir uma catapulta gigante que pudesse o catapultar para longe dos muros da cidade, os mesmos muros que aprisionavam quem dentro de seus domínios estivesse feito sardinha na lata, e, uma vez livre da cidade, liberto também estaria daqueles outros todos que adoravam tê-lo como sardinha, uma vez que é hábito das sardinhas andarem unidas e solidárias umas com as outras, condição que as torna pouco ou nada atentas para a consciência de que são elas irremediavelmente sardinhas de fato e não lambaris, e que, curiosamente, desconhecem também as fronteiras da lata que as fazem sardinhas unidas, lata que só é lata porque é preciso haver sardinhas para trancafiá-las. Enfim, catapultado para longe, morreu espatifado bem no centro do muro, o mesmo muro do qual teimava em ver-se livre, e, se é correto dizer que neste mundo não alcançou o que queria, mistério obsequioso é esse o de conjecturar se lá, do outro lado, do lado desconhecido onde tantos cardumes já foram e não voltaram, conseguiu, finalmente, ultrapassar a qualidade de sardinha enlatada para, ufa!, a de lambari ligeiro...


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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Plantão de Notícias: # O Tombo do Limpador de Janelas...

O limpador de janelas acaba de despencar do vigésimo sétimo andar do prédio de vidros espelhados da avenida principal depois de haver testemunhado pelo lado de fora da janela e pendurado em seu andaime sustentado por cordas de aço o executivo-chefe da empresa do prédio de vidros espelhados da avenida principal esganar com as duas mãos um homem que mais tarde provou-se ser o outro limpador de janelas que na véspera havia flagrado o mesmo executivo-chefe esganando um outro homem que até então não se sabe quem é e por quais motivos mereceu o destino que ambos os limpadores de janela do prédio de vidros espelhados da avenida principal couberam ter e cada qual em situações bastante similares excetuando o fato de que um deles, o último, encontrou no chão o passaporte que os outros dois homens ganharam das próprias mãos do executivo-chefe da empresa do prédio de vidros espelhados da avenida principal.


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