Escondo em mim uns duzentos de mim
Não porque o queira escondê-los
Mas porque é preciso que algum deles escape e diga ao mundo:
Prazer, este sou eu
Sou isso:
Uma recusa de tantos outros
Em dizer
Quem sou
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quinta-feira, 5 de novembro de 2015
terça-feira, 6 de outubro de 2015
Quando falo de mim, falo de um eu idealizado
Um que não sou eu, e que - com um pouco de imaginação -, sou eu também
Ou invento que sou
Uma vez que me é impossível saber quem sou eu por inteiro
Encontro-me comigo mesmo numa imagem maior
Fingindo sumir-me dessa minúscula escala de tamanho da qual sou eterno hóspede
E refém
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domingo, 4 de outubro de 2015
Gosto mais de aeroporto do que de viajar de avião
O instante antes de a cortina abrir é o que vale o preço do ingresso no teatro
A véspera sempre anima-me mais do que o fatídico dia
Pertenço a esse lugar de promessas não cumpridas
A ante-sala de tudo
O breve silêncio da pausa que precede o primeiro acorde da sinfonia.
Sou feito de contagens regressivas que nunca acabam
Termino quando aconteço.
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O instante antes de a cortina abrir é o que vale o preço do ingresso no teatro
A véspera sempre anima-me mais do que o fatídico dia
Pertenço a esse lugar de promessas não cumpridas
A ante-sala de tudo
O breve silêncio da pausa que precede o primeiro acorde da sinfonia.
Sou feito de contagens regressivas que nunca acabam
Termino quando aconteço.
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quinta-feira, 1 de outubro de 2015
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Fábulas: Engenhocas espetaculares - A Catapulta Gigante.
Recusados os meios tradicionais de busca e conquista da liberdade, um dado sujeito de inconformismos latentes, um sujeito desses sujeitos que não desistem nunca de ver a sua ideia fixa tornada ideia concreta, resolveu construir uma catapulta gigante que pudesse o catapultar para longe dos muros da cidade, os mesmos muros que aprisionavam quem dentro de seus domínios estivesse feito sardinha na lata, e, uma vez livre da cidade, liberto também estaria daqueles outros todos que adoravam tê-lo como sardinha, uma vez que é hábito das sardinhas andarem unidas e solidárias umas com as outras, condição que as torna pouco ou nada atentas para a consciência de que são elas irremediavelmente sardinhas de fato e não lambaris, e que, curiosamente, desconhecem também as fronteiras da lata que as fazem sardinhas unidas, lata que só é lata porque é preciso haver sardinhas para trancafiá-las. Enfim, catapultado para longe, morreu espatifado bem no centro do muro, o mesmo muro do qual teimava em ver-se livre, e, se é correto dizer que neste mundo não alcançou o que queria, mistério obsequioso é esse o de conjecturar se lá, do outro lado, do lado desconhecido onde tantos cardumes já foram e não voltaram, conseguiu, finalmente, ultrapassar a qualidade de sardinha enlatada para, ufa!, a de lambari ligeiro...
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quarta-feira, 16 de setembro de 2015
Plantão de Notícias: # O Tombo do Limpador de Janelas...
O limpador de janelas acaba de despencar do vigésimo sétimo andar do prédio de vidros espelhados da avenida principal depois de haver testemunhado pelo lado de fora da janela e pendurado em seu andaime sustentado por cordas de aço o executivo-chefe da empresa do prédio de vidros espelhados da avenida principal esganar com as duas mãos um homem que mais tarde provou-se ser o outro limpador de janelas que na véspera havia flagrado o mesmo executivo-chefe esganando um outro homem que até então não se sabe quem é e por quais motivos mereceu o destino que ambos os limpadores de janela do prédio de vidros espelhados da avenida principal couberam ter e cada qual em situações bastante similares excetuando o fato de que um deles, o último, encontrou no chão o passaporte que os outros dois homens ganharam das próprias mãos do executivo-chefe da empresa do prédio de vidros espelhados da avenida principal.
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domingo, 13 de setembro de 2015
Fábulas: # A honra revolucionária dos piolhos-pulguentos...
Era uma vez uma colônia de piolhos-pulguentos que viva num tranquilo lombo felpudo de um cachorrão igualmente tranquilo e felpudo por inteiro. Então, certa vez, um piolho-pulguento, cansado do mormaço interminável dos dias de marolas nada bravias, botou-se de pé nas suas pequenas e alquebradas patas serrilhadas de piolho-pulguento e disse aos outros companheiros de mamata: senhores! Façamos alguma coisa! Mordamos o bendito cachorro! E, acometidos pelo ânimo revolucionário do piolho-pulguento, todos os demais piolhos-pulguentos puseram-se imediatamente a abocanhar o lombo tranquilo e felpudo do cachorrão igualmente tranquilo e felpudo por inteiro. Numa primeira coçada, o cachorro deu conta de matar metade da colônia de piolhos-pulguentos, e, em meio as exéquias fúnebres que vieram na sequência, os piolhos-pulguentos sobreviventes evocaram a gloriosa lembrança daqueles outrora piolhos-pulguentos revolucionários, dispostos a dar a própria vida de piolho-pulguento para que outros piolhos-pulguentos pudessem, aquele dia, lembrar do quão corajosos a nobre raça dos piolhos-pulguentos podem dar conta de ser, caso queiram ser, evidentemente. E o exemplo deu tão certo que todas às vezes em que um cachorro tranquilo e felpudo abdica de sua canina tranquilidade para coçar o próprio lombo felpudo, não surpreendam-se!, trata-se de uma outrora tranquila colônia de piolhos-pulguentos em busca de alguma homenagem autocontemplativa...
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