quinta-feira, 3 de abril de 2014
Pontos Turísticos de Visita Obrigatória - # O púlpito dos premiados...
No púlpito dos premiados, lugar onde quem quer que nele galgasse premiava-se, havia um sem número de discursos prontos, todos eles entregues ao desejo do premiado de se fartar na iminência da premiação. Foi assim com João, que uma vez lá em cima, escorado no púlpito dos premiados, lançou mão da voz embargada e tomou para si os versos da timidez misturados com linhas tremelicantes de profunda reverência aos jurados que o premiavam. Foi aplaudido de pé, e depois dos aplausos, premiado. Cacilda e Joana subiram juntas ao púlpito dos premiados, e juntas – porque nunca se separavam – foram ambas premiadas, não sem antes entoar uma poesia meio cantada que misturava apelos políticos com nostalgia de um tempo que já se foi. Foram aplaudidas, ambas, e também ambas, premiadas. Havia também o falso modesto que na crença de nunca haver por chance ser premiado, premiado acabou sendo, escalando os degraus até o púlpito dos premiados com aquele ar fingido de eu jamais imaginaria uma coisa dessas para com a minha pessoa etc etc muito obrigado eu não sei nem o que dizer e blá blá blá. Aplausos. E depois dos aplausos, foi igualmente premiado. A verdade é que o púlpito dos premiados tinha por regra premiar, exceto aqueles que por alguma razão da natureza genética vieram a esse mundo com o nariz torcido para o lado, e não para qualquer lado, mas torcido para o lado esquerdo, coisa que conferia à imagem do infeliz aspirante a premiação um certo semblante blasé, característica imperdoável para qualquer um que almejasse algum dia subir ao púlpito dos premiados e depois de se servir da infinidade de discursos prontos ser, finalmente, aplaudido... e, depois de aplaudido, premiado. Pois foi esse o caso do senhor Roberval das Abastanças, todo ele empolado na curva condenatória e canhota da sua napa proeminente. Restou a ele aplaudir quem por merecimento, ou por sorte do destino, tivesse o nariz em ordem, ou até mesmo curvado, mas não curvado para o lado proibido.
...
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Não quero dizer nada
Nada tenho a dizer
Palavras minhas não significam
São palavras como as linhas são no mapa
No máximo fronteiras curvas e retas
Invisíveis aos olhos perscrutadores de sentido
Ainda assim atentas em fazer-te saber:
Agora estás aqui, um passo mais adiante e não respondo mais por ti...
Perguntaram-me se eu sabia o que dizia
Disse que digo
O quê
Já não é mais comigo
...
...
terça-feira, 1 de abril de 2014
A falha das pessoas está em não reconhecer o ridículo do teatro da vida
Mas não as condeno, de jeito nenhum!
É por conta desse desvio fundamental de caráter que eu posso me dar ao direito de ser ridículo
Não por obrigação
Mas por ofício!
Fosse ao contrário
Seria eu mais um personagem sem o saber
E já que tudo termina num patético cerrar das cortinas
Muito melhor do que acreditar na dor
É fingi-la
Sendo
Ator
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